domingo, 22 de março de 2009

Aurora Boreal - Por :Socorro Moreira



Noite úmida. Moita empestada de insetos. Flora verde. Cheiro de mato, terra molhada, copas, paus, espada de ouros... Excalibur!
Cansada das redes. Caindo no seco, e arranhando o corpo de ócio. Espremendo do cérebro o suco das lembranças, e comendo nas beiradas, o presente. Vivendo e revivendo na ponta do lápis. Tudo com muita preguiça: o molho e a massa. Natural e vicioso: coca, café e cigarro. Estou na borda do poço. No fundo do poço é o passado?
Ou o coquetel de todos os tempos?
Futuro é água das nuvens É chuva criada no mar... Alga, alfa!
Sereias aposentadas cantam de lá para cá. E eu escuto nos meus laços, avisos de Iemanjá!
Chego ao terreiro e olho para o céu, todo ponteado de estrelas. Manchinhas luminosas, chuviscosas, num azul fechado, e ao mesmo tempo enluarado. O ar é frio. Pessoas ao longe, pessoas de longe... Meu pensamento e vistas alcançam. Escuto Nana, acompanhada por Wagner Tiso. Quem conhece os dois, pode adivinhar meu estado de espírito: jazista, patético, e essencialmente nostálgico.
Na Vila Alta, alguém toca nesse instante, uma sonata para os pirilampos; meu doutor escritor, pertinho daqui, escreve mais um causo, acontecido em Matozinho, e sorve um chá, como aperitivo; a mulher Morgana, da serra e do pequizeiro, sorri e constrói mais um poema, pingando sensibilidade, em espumas de prata.
Meu poeta domingueiro envia-me por e-mails telepáticos, um engraçado recado:
- Hei mulher
Que fauna te ronda?
Preciso urgente de uma lagartixa sonâmbula
Pra vigiar meu luar,
Que teima em sair daqui...
Os historiadores irmãos, escutam e lêem jornal, e pensam na vida, como bons filósofos... São quase humanos!
Alguém desenha o seu mais novo poema, com temperos de sálvia.
Outro amigo fotografa o amor - a sempre estrela da noite. Mas ele é sideral, é expert em aproveitar as luzes do Universo, com toda propriedade.
O povo do S.José, e do Sanharol, sorri sensatamente dos seus, e dos nossos “causos”...
São casados e abençoados. Felicidade generosa, repassada à humanidade!
Alguns amigos leitores, anônimos, questionaram o silêncio dos meus escritos por esses dias...
Estavam em retiro... Respondo...Tentando melhorar a alma.
Alguém anda devagar pela casa... Enquanto a ferida cicatriza. Só dói quando a gente ri... Diz a mentira!
E o nosso Baudelaire?
Rio ou Paracuru, ou numa incursão imaginária, sobre a chapada da sua infância?
Quem sabe, escutando La Vie em Rose, interpretada pela Calíope, que agora é Mimi.

Moços das águas doces e salgadas... Pra vocês entrego meu kit de carinho:
Abraço, beijo, e olhar!
Sem mais, assino iluminada por lampiões de saudades.

Socorro Moreira

PS
De quebra uma receita testada com os recursos da roça, mas... Deliciosa!

Bacalhau Caipira

750 gramas de bacalhau desalgado e desfiado
1 coco madurado (ralado e espremido o leite, num paninho limpo).
2 tomates, 1 pimentão, pimenta de cheiro e malaguetas, cebola... (picados)
Cheiro verde a gosto
Azeite de oliva ou de coco babaçu
Umas colheradas de nata de leite.


Método

Depois de desfiado o bacalhau, e obtido o suco do coco, preparar o refogado.
Azeite quente, ingredientes picados... Deixar apurar. Afogar bacalhau, acrescentar o leite, a nata, deixar ferver, e absorver os temperos.

Servir com cuscuz no café da manhã; com arroz ou macarrão no almoço.
Fazer uma omelete das sobras, e servir no jantar com tapioca.

Passar 6 meses sem repetir o cardápio, até sentir saudades...
Bom apetite!




Por :Socorro Moreira






Um comentário:

Domingos Barroso disse...

Querida Socorro,
às vezes basta o silêncio
com mil palavras de fogo.

É o que tenho agora
para tua alma.

Um forte e belo abraço.