domingo, 22 de março de 2009

Janela da serra -Por Socorro Moreira








Noite de chuva. Estou perto dos coqueiros e das carnaúbas. Chove no telhado, sinfonia divina!Clarões esclarecendo, e iluminando um momento mágico. Sinto medo, destarte!
Lembro a minha mãe. Ela falava-me das tempestades e trovoadas, na fazenda do Seu pai, nas brenhas do Piauí.
Árvores altas atraem raios, dizia-me! E eu aconchegava-me naquele colo, me enredava nos lençóis com cheiro de alfazema misturado com xixi.
Rezávamos no mental para o nosso anjo de guarda.... Oração que aprendêramos no primeiro balbuciar de palavras.
Minha avó acendia velas e candeeiros, murmurava o rosário da Conceição, e cobria com panos de seda, os espelhos da casa. Eu perguntava-lhe de forma velada, mas corajosa:
As torres da Igreja teem pára-raios?
Mas, e no mato ?
Quem protege o caipira de morrer esturricado?
-Quem morre assim, morre pretim... Só a alma fica branca !

Volto para o dia de hoje.
Chove, e o medo foi embora.
Só tenho medo das loucuras que o meu coração sente, mas sei controlá-las , mesmo remotamente.
A paixão é cega, e descabela.
Deixa carecas, homens e mulheres.
O enamoramento é alfa, beta, Romeo...

Eu sei que és vivo. Isso me deixa perto.
Eu sei que és lotado. Isso me deixa calma.
Boto um sorriso bem vestido, e penduro nos meus lábios...
Nada falso!
Sorriso de gente apaixonado é enrubescido da melhor de todas as verdades, mesmo com fórum de ilusão.

A chuva agora é mansa. Estou terna de noite linda. Estou cheia de amor bem-estar.
E a natureza celebra comigo, a vida!
Na madrugada estarei em teus sonhos. Por favor, durma logo... Quero entrar sem barulho , pela janela da serra.
Voando como um colibri voa, e pousa, cobrando a pira do enlace.
Quando se fartam , trazem no bico o mel da flor ; trazem nas penas o cheiro do amor.
Cheiro de mato , malva, alecrim...

Preciso incensar a vida ...
O amor sempre chega, nas horas mais imprevistas!
Espero você, nas abertas janelas da serra.

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