segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Esperada
na mente tranquila
a verdade não fere.

socorro moreira

Inebriada



É coisa rara
Essa tonta alegria
Exalando prazer

E deixo acontecer
As palavras pulam em bloco
Fantasiadas de borboletas
E flores matinais

Amanhã o céu ensolarado
Dirá-me se é verdade
O carnaval que dancei

Se a minha embriagues
Guardou na lucidez
Uma verdade amorosa
Que se veste de saudade

Volte!


Luz do meu mistério
Perdi-te no último dos meus sonhos
Quando o dia me deixou mais longe
Horas não vejo as tuas asas
Sobrevoando o meu telhado
Mas a roda da vida
Não para seu giro
Traz de volta
O  novo, que preciso
E leva consigo a paga
Do serviço:
Alma, coração, cheiro da pele.
Leva meu orgasmo
Deixa-me louca de saudades.

Clara mente
A poesia fala

Silêncio " light"
Obscura mente

Solidão aceita
Vida "diet "

domingo, 28 de novembro de 2010

O amor quando parte
deixa um vazio e meio
O amor quando persiste
deixa um tanque cheio

poeticamente
mente é poesia
poesia mente
metricamente

Por Socorro Moreira

No corpo carnal
alma candura

Ânfora da Temperança





Pode vasculhar a minha bolsa
Ela não guarda segredos
Guarda mistérios que se revelam
aos olhares intentos


Meu coração?
Não tente encontrar a chave
Ele não tem portas...
Entre se achar caminho
Dance a nossa música
Se pinte nas nossas tintas




Minha alma é afim da tua
Se te achares
Tocarás-me
Se me tocares
Essência de mim será.


Mulheres e homens são anjos
quando se predestinam!

sábado, 27 de novembro de 2010

Nosotros - José do Vale Pinheiro Feitosa


OUÇA A MÚSICA E LEIA O TEXTO

Um cuba libre, o cigarro se esfumando, cromos de luzes vermelhas, teus lábios reluzentes, cabelos cheirando a prazer, uma boite e a vitrola expandido de sons aos ouvidos de quem implora:


Atende-me na urgência destas horas desfeitas,
Não esperes a escuta dos segundos inúteis,
Funde teu seio ao meu ser frígido,
Eu necessito teu calor mais uma vez.

Outrora, fomos tão divinos de amor,
Agora mais do que nunca somos vulgar,
Somos barcos diferentes a vagar,
Destinos das rosas dos ventos a se afastar.

Agora que meu coração implode de vazio,
Tu vives em minha alma como parte inseparável,
Mas tal âmago é traiçoeiro e nos deixa ao éter,
Frio e inerte agora, quão ardente era outrora.

Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa às 22:30 no Cariricaturas
Nessum Dorma - José do Vale Pinheiro Feitosa



Dos que cantaram esta ária do último ato de Turandot, um dos melhores foi o Pavarotti. A ópera foi a última de Giacomo Puccini que a deixou inacabada por sua morte, tendo sido completada por Franco Alfano. Estreou no Alla Scalla de Milano, em abril 1926, sob a regência de Arturo Toscanini. No Wikipédia tem um resumo do libreto.

Aqui vai a letra da ária:

O príncipe desconhecido

Nessun dorma! Nessun dorma! / Ninguém durma! Ninguém durma!

Tu pure, o Principessa, / Tu também ó princesa,

nella tua fredda stanza / No teu frio quarto

guardi le stelle / guarda a estrela

che tremano d'amore e di speranza.../ que treme de amor e esperança....

Ma il mio mistero è chiuso in me, / Mas o meu mistério está fechado em mim,

il nome mio nessun saprà! / o meu nome ninguém saberá!

No, no, sulla tua bocca lo dirò,/ Não, não, só a tua boca o dirá,

quando la luce splenderà! / quando a luz esplendorará!

Ed il mio bacio scioglierà il silenzio / E o meu beijo escolherá o silêncio

che ti fa mia. / que te faz minha

Vozes de mulheres

Il nome suo nessun saprà... / O nome seu ninguém saberá

E noi dovrem, ahimè, morir, morir! / E nós deveremos, infelizmente, morrer, morrer!

O príncipe desconhecido

Dilegua, o notte! Tramontate, stelle! Desapareça, ó noite! Desvaneça, estrela!

Tramontate, stelle! All'alba vincerò! Desvaneça, estrela! Na alvorada vencerei

Vincerò! Vincerò! / Vencerei! Vencerei!

Aí os nosso cantores populares se esbaldaram com a versão Eu nunca mais vou te esquecer, como esta cantada por Moacir Franco:


Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa às 23:31no Cariricaturas

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Acorrentados - Por Socorro Moreira


Petrolina?
Uma luz vermelha
Entre Crato e o Juazeiro
Boites?
Cinema da tarde...
Tempos de laquê no cabelo
Tempos de vento nos cachos
das carrapetas.
Sussurros ou suspiros?
Um de lá
Outro de cá
Timidamente sorriam

Cruzar o olhar
Era de intensa magia
Como ainda hoje...
Como em qualquer tempo
O olhar imagina, fura, entra...
Se entranha , como o Aracati

Hora feita é sempre carente da surpresa
Um bolero é canção das paradas sensuais
Um passo lá
Outro cá...
Nada além, no futuro do presente.

E nesse calor de novembro
a dança tem cheiro de gente
Não tem coração que mereça
Derreter eternamente.

“Eu necessito ver-te”.
Mais uma vez...”.
Altemar, vivíssimo.
Em surdina me acontece
Esqueço que abri a janela
E uma luz difusa
Em meu peito entra...
Atenda!

O amor sempre será
Como antes de antigamente
Um mistério
Um sonho ardente.

“Talvez fosse melhor”.
Que não voltasses
Talvez fosse melhor que me esquecesses...”

Sem princípio, e sem final.
O amor vaga, sem um cais.
Rumo a um paraíso nunca achado
Lá o tédio é impossível.

E nesse vazio abissal
Eu escorrego levemente
E misturo-me
Ao éter do sentimento

Sintonia num bolero
Faz valsar um par!


terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Um trem para as estrelas"...- por Socorro Moreira







Comecei a assumir a terceira idade , um pouco precocemente,como tudo em minha vida.Aos 59 anos resolvi antecipar os benefícios de ser velhinha. As perdas existem. Já não tenho pernas pra alcançar o trem, mas tenho pensamentos na velocidade incerta, pra alcançar meus momentos.
Claro que desejo apenas uma lambida , no sorvete de rapadura., mas  quero todas as músicas, e o contraponto do silêncio, no prato da balança.
Quero viajar nas estrelas, imaginando uma vida impossível, e aceitando que, no aqui, as possibilidades são inimagináveis. Uma delas é não ter idade.

Ser o que o coração computou, 
Transformando-me
no que sou, 
Transportando-me
pro outro lado do túnel..

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Divagando ... - por Socorro Moreira



Viajar é encontrar
a poesia
no vento e nas nuvens...


Preciso do sol
pra pintar de moreno
a palidez do meu rosto


catalisar processo bloqueado
é esperar que um açude sangre,
surpreendentemente!




Da inquieta vontade de ser
nasce a decisão de não ter!



Fotos( 1 ,2 e 4) de Adriana Rosset

domingo, 29 de agosto de 2010

Domingo- por Socorro Moreira


Acordei sem lembrar do que sonhei , mas lembrando um passado remoto , e uma das minhas inúmeras mortes.
A vida reflete o sonho Tenho parcos sonhos. Economizo distâncias , dinheiro, paixão , e até saúde. Sou tão injusta...! Só não economizo poesia.Por falta de sonhos ela chega de chinelos franciscanos, perambulando no frio fulgor das auroras.
Tenho tudo e deixo de querer o essencial. Estou presa às quatro paredes, e de janelas e portas abertas para o mundo virtual. Lá também não sonho , nem invento realidades. Não brinco de amar.
Não sou exatamente triste, nem exatamente romântica. Sou quase esquisita... Alegro-me com o brilho no olhar dos meus amigos. Absorvo e rejeito a tristeza. Choro-a em prantos, sem entender o meu luto contínuo.... Coisas perdidas , ganhos em caixas vazias. Quando a morte chegar , de nada me separará, a  não ser das manhãs e madrugadas, e dos irrespiráveis ares que insisto em tragar.
Eu resumi a vida , e ela teimosa se estica. Comprimi todas as músicas, no repertório de Nana Caymmi ( nunca vou escrever sem dúvidas , o sobrenome Caymmi...). Não gosto de política, nem de Economia, nem de futebol ...Não gosto do risível , nem do aterrador. Vivo as madrugadas que nascem e morrem em mim, num cotidiano repetitivo, desequilibrado com algumas surpresas.
Um desconto ou troco poético , que me roubam do tédio.
O contato com as palavras é recreativo. Tomo café com vogais, e faço sopas com todas as letras.
Faço turismo nos contos de alguns, catando arrepios e extraindo gotas de emoção para molhar a secura do coração. Não sei os motivos da arte. Ela foge de mim , quando a procuro, e esconde-se nos meus porões.
Mas hoje é domingo. Ganhei o mundo , ainda cedinho.Deixei a porta de casa , a sombra e a água fresca , e me perdi nos caminhos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dor de amor - por Socorro Moreira




dor de amor não mata
está no choro e no riso
(sem masoquismos).
Impossível amar
sem aperto no peito...

coração lato ,
seja abençoado !

depois de lamber a ferida
a gente transcende,
e ama de novo,
até doer na alma

Há um prazer místico e erótico
nesse processar divino,
tão humano...
um sentimento epidérmico,
que deixa cascas na alma.

PorbSocorro Moreira

Sensível
a qualquer tipo de carinho
sorriso , mimo ...
Rostos distantes
parecem contas
de colares partidos
olhares , bocas ...
pérolas escapadas de mim
Sem adereços
esqueço endereços
acendo velas
ilumino lembranças
fragmentos visíveis
O vento traz
o vento leva
a onda traga
espuma de amor
...saturada !
Entreguei os pontos
sem checar os trunfos
meus ases, meus ais ...
num jogo comum
E se todos chegassem ,
num apelo coletivo ?
- Eu ficaria contigo !
Se o tempo voltasse
eu dançaria a valsa dos meus 15 anos
Pediria uma bicicleta no Natal
Nadaria nos rios poluídos
Do Crato até Ingazeiras ...
E naquele trem , naquele dia
Teria te visto primeiro
E naquela festa , naquela dança
Me apertaria em teu peito
E naquela noite , naquela praça
te entregaria os meus olhos.
Donzelas de saltos finos e meias desfiadas
se avermelhavam
quando a brisa do amor passava
Guardavam cadeiras no cinema
pro moço que não chegava
Choravam em convulsão
por Francisco e Santa Clara.
Tremores nas mãos , em dias de prova
Disparos no coração , quando recebiam nota
A chatice
de provar o vestido novo
que ficara torto
A vergonha de vestir
o traje antigo
com mancha de caju
na altura do colo
A barra da saia desmanchada
O sapato de sola desgastada
as meias de algodão afolozadas
E o coração na boca
todo atrapalhado
As cartas de amor nunca postadas
promessas tímidas
desejos contidos
orelhas pegando fogo
retrato em 3 x 4
na bolsa ou no livro
um trevo de 4 folhas
pra garantir o destino
Queríamos correr no tempo
e o tempo nos pegou
Deixou-nos
aonde estou !
Senhora - vó
Querendo comer maça
Pecar contra o que não fez
Ser feliz sendo o que quis !


por Socorro Moreira

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Luar de Agosto - por Socorro Moreira



Existem riscos ,
que eu não petisco
A lua protege de luz
o beco escuro dos meus olhos
Ontem ela esteve soberba
grávida de todos os sonhos
ventre inflamado de encantos
Minha câmera invisível
encara o céu...
A janela dos meus hóspedes,
sempre aberta ,
É o porta-retrato da poesia

quinta-feira, 8 de julho de 2010



Conjugação Da Ausente
Vinicius de Moraes


Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra,
na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas;
fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meu primeiro amigo - Para Joaquim Pinheiro Bezerra de Meneses - Socorro Moreira

Hoje é o dia do amigo.
Tentei contar nos dedos , quantos amigos eu tenho, e quantos me fazem feliz, e descobri que são muitos, na qualidade.
Minha amiga primeira (Valda, minha mãe);
Meu pai (Moreirinha) - o maior de todos.
Mas tem o fura-bôlo, o cata-piolho ...
Amigos de infância, de escola, de Banco do Brasil, de blogs, amigos do virtual ,familiares , amigos que deixei nas cidades onde morei, amigos que me aconteceram agora .
Mais importante do que todos os meus amores , todas as minhas paixões - são os meus amigos de hoje , e de outrora.
Escolhi Joaquim para representar esse universo de afetos.
Foi no meu primeiro dia de aula. Eu tinha menos de 4 anos de idade , e estava naquela sala do Externato 5 de Julho , fardada , de lancheira e cartilha debaixo do braço , quando nos conhecemos.
Depois nos transferimos para o Instituto S.Vicente Férrer , aonde concluimos o primário. De lá prestamos exame de admissão ao Ginásio , no Colégio S.João Bôsco - 13 anos de coleguismo , de vidas paralelas e tão unidas !
Não conversávamos , mas sabíamos tudo um do outro. Tudo !
Foi para Joaquim que eu escrevi meu primeiro bilhete( aos 5 anos de idade).
Brincando ele diz :
"Você sabia escrever, mas eu não sabia ler..."
Quarenta anos depois, a gente se reencontrou. Lembramos com detalhes nossa vida escolar : professores, colegas, festinhas, passeios, interesses, encantos ...
De memória infinitamente mais prodigiosa do que a minha , montamos em muitas conversas o quebra-cabeça da nossas vidas.
E quando lhe pergunto : Hei, por que nunca dançamos, nunca fomos camaradas, nunca trocamos confidências, nunca fomos ao cinema ...??? Ele respode : "Você era muito séria !"
Joaquim Pinheiro representa minha infância , adolescência , minha maturidade e jovialidade presente.
Apesar do distanciamento por tantos anos , descobrimos e reafirmanmos a nossa irmandade , que eu digo que é eterna !
Hoje eu sei que ele não é apenas filho de Dona Almina e Seu César; irmão de Maria Amélia, Zé Almino , Maria Edite; sobrinho de Dona Anilda, Dona Alda, e Miguel Arraes ; primo de Dedé , de Fernando, Maria José ... Ele é o esposo de Raquel e pai de Raul e Renata ; avô de Miguel , que está pra chegar ... É o meu amigo novo e antigo. Meu grande referencial de amizade !

P.S
Eu lembro do dia em que tiramos essa foto. Fazíamos o terceiro ano primário , no Instituto S.Vicente Férrer. Éramos colegas de Valda Arraes, Magali de Figueirêdo, , Francíria Alencar, Franceury Teles, Tarcisinho, Thiago Araripe, Mário Frota , Denise, Aldenir Silvestre , e outros.
Mais de um século de amizade . Muito mais de emoções puras e belas .

Para Joaquim o meu abraço de respeito e carinho, extensivo a todos os meus amigos de todas a eras !

Amigos Novos e Antigos - João Bôsco e Aldir Blanc


Amigos Novos e Antigos

Composição: Aldir Blanc - João Bosco



As frases e as manhãs

são espontâneas

Levantam do escuro

e ninguém pode evitar

Eu tento apenas

mostrar cantando

O lado oculto do meu coração

Eu tenho às vezes

no olhar tardes de chuva

E sons percorrendo

alamedas na memória

Eu tento apenas

mostrar cantando

O que há nos lagos

do meu coração


"Quando para mucho

me amore de felice corazon

Mundo paparazzi me amore

chika ferdy para sol

Questo obrigado tanta mucho

que can eat it carrosel"


Alguém entrou nomeu peito agora

Mas só depois

vou saber quem é.

domingo, 19 de julho de 2009

Foi tão lindo , que ainda é lindo ! - Socorro Moreira - Fotos Claude Bloc

Noite do dia 17.07.2009

Teatro Municipal Salviano Saraiva

Crato - Ceará


Participantes : Rosineide Ramos, Ana Maria Xenofonte, Neide, Neiliane, Maria Luiza, Zélia, Marlúcia Brito, Marilac Peixoto, Norma, Fátima e Célia Prado, Nilo Sérgio , Peixoto, Carlindo, Luizinho, Zé Ricardo, Nacélio, Hugo Linard, Haroldo , Sérgio Cardoso, Francisco Brito , Pedro Antônio ,Francisco e Luiz Barreto.

Maestrinas : Bernadete e Divani Cabral
Cerimonialista : Humberto Cabral
Coordenador: Nilo Sérgio Monteiro
.
Repertório :
Hino do Crato
Ave Maria Brasileira
Esqueça
Pobre Menina
Rítmo da Chuva
Greenfields
Andança
Uirapuru
Leva Eu
Lagoa do Abaeté
A Praça
.
Apoio : Secretaria de Cultura do Município.


Pra quem deixou de vir à Expo/2009 - Socorro Moreira - Foto de Orlando Rafael Dias


Foram tantos nove meses
Foram tantos nove anos
E hoje é hoje.
O tempo passou,
e nem parece que passou.
.
Estávamos lá ,
caminhando, rindo,
trocando impressões :
mangando , e "madrigando ",
Comendo tapioca com amendoim,
acarajé no taboleiro da baiana,
ouvindo Hugo no acordeon,
Leninha interpretando Correinha
.
Estávamos lá
encontrando a cada passo
um rosto quase reconhecível,
tanto quanto o meu,
que guardou o olhar e o sorriso
.
Estávamos lá,
na poeira dos passantes
no embalo do "country" cratense
Pipoca aqui e ali
Rolete lá e acolá
e a gente ...!

Le Lac de Come - José do Vale Feitosa






Le Lac de Come


Caindo suavemente, hesitante, pelas pregas do tempo,

Que no rosto fincou leitos do passado concluso,

Quando não me dava conta da finitude presente,

A cada momento que colhi em galhos da vida,

Guardando-o no cestos cá dentro de mim,

Como se não fossem amadurecer jamais,

Rachando a casca, minando sumo,

Soltando sementes pelo canal,

Rolando pelo ângulo,

Descendo a face,

Pelo abismo,

Caindo,

Sobre,

Mim.



Rio de Janeiro, 09/10/93
José do Vale Pinheiro Feitosa

Por Dentro - José do Vale Pinheiro Feitosa


Que dor é esta?É dor doída e nunca fica roncha.

Ocupa toda pessoa e não está em lugar nenhum.

É dor que vara dum lado a outro do peito e não aparece buraco algum.

Num tem meizinha, reza de rezadeira, colher de açucareiro, é dor que queima feito mel fervente no tacho.

Dor de esquina, é como inteiro apartado, é um pedaço que falta onde nunca se deu conta.

É dor cheia, ocupa todos os limites do continente.Mas, também é dor de vazio, as águas de um riacho seco.

Dor de espírito buliçoso, nenhum canto é suficiente para lá se encontrar.

Parece mesmo é raspa de juá, faz espuma, clareia os dentes, para depois mascar fumo.

Dor de arribaçã, voando para pousar bem em frente da espera do caçador.

Dor de trânsito engarrafado: pára onde era para andar, anda onde era para dobrar.

E com tudo isso dito, continua esta dor sem explicação.

Quando a vi pela primeira vez, senti uma dor cá dentro de mim.

Apalpei-me e a dor não estava no corpo. Fixei meus olhos em busca daqueles e a dor era ela.

Uma dor de urgência.

Que o fluxo do tempo não se desse sem que me ouvisse sobre a agonia que a sua existência em mim causava.

Era linda? Mais ainda. Era luz? Cegava sem a perda da visão dela.

E o chão parecia uma onda gigante, na Praça da Sé, girando com todos os sanfoneiros e zambumbeiros dos sertões, num samba zombeteiro da emergência sem socorro.

E uma palavra poderia aplacar aquela dor sem solução, mas tudo em volta se movia como roubando toda a energia do ambiente.

Especialmente daquele estado acelerado, quando a dor é uma sentença da plenitude do aqui e agora.

E das minhas cordas vocais grunhidos saíram, grunhidos roucos, abafados, fugidios, em cascata, fazendo um turbilhonamento nas palavras.

Ela franziu o cenho em primeira mão.

Minha agonia acelerou ainda mais as sílabas, que saltavam em torno dela como a metralha de projéteis de plumas de algodão, com caroço e tudo.

Tenho a impressão que terminaria aquele ato transformado num saco vazio se não percebesse a tempo uma leve vírgula de botão de rosa pelo canto direito de sua boca.

Acho que a breve história daquele átimo de tempo me salvou quando já estava a ponto de me levar por aquela dor.

Depois o outro canto da boca se fez um roseiral. Os olhos me receberam com uma aceitação que jamais imaginei merecer.

Nunca imaginei que fosse possível ver as abas do nariz se afastarem e abrir um riso franco de satisfação.

Estava como ganhador da loteria numa chance em milhões. E daquela riqueza toda o mundo me fez milionário.

Deu-me muito mais que jamais ousei lutar. E sigo assim....com esta dor que não sei o quê é.

Uma dor de urgência. Que nunca se acaba.Ainda mais se a causa não está.



Por José do Vale Pinheiro Feitosa

sábado, 18 de julho de 2009

Clair de Lune - Debussy


Tempero da Lua - Por: José do Vale Pinheio Feitosa



Ofereço esta postagem aos membros do Madrigal Intercolegial de volta ao palco como se dele jamais tivessem ausentes.

Tempero da lua,
Fluorescência que revela a mãe d´água.
Destaca o carrapicho na beira da estrada,
Como a solidão condimentada das madrugadas,
Nas trilhas de algum beco escuro do povo esquecido,
Ou nas veredas que ressoam os cascos da montaria.

O tempero da lua é secretado,
Nos limites das curvas do teu corpo nu,
Como partes superiores das dobras do lençol
Pérolas luminescentes da saliva de tantos beijos,
Gotículas de estrelas aos suspiros copulares.

Tem tempero da lua nos mares,
No silêncio da jangada em rumo do fogo guia,
Em cada gume afiado das palhas do coqueiro,
Na corrida de prata das nuvens passageiras,
A elevação iluminada das dunas sobre o mar

Tempero da lua,
Em porções homeopáticas sobre as cidades,
Num pequeno ângulo entre duas torres,
Se derramando inteiro sobre os parques,
E se deitando comigo e a janela para oeste.

Tempero da lua,
Antítese das marcas e vincas da vida,
Sobretudo depositando incertezas,
Nesta superfície tanto rugosa quanto lisa,
Entre os perfumes que as flores disseminam.

Tempero da lua,
Que o mundo me ofertou,
Logo que o primeiro ácido do dia terminou,
Suavizou o clima do meu olhar,
A vida como algo dual em desejo de outro.


Por José do Vale Feitosa

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Carta a mim mesmo - Por José do Vale Pinheiro Feitosa



Como respirar feito um continente. Lá no palco do teatro municipal do Crato e aqui ao pé do Corcovado. Quantas apnéias nesta tamanha rede de canais de ar e seiva do mundo não acontecem? Tantas que me fazem fraco de presença. Ausente como espectro, feito uma descida na mesa espírita. Mas não existem desculpas se as asas velozes da aeronave voam. E cá não estivestes.
Mas se estivestes apenas em subjetividade foi de corpos que o Madrigal cantou.
O Crato nem lembra, mas Divani Cabral não foi uma diletante, mas dedicada maestrina; seus tempos de Pró-Arte nas temporadas de Teresópolis. Divani foi tudo isso , pois tinha técnica, emoção e a cidade para amar no geral e na juventude.
E Bernardete Cabral, pequenina, miudinha, quase nada. Eu que o diga quando pegou pela mão aquele moleque selvagem da batateira e lhe deu a oportunidade de suportar o presídio da carteira escolar junto à repetição do alfabeto.

E este povo que ali madrigou, como só pode ser o mundo, um todo sem partilhas de minutos. Um todo em que nós não estamos, sobretudo existimos.
A todos vocês um grande aceno entre aí e aqui.
José do Vale Feitosa

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Corcovado - Tom Jobin

Hoje uma réstia , amanhã toda a iluminação - Por: José do Vale Pinheiro Feitosa


Quando o sol chega à parte da elipse que diz julho no hemisfério sul, Arquimedes faz sentido. Devido à bela intrusão metamórfica do Corcovado junto à qual plantei minha janela. Quando as 16 horas são contadas no relógio, o sol se encontra num pequeno ângulo entre a pedra do Cristo Redentor e o Sumaré. Ainda feroz de luz, mas uma réstia prestes a ser apagada. Poucos minutos e se pôs. Não queimará mais o sinteco da sala. Deu por findo a jornada do dia.

E isso poderia ser eterno. Mas não: já sei que não é em pragmatismo. É no tempo poético, posto que não busques a permanência se tens a corrida das Valquírias. Eles se vão, o tempo passa, o momento cessa. Mas poetas, ele está bem aqui, como suor na tua pele, feito os líquidos em que ti circulam, como os gases que se trocam. O eterno não seria mesmo aqueles quadros por minuto, mas o fotograma do acontecido. Este é eterno, pode ser desconhecido, mas no cômputo geral do movimento o foi e deste modo é.

E Arquimedes? De repente em menos de uma semana o sol dar um salto daquele ângulo fugaz e se torna mais permanente. Estica o entardecer. Ainda reduz o dia, mas o ponto que alavancou, não a terra mas o sol, foi utilizado pela Elipse. Esta geometria da ordem pitagórica tão reduzida a uma folha de papel na escola e tão imensa em todos os significados da vida cá nesta crosta de um astro em translação.

E quando escrevi Arquimedes meu veio calipso. Ou melhor, Kalypso, não a banda, nem a ninfa de Odisseu. Mas uma médica do sistema de saúde inglês, nos dando o sentido da racionalidade em gestão de saúde. Não a racionalidade inerente a um processo, mas aquela que se volta à redistribuição de qualidade de vida, que aplica para garantir a todos o mesmo acesso à saúde. Isso é muito, especialmente nesta ânsia imoral por corte de gastos.

Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa no Cariricult

Noite festiva - Colheita de sonhos- Por: Socorro Moreira - Fotos by Claude Bloc






( A maestrina Bernadete Cabral , Rosineide Esmeraldo , Stela Siebra, Maria Luiza e Nilo Sérgio)


Como extensão dos ensaios , e aproveitando o entusiasmo do reencontro , O Madrigal Intercolegial reuniu-se na casa de Zélia Moreira para comemorar o aniversário de Carlindo Costa.





(Carlindo Costa, Roberta Arraes, Zélia Moreira e Nacélio Oliveira)





Debaixo do teto, e aos pés do coração da anfitriã , o grupo entoou risos e risos !


A gente sabia que o tempo era passado , e que o presente era vivo !




(Luiz Felisberto , Nilo Sérgio e Hugo Linard)


E era o gosto de reviver , e era o juízo de poder fazê-lo .


- De Chico Buarque a Jackson do Pandeiro , entremeados de valsas e canções, aprendidas na estação da década mais feliz das nossas vidas.


(Francisco Peixoto , Liduina Vilar, Claude Bloc)




Peixoto era rítmo e coração , como um dos ases da nossa emoção.


Não eram pares, nem trios, nem solos. Era a companhia !



( Joaquim Pinheiro , Stela Siebra, Hugo Linard e Socorro Moreira)


Da infância ao limite de um tempo feliz : Hoje, sempre !







A expressão do que ainda é :


a confiança no entendimento


o novo em todos , no intacto antigo.








Dona Bernadete - resistência entusiástica na festa e na reza.




Hugo , "o peralta Zezinho", de Mons. Montenegro - contando as suas diabruras e, reafirmando no acordeon , a sua genialidade artística.




( Divani Cabral , Hugo, Peixoto e Anderson Xenofonte)



Nos anos 60, Arte e Educação já eram casadas no ensino cratense.


Divani , a sacerdotisa que celebrava as bodas :


Jograis, corais, espetáculos teatrais . Música, Dança , Cinema , como a "Fantasia" de Walt Disney.


Uma noite por ano , num país diferente ( Japão, Espanha, Portugal).


Transposição de todas as artes para as nossas vidas.


Aliança subliminar intercolegial.


Geração dourada , hoje florida !


- Aquarius !!!






Fotos : by Claude Bloc

Texto : Socorro Moreira

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Gosto musical duvidoso - Por: José do Vale Feitosa



Meu gosto musical é duvidoso. Dispersivo, multifacetado, local e mundial. Como dizem os cariocas: o meu e o da torcida do Flamengo. E neste caleidoscópio de consumo musical não existe um ideal estético. Todos os cânones e normas são aceitos.
A música mais que outras formas de arte aceitou a diversidade, o local e o global; o formal e o folclórico nas formas de terreiro e nas formas de salão.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro completou cem anos ontem. Pois bem, nos séculos XIX e XX uma arte (?) popular e uma arte de elite são responsáveis pelas mais majestosas edificações. Principalmente no ocidente endinheirado: continuam fabulosas e evidentes, apesar dos zigurates da modernidade, as óperas em todas as grandes cidades.
No popular os estádios até nas pequenas cidades.Quem chegou à vida adulta ali no começo dos anos setenta, vindo do interior, sabe que a falta de um ideal estético é conseqüência do cinema, do rádio, televisão e da indústria fonográfica.
Se fosse depender apenas do contato ao vivo com a música, o folclórico e religioso prevaleceriam, com as bandinhas, o mineiro-pau, reisados, dança do coco, os cânticos de renovação, das procissões, os desafios de viola e assim por diante.
Os poucos músicos locais os encontraria na periferia boêmia. A banda de música e claro alguns corais. Mas sem aqueles meios (cinema, rádio...) a música seria outra.
Outro dia me dava conta da quantidade de fragmentos de peças clássicas que conhecia desde a infância. Não foi audiência ao vivo. Nem o interior cearense e nem a capital tinha muito a oferecer.
Na capital tudo havia no epicentro do Conservatório Alberto Nepomuceno e no máximo em raras manifestações no Zé de Alencar. Então, as ouvi especialmente nas trilhas sonoras do cinema, no rádio e em eventuais discos.
A ópera era e continua até hoje objeto de intenso estranhamento em parcela importante da população e, especialmente, da juventude.
O caleidoscópio musical que me faz de gosto duvidoso se fez simultâneo com o sertanejo já de poesia acadêmica (Luiz Gonzaga, HumbertoTeixeira e Zé Dantas); o samba com letras da classe média; o jazz com suas bandas, solistas e vocalistas; o rasgado ritmo da juventude; o bolero e com todo o seu lero romântico; a canção européia e tome japonês por emergência, a África por exuberância; os Árabes com seus cânticos semíticos; até os ritmos do Xingu.
E o mais duvidoso de tudo. Nasci, fiquei até vir embora, no sítio Batateira em primeiro momento e depois um bairro que chegou ao que é.
Durante os meus dois últimos anos era o locutor e o discotecário, nas horas vagas do ensino, da Amplificadora a Voz do Povo.
E que voz! Aquele canto de abandono, de traição, de vingança, de uma imensa dor de corno, aquilo que era ao mesmo tempo o chão pantanoso da “estética oficial” e a fina flor da dor do povo que não sai no jornal.
Que me perdoem o vício pelo indefensável. Que perdoem o hábito de manter a discussão. Não existe uma palavra final para nós. Apenas o mote solitário, neste ambiente plural: a arte é simultaneamente doméstica e das ruas; do particular e do coletivo; sentimental e racional; lamentosa e glorificadora; enfim, a arte é a expressão do tempo atual.
A expressão do tempo atual é a simultaneidade.Muitos acham meu gosto musical duvidoso. Até tenho dúvidas com esta falta de ideal. O máximo que posso é aprender com este alguém e adicionar mais um gosto ao meu portfólio (não é assim nesta tecnicidade moderna?)

Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa no Cariricult

Emoção - Socoro Moreira


Chorei todas.

Por mim e por todos.
Cada cara era um livro de história.
E eu passando a página, e
borrando de tinta , o papel da memória.

Não podemos ser oniporesentes ,
a não ser em pensamentos

Não podemos mudar o curso da história,
mas podemos ousar um complemento


Não chorei a primeira,nem a última lágrima ...
Chorei um regato,apenas um lago

Quem manda acumular tantos fados ?

Quem Sabe um Dia - Mário Quintana


Quem Sabe um Dia
Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!

Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!

Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!

Um dia
Um mês
Um ano
Um(a) vida!

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana

Amor - pois que é a palavra essencial - Carlos Drummond de Andrade



Amor – pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.

Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.

Amor Natural - Carlos Drummond de Andrade



Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Um pingo d'água no oceano - Por : José do Vale Pinheiro Feitosa




Rio de Janeiro, 30/10/1988


É uma imagem poética muito antiga e usada.
O insignificante querendo ser individual.
Ser algo diante da vasta matéria,
e energia do espaço-tempo universal.


Mas eu vi, foi o primeiro a cair,
Ploft, e sua onda se espalhou na água,
tenho plena consciência,
aquele foi "um" pingo.


Que caiu em cheio na memória,
durou uma pequena fração do meu tempo,
mas teve tempo suficiente,
para ter o mesmo conhecimento,
das nebulosas cósmicas.


A Questão da Obra de Arte - Por : José do Vale Feitosa



Há um debate sobre qualidade artística, talento (uma espécie de sinal de Deus), para que serve o que se escreve e publica? Não é sem razão que se faz desse modo. Muitos manifestaram tais preocupações consigo mesmo.

Até recordo de uma texto da Isabel Lustosa em comemoração à Padaria Espiritual, quando ela se referia a pequenos burgueses, nas franjas do comércio e da Fênix Caixeiral. Aquele seres menores do universo hierárquico brasileiro com suas pretensões literárias. De qualquer modo, apesar da régua baixa nesta parte do texto da Isabel, desta mesma Padaria surgiram nomes nacionais (não muitos, nunca são muitos na seletividade publicitária).


Na minha geração dos cinco anos que vivi em Fortaleza esta rebeldia cearense em face das Academias, de Letras, apresentou a Padaria como uma alça em que no universo do sou ou não sou, carregou muitos talentos que se desenvolvem no processo.


Afinal o debate não terá uma última palavra e vai muito além, misturando estilos e sentimentos. Aproveito para trazer este texto do blog do Saramago a respeito de um escritor português, em termos do seu estilo, seu anacronismo estético e a memória de todos com a volúpia da modernidade.


José SaramagoA obra romanesca de Aquilino Ribeiro foi o primeiro e talvez o único olhar sem ilusões lançado sobre o mundo rural português, na sua parcela beiroa. Sem ilusões, porém com paixão, se por paixão quisermos entender, como no caso de Aquilino sucedeu, não a exibição sem recato de um enternecimento, não a suave lágrima facilmente enxugável, não as simples complacências do sentir, mas uma certa emoção áspera que preferiu ocultar-se por trás da brusquidão do gesto e da voz.

Aquilino não teve continuadores, ainda que não poucos se tenham declarado ou proposto como seus discípulos. Creio que não passou de um equívoco bem intencionado essa pretendida relação discipular, Aquilino é um enorme barroco, solitário e enorme, que irrompeu do chão no meio da álea principal da nossa florida e não raro deliquescente literatura da primeira metade do século. Nisso não foi o único desmancha-prazeres, mas, artisticamente falando, e também pelas virtudes e defeitos da sua própria pessoa, terá sido o mais coerente e perseverante.

Não o souberam geralmente compreender os neo-realistas, aturdidos pela exuberância verbal de algum modo arcaizante do Mestre, desorientados pelo comportamento “instintivo” de muitas das suas personagens, tão competentes no bem como no mal, e mais competentes ainda quando se tratava de trocar os sentidos do mal e do bem, numa espécie de jogo conjuntamente jovial e assustador, mas, sobretudo, descaradamente humano.

Talvez a obra de Aquilino tenha sido, na história da língua portuguesa, um ponto extremo, um ápice, porventura suspenso, porventura interrompido no seu impulso profundo, mas expectante de novas leituras que voltem a pô-lo em movimento.

Surgirão essas leituras novas? Mais exactamente, surgirão os leitores para esse ler novo? Sobreviverá Aquilino, sobreviveremos os que hoje escrevemos à perda da memória, não só colectiva, mas individual, dos portugueses, de cada português, a essa insidiosa e no fundo pacóvia bebedeira de modernice que anda a confundir-nos o sistema circulatório das ideias e a intoxicar de novos enganos os miolos da Lusitânia?

O tempo, que tudo sabe, o dirá. Não percebemos que, desleixando a nossa memória própria, esquecendo, por renúncia ou preguiça mental, aquilo que fomos, o vácuo por esse modo gerado será (já o está a ser) ocupado por memórias alheias que passaremos a considerar nossas e que acabaremos por tornar únicas, assim nos convertendo em cúmplices, ao mesmo tempo que vítimas, de uma colonização histórica e cultural sem retorno.

Dir-se-á que os mundos real e ficcional de Aquilino morreram. Talvez seja assim, mas esses mundos foram nossos, e essa deveria ser a melhor razão para que continuassem a sê-lo.

Ao menos pela leitura.



Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa no Cariricult.

Produção Caseira - Por Socorro Moreira


Hoje fui conferir o ensaio do Madrigal dos anos 60. Turma quase completa . Sexagenários retornando ao ponto de mutação. Aferição dos sentimentos.

Enquanto se posicionavam , confortavelmente , pairei meu olhar em cada rosto. E a história de vida de cada um , aflorava pouco a pouco. Entalada , não segurei as lágrimas. Estive naquele grupo , estive naquela praça , estive naquelas vidas que se dispersaram.

Não senti o distanciamento... Nem dos anos, nem dos sentimentos.

Outra vez, cantávamos juntos, ao compasso da mesma melodia... Matematicamente, em uníssono.

A fragilidade humana estava ali registrada. Fragilidade no sentido da emoção e do querer bem.

Amei nossa pele cansada e iluminada de felicidade

Amei os fios prateados , ameninados.

Imaginei a estrada com todas as ramificações...As paralelas , e o encontro na infinitude da alegria.

Descontrolei o choro com Pedro Antonio (Pelé), cantando Uirapuru , do Nilo cantando Ave Maria Brasileira; do Peixoto cantando Rítmo da Chuva e Lagoa do Abaeté, do Luizinho e Rosineide em duo, cantando "Pobre Menina ".

Rosineide ...Voz afinada de menina dengosa ... Ainda !Carlindo em solo , interpretando Andança ... E o coro reafinando-se num contrito momento, de perfeita diapasão.

Sim , o tempo passou ... O presente resgatou presenças, e a expressão foi o canto - Linguagem sonora dos abraços.

Hugo no teclado. Divani e Bernadete maestrando ...

Felisberto , Marlúcia, Regina, Ana Maria, As três irmãs Prado, Marilac , , Zé Ricardo , Nacélio...E ainda, os que chegarão, e todos os que faltarão.

Sou memoralista dos afetos. Provoco a reunião, porque a desejo. Brigo pela união , e ainda cultivo a magia do meu próprio encanto pelos outros e pelo tempo.

Escrevo, porque nada tenho para contar ao analista. Por que curar-me de tanta vida ?

Escrevo porque existem pessoas que instigam as minhas lembranças , nutrem a minha lua, inspiram-me a crença de um poema.

Música , papo, candura, arte... É objeto de crítica. Senti-la como se quer é ato livre.

Jamais serei crítica literária. Não tenho a base acadêmica, nem a quero ...Ela teria destruido a minha ingenuidade poética.

E eu não saberia brincar com as minhas bonecas ... Teria esquecido meus amores, teria desaprendido o exercício da paixão.Não quero o grupo que não namorou em praça pública com as mãos molhadas de pudor, e os olhos faiscando estrelas.

Quero o baião-de-dois de todos os dias. A paçoca no prato, a cajuína S.Geraldo , e queijo de coalho com doce de banana.

O cotidiano nesses últimos dias achou de voltar a ter 20 anos.

Com a beleza das rugas e a iluminação do sorriso .

Salve a poesia, o entusiasmo da alma !

Que fale o coração , que morra de emoção o povo do meu tempo, por mais uma metade do século, que hoje começa do zero.
* O Madrigal Intercolegial do Mons. Montenegro e de Dona Bernadete Cabral faz parte da História do Crato .

Les Parapluies de Cherbourg - Trilha sonora (I will wait for you)- Michel Legrand


http://www.youtube.com/watch?v=3JS4JMY0JWM&feature=related

Se "Os Guarda-Chuvas do Amor" é uma homenagem, como parece ser, ao musical americano, essa homenagem do diretor francês Jacques Demy é prestada sem se subordinar aos padrões do gênero.
Ao invés de intercalar músicas às falas, o seu filme é cantado do começo ao fim, os diálogos, seja uma pequena fala, como a de um carteiro trazendo uma mensagem, seja alguém pedindo ao empregado de um posto de gasolina para lhe abastecer o carro, são apresentados em forma de canto.
Aí está a diferença de "Os Guarda-Chuvas do Amor" dos seus congêneres hollywoodianos, aí a sua originalidade, que transforma numa quase obra-prima o que poderia ser apenas mais um musical e de qualidade inferior àqueles.É um exemplo de como pela forma é realizada uma grande obra, debruçando-se sobre um conteúdo já muito explorado, sobretudo por outros gêneros.
A história é a do clássico triângulo amoroso. Geneviève (Catherine Deneuve), filha de uma viúva, proprietária de um loja de guarda-chuvas e Guy (Nino Castelnuovo), um mecânico de uma oficina de carros, se amam.
Guy parte para a guerra na Argélia, entra em cena Roland (Marc Michel), um rapaz rico que se apaixona por Geneviève. A ausência do namorado, agravada com a falta de notícias dele, motiva o assédio da mãe (Anne Vernon) a Geneviève para que ela se case com Roland, que já chegara a pedir-lhe a mão da filha.
Afinal, Geneviève sucumbe às investidas e consente em casar. Quando Guy retorna da guerra, com uma perna avariada, descobre que a namorada a trocara por outro e até se mudara de Cherbourg, acompanhada da mãe, que vendera a loja, e termina por casar com uma conhecida sua.Outra diferença dos seus similares americanos é a ausência da dança, constante naqueles filmes, formando uma parceria com a música. Apenas uma vez, se vê numa boate Guy e Geneviève dançando, em meio a outros casais.
Por outro lado, há a presença diversificada (e bem utilizada) da cor, com uma certa predominância do lilás.
Muito boa a fotografia, a música de Legrand, que, além das outras músicas, compôs uma bela canção que sublinha o romance do casal. Tudo bem conduzido pela mão leve e sensível de Demy. Um dos melhores momentos do filme ocorre na partida de Guy: um traveling acompanha o trem deixando a estação, mostrando Geneviève ao fundo, à semelhança de uma silhueta.
No meio das qualidades de "Os Guarda-Chuvas do Amor" intromete-se, porém, um defeito. O nome da Esso é visto inúmeras vezes no desenrolar da história.
Sou levado a crer que a intenção é a de denunciar o poder econômico como causador de muitos males, inclusive o de destruir um amor (a mãe de Geneviève passava por graves dificuldades financeiras, que iriam resultar na perda do seu comércio), esse poder representado por Roland. Até aí tudo bem. O problema está na aparição em excesso dessa marca de combustível. Além de inscrito numa placa de posto de gasolina, o nome da Esso surge uma vez em uma grande quantidade de latinhas dispostas num móvel da casa de Guy quando este já está casado.
Demy deveria ter seguido o exemplo de Ozu em "Pai e Filha".
Ao mostrar a invasão americana ao Japão ainda na década de 1940, ele faz apenas aparecer, rapidamente, uma placa com a frase publicitária Drink Coca Cola e, escritas em inglês, as palavras chá e café na fachada de um restaurante. Só isso. E não bastaria mais nada.

Escrito por Francisco Sobreira