Acordava, quando ainda era madrugada.
terça-feira, 31 de março de 2009
O Trem - Por : Socorro Moreira
Acordava, quando ainda era madrugada.
segunda-feira, 30 de março de 2009
E se eu te pegar , no sentido do além ? - Por : Socorro Moreira
Trazer-te pra dentro de mim?
Mostro o luminoso e o assombroso
Que a Pandora soltou, e nem vimos.
Ver é diferente de sentir
Vejo e te percebo...
Além do arcoiris.
E se eu te tocar em todas as tuas letras
E com elas compor, uma nova sinfonia ?
E, na hora “h”, descubrir no “g” do teu “x” ,
Que sou o “z” da tua vida?
" Vês "? Meu “cê” é teu ...
No silêncio das águas - Por Socorro Moreira
Acomodaram-se no silêncio domingueiro...
Fugiram do estresse de todas as feiras...
Guardou-se para os mares que não vêem.
Nos pequenos comas... Nada parece existir...
Com exceção dos próprios sonhos.
Quando desperto, procuro teus recados...
Uma palavra de mimo, um sorvete no verso...
Mas é tudo indefinido.
Silêncio de uma ponte quebrada é quase mortal...
É um Deus nos acuda... É o que será que será...
É medo do recomeço, sem a estrela principal.
Estou voltando aos poucos
Arqueando as sobrancelhas de novo
Buscando pequenos sinais...
Um pequeno fogo, que aqueça o alimento.
Estou no caminho da fumaça...
E chego assim, naquela casa:
Toc, toc, toc... Tem gente?
A porta range...
A surpresa explode o abraço...
Encontro!
No amor, resgato meu veio...
De águas tépidas e claras!
sexta-feira, 27 de março de 2009
Grávida do amor- Por Socorro Moreira
"Igual estas manhãs em busca de Abril
quando as paineiras se abrem em flores rosa,
um rosa claro quase solferino,
quase todas as folhas desaparecem,
toda planta se encontra grávida,
sem a mesmice da fotosíntese,
eis o momento dela ser outras,
tantas paineiras que o relevo,
se torne a cor de suas flores."
(José do Vale Pinheiro Feitosa)
Grávida do Amor - Por Socorro Moreira
Busco o irrefreado
Que a santa lógica
Impede-me de sentir ...
Sinto esta ausência,
dispensada, adiada,
que busquei preencher,
e ainda busco ...
Dentro , e fora de mim.
Por um instante eu a tenho ...
Por um segundo , a perdi !
Mas eu persigo essa fera,
pois ela habita em mim.
Renasço com a primavera...
Abril ... Tantos maios já vivi ...
Quero as estrelas de junho ...
No balão do tempo infindo.
Águas na minha terra abrem vales ...
Do céu elas caem , se infiltram
Fertilizando sementes
crescentes e atrofiadas ...
"Heavean" ...
Rosa, cigano, tudo rosa ...
"Estão voltando as flores ..."
Sinta esse perfume ...Noite !
quarta-feira, 25 de março de 2009
"Spanish Guitar " - Por Socorro Moreira
Às vezes ela incorpora em mim: doce e ardente Ayloã.
Uma delas foi em Friburgo (RJ), numa festa cigana, ao som dos Gypsy Kings.
Minha saia de retalhos, seda, coloridos, rodou a cigana. Rodou seu colo, cabelos, pernas, ventre e braços. Rodou seus olhos e pescoço... Calou sua boca, e deixou seu coração entregar-se.
Alma cigana, por que me abandonastes? Evoluístes, e estás a tocar harpa com um bando de anjinhos?
Mas ontem voltastes. Descalça, e na ponta dos pés... Despida de todos os véus.. Teus olhos encandeados pela luz da paixão, dançaram, ao som dos ritmos ciganos. Chegou numa completude deslumbrante de Carmen (Rita Hayworth), Mata Hari e Isadora Duncan.
Depois foi acalmada pela música de Astor Piazzolla... Billie Holiday e Louis Armstrong... E a vida ficou cor-de-rosa. Hora de levitar... De fugir, de voar... De encostar a cabeça no travesseiro... Pensar, relaxar, e sonhar.
Olho-me através do espelho... Não me vejo... Encontro teu olhar a procurar-me... Preso na nesga que entrega a minha chegada.
Meu corpo é teu... Meus movimentos ensaiam a linguagem do amor... Neles, te prendo... E num enlace de um bolero, colamos nossos sentimentos e gestos... E a música nos carrega para um sonho de amor.
Era madrugada, ainda na mira da aurora boreal ... Fechei os olhos e senti a mágica que a vida faz, quando nos vulnerabilizamos aos encontros de almas... Nem precisa chamar, nem sequer desejar... Se estivermos na freqüência mais alta, na mais sutil das energias, a outra chega, e invade a nossa madrugada!
Estou solta... Renasci!
What A Difference A Day Makes
Renée Olstead
What a difference a day makes
segunda-feira, 23 de março de 2009
Coqueiro Velho - Por: Socorro Moreira
Hoje eu vi... Sem poda, sem vida nova.
Lembrei a canção que o Orlando e o Nelson gravaram. Uni-me ao compositor, e percebi a dor das folhas secas, abatidas pelo vento, envergadas por falta de viço e de vida.
Apenas lá... Ainda lá, esperando ser cortadas.
É como uma rosa seca, escondida nos livros do passado. .. Perdeu o cheiro, mas sabe contar histórias.
É como amores fenecidos, ainda misturados , a tantas coisas vivas.
Amores findos merecem o respeito de ser reintegrados ao útero de uma terra viva.
Que tudo se transforme em pó: as velhas palmeiras, pessoas, coisas... Que possam estrumar novos sentimentos, recriar-se!
Doeram-me aquelas palmas acanhadas e secas, sem o carinho e a dança do vento. Combinam com o final do dia, entre a rosa e a grafite.
A natureza na ausência do sol enluta-se... A lua, eterna viúva, numa fase de alegria, chega com o seu bando... Bando que pisca , faísca, e assumem seus postos, na festa da boemia.
Choram as flores, seus orvalhos... Nuvens também se dispersam ou se condensam, quando finda o dia.
O tempo esfria. Troco meu costume, e na flanela me aconchego, como num corpo do amante.
Hoje é dia de São José. A procissão de velas não se apaga na chuva... Nem a fé cristã!
Corpos secos, roupas brancas, marfim... Como os velhos coqueiros, que agora vejo... Vestidos no terreiro, com a roupa do fim!
Por Socorro Moreira
Crato(ce0, 20 de março de 2009.
domingo, 22 de março de 2009
Janela da serra -Por Socorro Moreira
Noite de chuva. Estou perto dos coqueiros e das carnaúbas. Chove no telhado, sinfonia divina!Clarões esclarecendo, e iluminando um momento mágico. Sinto medo, destarte!
Lembro a minha mãe. Ela falava-me das tempestades e trovoadas, na fazenda do Seu pai, nas brenhas do Piauí.
Árvores altas atraem raios, dizia-me! E eu aconchegava-me naquele colo, me enredava nos lençóis com cheiro de alfazema misturado com xixi.
Rezávamos no mental para o nosso anjo de guarda.... Oração que aprendêramos no primeiro balbuciar de palavras.
Minha avó acendia velas e candeeiros, murmurava o rosário da Conceição, e cobria com panos de seda, os espelhos da casa. Eu perguntava-lhe de forma velada, mas corajosa:
As torres da Igreja teem pára-raios?
Mas, e no mato ?
Quem protege o caipira de morrer esturricado?
-Quem morre assim, morre pretim... Só a alma fica branca !
Volto para o dia de hoje.
Chove, e o medo foi embora.
Só tenho medo das loucuras que o meu coração sente, mas sei controlá-las , mesmo remotamente.
A paixão é cega, e descabela.
Deixa carecas, homens e mulheres.
O enamoramento é alfa, beta, Romeo...
Eu sei que és vivo. Isso me deixa perto.
Eu sei que és lotado. Isso me deixa calma.
Boto um sorriso bem vestido, e penduro nos meus lábios...
Nada falso!
Sorriso de gente apaixonado é enrubescido da melhor de todas as verdades, mesmo com fórum de ilusão.
A chuva agora é mansa. Estou terna de noite linda. Estou cheia de amor bem-estar.
E a natureza celebra comigo, a vida!
Na madrugada estarei em teus sonhos. Por favor, durma logo... Quero entrar sem barulho , pela janela da serra.
Voando como um colibri voa, e pousa, cobrando a pira do enlace.
Quando se fartam , trazem no bico o mel da flor ; trazem nas penas o cheiro do amor.
Cheiro de mato , malva, alecrim...
Preciso incensar a vida ...
O amor sempre chega, nas horas mais imprevistas!
Espero você, nas abertas janelas da serra.
Cria Minha - Novo Cd de Pachelly Jamacaru- Por: Socorro Moreira
Músicas que compõem um CD são telas prontas de sentimentos, querendo preferências, escolhas, encontros... A galeria que o Pachelly apresenta...É arte, em partes!
Adotei de cara, “Nuvens de Algodão” ( Pachelly e Carlos Nóbrega).
Nuvens quentes
com sementes...
Pesadas intenções .
Meu sonho acordado,
Tocado por tuas mãos .
Meu amor é de miçanga ,
de fantasia, latão...
Só quer ser na tua vida,
uma nuvem de algodão!
Escolhi “Xotezazeando” ( Pachelly e Edésio Batista) para dançar pelos caminhos, corredores, e salões...
”A Manga” ( Pachelly e Everardo Norões) é a canção do meu gosto. Tem a insulina da vida. Fala nos jardins - pomares, e quase descamba para uma ciranda, na Ilha .
“ Paralelas” – ( Pachelly e Dandinha Vilar )
Amores que não se encontram, nem se perdem. Como uns dos nossos.
Dandinha Vilar sabe mesmo fazer poesia. Sua obra aflora como rosa, como prosa... Ela é cria do Lameiro. Seriguela madura. Poesia na boca da gente...
“A Verdade e a Mentira” (Pachelly e Patativa do Assaré) ... Filosofia dualística!
A verdade é frutiqueira, perseguidora, prepotente, e às vezes invisível...
Enquanto tudo fica quente, a verdade fica fria.
“O sermão” (Pachelly e Zé Flávio ) do Vieira.
Milton também o cantaria
Dom Hélder o rezaria
E a gente, depois de ouvi-lo,
Convertido viveria.
Negociar com a morte...
Precisa provar,
que a vida é valiosa!
“Pedras de Rio”... (Pachelly Jamacaru)
Banhar o nu
Deixar o sujo, longe de lá.
Fascinam-me os rios profundos
Mas só encaro rios rasos...
Molho os pés, e salvo a alma!
“Outros Maios” (Pachelly e Abidoral Jamacaru)
Outros... Todos os meses
Outras festas de S.José
Outros Natais
Muitos encontros na Aurora
Se agora não é hora ...
Amanhã nunca será !
“Sinais Sutis” -(Pachelly Jamacaru)
Melodia deliciosa!
Sinais são alarmes...
Em se tratando de amor,
a gente atravessa no vermelho, e ama no verde!
Pachelly, nesta composição, veste-se de Cupido... Literalmente!
“Sagrado Coração” – (Pachelly Jamacaru)
Cantiga das caatingas.
Mato brejeiro... Seu cheiro é menina!
Lampejos de amor, no terreiro...
“O Diário” – (Pachelly Jamacaru)
“Publique Baby, o diário desse amor...”.
O mal amado por si, não tem a compreensão amorosa.
Lutemos por uma guerra justa: O ser feliz com amor!
“Anjo errante” –( Pachelly e João Nicodemos)
Uau!
Um Rap, um Blue...
O moderno tirando do passado,
“O índico blue”.
Anjo errante... Protótipo de toda gente.
É o encontrar-se no futuro!
“A Mocidade” – (Pachelly e Abidoral Jamacaru)
Tudo... Pouco tempo tem
O pensar... Muito tempo fica
O amor... Em todo tempo há!
“Limite” – (Pachelly e Luiz carlos Salatiel)
Vestiu roupa nova, e ficou deslumbrante!
O Tempo foi deixando Pachelly mais belo!
Viajei, no piano do Dihelson... Vibrei com os arranjos, e o belíssimo desempenho de todos os músicos : Dihelson , João Neto , Demontier , Saul Brito , Di Freitas , Hugo Linard , Jairo Starkei ,Aminadab ... Todos feras !
Vou escutá-lo outras vezes. Vou ouvi-lo sempre:
“Cria Minha ” - Parabéns, Pachelly Jamacaru !
Amores Clandestinos, na sessão das 4, no Cine Cassino - Por:Socorro Moreira
O filme “Amores Clandestinos” bombeou, nos anos 60. Vinha bem a calhar, dentro do contexto da época.
Depois de comprar o ingresso, passar pelo porteiro, delegado de menor, entrava na penumbra da sala, e esperávamos o apagado de todas as luzes.
O único que conhecia todos os segredos ocultos era o Lanterninha. Focava cadeiras vazias, e focava por “descuido” aquelas ocupadas pelos casais, justo, os que fugiam da luz... Dos olhos da família, do preconceito social, e da própria timidez.
Tinham naturezas diversas, posto o dito: amores impossíveis, amores nascentes e crescentes...Amores dos amasses ( puro cheiro, puro sarro)...Amores tímidos, ingênuos e trêmulos ; amores despudorados, explícitos na “safadeza” do poder hormonal...Todos eram instigados , pela cumplicidade de um escuro técnico .
Muitas “pernas gordinhas”, (como a canção do Tiago Araripe), molhadas, sedosas, balançavam pés nervosos. Beijos de língua, de pescoço, de outras partes, outros pedaços do corpo... Como mãos, e bochecha do rosto!
Enlevada no enredo do filme, desligava-me da terra. , mas perdia meu olhar, muitas vezes, na doce tensão da espera.
Um dia, ele chegou, e sentou-se numa fila adiante de mim. Encostou sua cabeça numa peruca canecalon, loura com a da Marilyn... Meus olhos desviados da tela ficaram lá, pregados e chorosos, naquele bandô total, que recebia afagos, e abraços.
Quando a fita anunciou o “THE END”, sorrateiramente mudei de lugar, e aproximei-me mais um pouquinho, pra descobrir na saída, se era azul, os olhos daquela diva.. O moço correu apressado, antes do acender das luzes. Enfim tudo claro! Eram dois olhos morenos. Olhos conhecidos, subservientes, corajosos e apaixonados....
Covarde, o meu gato!
Estava lá, a musa de tantos brotos!
Era assim, o cotidiano do maior entretenimento da City.... Divertia, aproximava, e escondia. Transportava os nossos sonhos para o glamour hollydiano. Se não existisse a censura do Bispo, colada no mural do Café Crato, acho que não teria perdido nenhum drama escandaloso, que o cinema ensinava. Mas eu estava lá... Em todos de Marisol. Joselito, Shirley Temple, Walt Disney...
Nunca, em “Amores Clandestinos” – (clássico com Sandra Dee e Troy Donahue – trilha sonora - Summer Place... Linda!!!).
Namorei sem pegar na mão... Só no roçar dos braços. Mas não nego a presença do tesão, nas orelhas afogueadas. Namorei com cochichos no pé do ouvido. Com mordidas no pescoço, e balas pepper, zorro, ou anis.
Namorei com os meus ídolos... Puros, românticos, sofredores, heróicos, belos, e gentis.
No Cinema não faltava:
Assovios
Suspiros
Gemidos
Choros... Alguns até convulsivos. (Chorei assim, no filme Irmão Sol e Irmã Lua, e até na Paixão de Cristo).
A vida se harmonizava na sala de projeção.
Tempos sem analistas, psiquiatras...
Tempos de sessão de risos com Jerry Levis, Cantinflas, o Gordo e O Magro, e Zé Trindade.
O Cassino de hoje é um campo de energia obscura. Ficou apenas o escurinho do cinema, na beleza deteriorada.
Perdemos a cortina grená. O lanterna iluminando a paixão dos casais...
Foram-se o misturado dos perfumes, o mascarem dos chicletes Adams, o estouro das bolas do ping pong, na falta do beijo amado.
Era bom, até cochilar de viver, naquele ninho!
Nada mais excitante, aventureiro e libidinoso, do que um encontro clandestino, na sessão das 4, no Cine Cassino.
O Lanterninha que ressuscite essa “Cratíadas”, como já fez Zé do Vale, noutro contexto.
Adivinhem quem somos ! - Por Socorro Moreira
Adivinhem quem somos !
Porque é domingo, viajei no cinema antigo... Revi rostos nunca esquecidos, lembrei enredos, guardados na memória.
Fui cinéfila desde criança. Aliás, todos da minha geração, assistíamos tudo que chegava de estréia, nos cinemas do Crato. Meu pai, manualmente, fazia os famosos cartazes, em quadro-negro, faixas, cartolina e nanquim.. Pra completar, colecionava Cinelândia, que acabavam folheadas pelas crianças. Todos os filmes que não consegui assistir naquela época, eu os cato, hoje, um por um.
A Flor que não morreu com Audrey Hepburn
O Bebê de Rosemary com Mia Farrow
Até o último alento com Natalie Wood
A Noviça Rebelde com Julie Andrews
Doutor Jivago com Julie Christie
Confidências à meia noite com Doris Day
Um anjo sobre a terra com Romy Schneider
Casablanca com Ingrid Bergman
Melodia Imortal com Kim Novak
Um raio de luz com Marisol
A Malvada com Bette Davis
Gigi com Leslie Caron
Gilda com Rita Haworth
A Felicidade não se compra com Elizabeth Taylor
Os Girassóis da Rússia com Sofia Loren
Um Homem e uma Mulher com Anouk Aimée
Irma la Douce com Shirley MacLaine
A Condessa Descalça com Ava Gardner
Safári na África com Capucine
Trapézio com Gina Lollobrígida
Dívida de Sangue com Jane Fonda
Uma mulher nota dez teria na época, os olhos de Liz; o talento de Jeanne Moreau; o pescoço de Audrey Hepburm; o charme de Anouk Aimée, a sensualidade de Brigitte Bardot; a boca de Shirley Maclaine; a voz de Doris Day, a boca de Candice Bergman: o sorriso de Romy Schneider e as pernas de Leslie Caron., ou senão, a beleza perfeita da Ava Gardner !
Todas eram divas, estrelas, e a gente colecionavam fotos, num álbum de figurinhas:
Virna Lisi, Mônica Vitti, Catherine Deneuve, Ingrid, Bergman, Vivien Leigh, Janete Leigh, Rita Haworth, Katherine Hepburn, Melina Mercury, Anne Brancroft, Sandra Dee, Débora Kerr, Silvana Mangano, Marilyn Monroe, Liza Minnelli, Anita Ekberg ,Sarita Montiel , Joan Crawford, Florence Marly, Debbie Reynolds, Marlene Dietrich , Simone Signoret, e muitas outras!
Aurora Boreal - Por :Socorro Moreira
Noite úmida. Moita empestada de insetos. Flora verde. Cheiro de mato, terra molhada, copas, paus, espada de ouros... Excalibur!
Cansada das redes. Caindo no seco, e arranhando o corpo de ócio. Espremendo do cérebro o suco das lembranças, e comendo nas beiradas, o presente. Vivendo e revivendo na ponta do lápis. Tudo com muita preguiça: o molho e a massa. Natural e vicioso: coca, café e cigarro. Estou na borda do poço. No fundo do poço é o passado?
Ou o coquetel de todos os tempos?
Futuro é água das nuvens É chuva criada no mar... Alga, alfa!
Sereias aposentadas cantam de lá para cá. E eu escuto nos meus laços, avisos de Iemanjá!
Chego ao terreiro e olho para o céu, todo ponteado de estrelas. Manchinhas luminosas, chuviscosas, num azul fechado, e ao mesmo tempo enluarado. O ar é frio. Pessoas ao longe, pessoas de longe... Meu pensamento e vistas alcançam. Escuto Nana, acompanhada por Wagner Tiso. Quem conhece os dois, pode adivinhar meu estado de espírito: jazista, patético, e essencialmente nostálgico.
Na Vila Alta, alguém toca nesse instante, uma sonata para os pirilampos; meu doutor escritor, pertinho daqui, escreve mais um causo, acontecido em Matozinho, e sorve um chá, como aperitivo; a mulher Morgana, da serra e do pequizeiro, sorri e constrói mais um poema, pingando sensibilidade, em espumas de prata.
Meu poeta domingueiro envia-me por e-mails telepáticos, um engraçado recado:
- Hei mulher
Que fauna te ronda?
Preciso urgente de uma lagartixa sonâmbula
Pra vigiar meu luar,
Que teima em sair daqui...
Os historiadores irmãos, escutam e lêem jornal, e pensam na vida, como bons filósofos... São quase humanos!
Alguém desenha o seu mais novo poema, com temperos de sálvia.
Outro amigo fotografa o amor - a sempre estrela da noite. Mas ele é sideral, é expert em aproveitar as luzes do Universo, com toda propriedade.
O povo do S.José, e do Sanharol, sorri sensatamente dos seus, e dos nossos “causos”...
São casados e abençoados. Felicidade generosa, repassada à humanidade!
Alguns amigos leitores, anônimos, questionaram o silêncio dos meus escritos por esses dias...
Estavam em retiro... Respondo...Tentando melhorar a alma.
Alguém anda devagar pela casa... Enquanto a ferida cicatriza. Só dói quando a gente ri... Diz a mentira!
E o nosso Baudelaire?
Rio ou Paracuru, ou numa incursão imaginária, sobre a chapada da sua infância?
Quem sabe, escutando La Vie em Rose, interpretada pela Calíope, que agora é Mimi.
Moços das águas doces e salgadas... Pra vocês entrego meu kit de carinho:
Abraço, beijo, e olhar!
Sem mais, assino iluminada por lampiões de saudades.
Socorro Moreira
PS
De quebra uma receita testada com os recursos da roça, mas... Deliciosa!
Bacalhau Caipira
750 gramas de bacalhau desalgado e desfiado
1 coco madurado (ralado e espremido o leite, num paninho limpo).
2 tomates, 1 pimentão, pimenta de cheiro e malaguetas, cebola... (picados)
Cheiro verde a gosto
Azeite de oliva ou de coco babaçu
Umas colheradas de nata de leite.
Método
Depois de desfiado o bacalhau, e obtido o suco do coco, preparar o refogado.
Azeite quente, ingredientes picados... Deixar apurar. Afogar bacalhau, acrescentar o leite, a nata, deixar ferver, e absorver os temperos.
Servir com cuscuz no café da manhã; com arroz ou macarrão no almoço.
Fazer uma omelete das sobras, e servir no jantar com tapioca.
Passar 6 meses sem repetir o cardápio, até sentir saudades...
Bom apetite!
Por :Socorro Moreira
terça-feira, 17 de março de 2009
No Espelho do Tempo - Por: Socorro Moreira
Alguns me perguntam nas entrelinhas: por que você separou-se do marido, nos idos de 1975?Respondo sempre, com objetiva naturalidade: Gente, porque eu queria namorar todas as pessoas amáveis, e mulher casada só pode ter olhos para o seu marido... (e ainda hoje , penso isso).
- Tanto faz!
Depois foi ficando pô... Até ficar , só no “p” da vida...
Meu nome é Dora, e a partir de agora, eu tenho apenas 23 aninhos !
segunda-feira, 16 de março de 2009
Surrealismo - Por Socorro Moreira
Depois daquela dor
Não brotou nova dor
Parece brincadeira de mau gosto
Toda mágoa de amor...
O amor quando descobre a nossa fortaleza, mendiga atenção... Vira pedinte de Igreja , toca viola , faz repente, carrega um fardo na mão...
Às vezes me pego contabilizando tristezas e alegrias... Uma conta sem precisão matemática... Teria que me apoderar da física, da química, e de todas as artes e ciências... Incluindo as esotéricas...
Alegria sincera, não tem explicação.
É sorvete na mão da menina... É bola no pé do guri... É cajá no Rio de Janeiro...
É pequi, no meu norte brasileiro.
É chuva no pé de mandacaru, e uma florzinha de lá, brotando fagueira.
Ficou no tempo nublado, das calçadas molhadas, e ensombradas pelas acácias.
Estou indo ao Rio
Estou chegando a Fortaleza
Estou de passagem pelo Granjeiro...
E ainda espio as Guaribas.
Estou em paus,
E com todos os outros naipes...
Procuro a sorte,
e guardo na manga um ás, e uns ais...
As malas soltas das poeiras pedem-me um pó de um lugar qualquer...
Nem que seja do passado... Friburgo ou Macaé.
Dora morreu... Sofreu uma paulada de sonhos,, e fugiu com o aviador da saudade. Telefonaram do Amazonas... Estão iludidos com as garças e encantados com as vitórias-régias... Estão aquáticos!
Iara ficou muda e cega...
Nem gelada, nem quente... Um chá constante!
Um anti-gripante!
Desistiu de gente...
Lua ,
com a chuva ficou tênue
Não ofusca a visão
Não embaça nossas lentes
É latente
É pra depois do futuro
Lírica lis
Flor-de-lis...
Diz-me?
Cadê Zé, Maria e João?
Entre tintos e tintas ... Um brinde ! - Por : Socorro Moreira
Vem...
Aceito o desafio .
É gente de Paris ?
Vamos brindar com drambuie...
Vamos nos lombrar , nos tintos e carmins ...
Vamos aqui ... Vamos ali...
Vamos fugir de um dia,
e sair poetando ,
como criança ou gente grande,
nos quintais dos nossos sonhos.
domingo, 15 de março de 2009
Cidade cortada de pontes...Rios emendando sonhos .... POR: Socorro Moreira
Cidade cortada de pontes... Rios emendando sonhos....
Os dias da Infância são corridos, e as noites custam um sono profundo. Os tempos nos transformam numa incandescente festa... De repente, nascem seios, nascem pelos, e já ficamos a contar estrelas... A vê-las, significativamente.
Depois é a lua, onde nos miramos... É no sol que nos achamos... Achamos cor, energia, e até o amor. Fogo solar... Queima, mas não esconde o poder da musa... Queima, queixa, e deixa. Acho que o tempo inesquecível tem que ser dito... Sim!
Semana passada estive no Recife. Pensei chegar, e ficar... Foi mais curto do que desejei... Mas valeu!
Deixei um pedaço de mim naquele lugar. Nunca voltei pra buscar... Era um pedaço bonito... E o Recife bem que o merecia; era um pedaço tristonho... Entreguei-o às águas dos rios... Transmutaram-se... Ficou um sonho... Um tempo que nem chega a ser passado... Ficou um conto!Nem de fadas, nem de Esopo, nem de Machado, nem de Clarice... Ficou um conto Mariana... Que fala de amigos!
Recife (PE), 1975.
Rodoviária, no Bairro S.José.
Salta uma mulher de uns 23 anos. De malas e cuias, e 3 filhos nas mãos. Perece mais, cena de novela mexicana. Vontade de viver, e um emprego debaixo do braço... Será fácil?
"Viver não é fácil não... Pergunte ao meu coração...”
Encontrou conhecidos, e por tabela, outros conhecidos achou... Combinou um encontro... Naquela tarde, e naquela noite... Ainda!
Driver do Derby... (Um brinde ao momento: gim-tônica, calandre, alerte limão, halls, “Only Yesterday” -The Carpenters ... Sons, cheiros... Tudo mágico... Refrescante e encantante... Noite com olhares, sorrisos reticentes, beijos... Quase soltos ,quase loucos, quase dados de mãos beijadas. Era um início... E um fim) !
Vida de turista... Uma semana, uns meses, uns anos... E depois de todos os anos, lembranças doces, amenas.
Talude, Beer House, sorvete no Free Sabor ou Z’ecas , Casa D’Itália, Suape, Maria Farinha, Zoológico, Agulha frita no Samburá de Olinda... Comida Chinesa em B. Viagem... Água de coco, na Piedade.
Vejo o Paço da Alfândega, a Rua da Aurora, onde existia o Buraco de Otília... Vejo a Real da Torre, onde dormi maquiada , de salto alto ,meias de seda, esperando a buzina de um carro...
Sexta era dia de matar a saudade; sábado , programa gustativo...domingo era dia de mar...E mar era o seu olhar.Mar caribenho ... Azul-piscina!Barba perfumada, e inconfundivelmente, bem tratada. Tinha charme, dizia as coisas no tom mais baixo, e sensual... Momentos de contenção do desejo; momentos de explosão do encanto... Momentos de pura e clara amizade... Momentos de desencontros, e desvios do interesse.
Com aquela criatura aprendi novas perguntas, e novas respostas... Aprendi a passar tempo, nas minhas Recreativas. Éramos amigos!
Passaram-se 30 anos.
Você é a minha saudade feliz!
Recife...
Acho o amor em cada rio.
Acho o rio, em seu mar ...
Acho o Fantástico , que me doía...
Acho a toca, onde a gente se encontra...
Uma toca oca...
Bombeada por um sentimento único...
Que o tempo respeita...
Não gasta, nem subtrai...
É sempre novo!
P.S.Vamos nos reencontrar , sexta-feira da Paixão ?
quinta-feira, 12 de março de 2009
Inauguração do Carrefour- Por Socorro Moreira - Foto Dihelson Mendonça
Corri. Nunca vira .Nunca chegara, mas chegou!
Carrefour!
Tudo mega. Tudo muito. Tudo por menos um pouco...
Entrei, e enchi o carro de pequenas coisas.
Tomates secos... Adoro! Nem verdes, nem fritos. E a fila? E aquele povo, comprando pra descartar... Comprando pra ser feliz! Alegria , alegria... Manjar do céu, caindo em cada carro... Comprado!Todo mundo parecia recém-casados, fazendo a primeira feira de uma nova vida. Tudo um pouco mais, por um pouco menos... Bacalhau, camarão, e uns potes de geléia, palmito, figos... Pronto, e era só o que me faltava... Aquela fila!
E os meus saltos, meu cansaço?
Um moço de olhos verdes comprara seu churrasco. Carne vermelha... Muita carne! Bermuda cansada. Cabelos ralos, grisalhos.
Deixei lá. Deixei tudo ao Deus dará. Voltei sem o chocolate do Victor. O vinho e o peixe podem esperar mais uns dias. Minha indocilidade não espera nem mais que um minuto... Deixei tudo!
Minha amiga Claude, sorria. Ria com paciência... Levou a sério o momento. Empurrou o carro, no engarrafamento geral. Escolheu com cuidado as cores e os cheiros, de alguns produtos... Mas pra que?
Voltaremos outro dia, calçadas em chinelos japonês, prontas pra encarar outra fila !