quarta-feira, 30 de abril de 2008

"Só no Crato"- Foto de Pachelly


Passado e presente se misturam ...
Como aroma e sabor ...
Um gosto de vida e ternura
na boca de quem provou !


Como esquecer ...
a biblioteca de Dona Liô
a canjica de Eunice
o doce de Isabel
a tapioca de Erice
o "amor em pedaços " da minha mãe,
a peixada de Paulo Frota ,
o sorvete de Bantim,
o pirão do Pau do Guarda ,
os desenhos do meu pai ,
a paciência de Dr Eldon ,
os sermões de Pe. Frederico ,
as aulas de Alderico ,
e a Casa do Pintor ?

Sessão de cinema nas tardes
sapotis no beco de Pe. Lauro,
as injeções de Dona Soledade ,
tertúlias na Pedro II,
matinais no Tênis Clube...
Festa da Padroeira
Natal com missa do galo ,
São João com bandeirolas ,
quintal enfeitado,
camisas de riscado ,
vestido de chita ,
tranças no cabelo ...

Acho que dormi o tempo inteiro ...
Acordei com vontade de comer pipocas ,
beijar na boca ,
escrever uma carta de amor ,
acabar o namoro ,
devolver a aliança ,
rasgar o vestido de noiva ...

Pari três vezes ...
Pelas minhas crias não retoco o passado
Nem nos sonhos, ouso alterá-lo !

Quero apenas ,
um caderno e um lápis ,
pra anotar o que deixei ficar

Meu brinco de pérolas ,
meu reino encantado ,
um cavalo sem príncipe ,
um amor infinito ,
que entrou pela perna do pato ,
e saiu pela perna do pinto ...

Não consigo contar vinte e cinco ...
A vida é breve , e um dia finda !

domingo, 27 de abril de 2008

Miss - Um ideal de beleza


Wanda Lúcia era linda, sim!
Como não tinha completado 15 anos, perdi a festa da sua coroação .Concorreu com mais outras beldades da nossa sociedade .
Depois ela desfilou, pela cidade, em carro alegórico, e a gente olhava de queixo caído, a representação da beleza cratense, que havia ganho o título de Miss Ceará, entre tantas, inclusive de uma candidata de Juazeiro - Ney Sobreira.
Naquele tempo , Crato e Juazeiro , rivalizavam-se em tudo.Essa vitória teve repercussão política. Parecia eleição para Deputado ou Prefeito.E a gente cantava uma musiquinha, que não sei quem parodiou:"Juazeiro, Juazeiro, me responde, por favor , por que que tua miss, tão bonita e não ganhou . Ai, Juazeiro ...compreendo a tua dor , mas tua miss não deu nada de maiô. Juazeiro tua miss de cara não é feia não ...Mas o corpo da Wandinha encantou a comissão ".
Bom , passou! São lembranças da minha infância .
Francy também foi coroada Miss Crato, Miss Ceará e Miss Brasil número (3). Perdeu o Miss Brasil, para duas irmãs gêmeas,( uma delas,a Ana Cristina).
Francy era um arraso ! Lembrava R.Schenaider, no filme: "Um anjo sobre a Terra".
Ana Benvinda também ganhou o título de miss Crato, nestas eras...
Depois perdi a conexão com os desfiles de miss. Mas , mo panorama nacional , algumas são inesquecíveis :
Terezinha Morango(Ceará), Marta Rocha(Bahia), Iêda Maria Vargas(Gaúcha), Vera Fischer(Catarinense), etc.
Existiu nos anos 60/70, as "Glamour-girls, e as rainhas do algodão. : Anelisa , Edna Saldanha, Lilian Macêdo, Fátima , Antonieta , se destacaram !
A terra Cratense , bem que já fez brotar, muita mulher bonita!
Outro dia estava contando nos dedos, com João do Crato...E olha que , muitos rostos foram lembrados !
Eram lindas as mulheres da minha geração !

A Chama dos velhos carnavais


Na minha infância , dançar Carnaval era pecado mortal . Meu pai comprava lança-perfume , e a gente aspergia no povo da rua , até o tubo secar ... Até o cheiro ficar fora do ar !

Os corsos eram fantásticos. Corria para as esquinas...Era o desenho animado dos meus contos de fadas! Nos jipes e automóveis sem capotas, cabia mais gente, do que se podia contar!Máscaras... Elas permitiam a mistura, no mesmo espaço , de moças de vida presa , e moças de vida fácil...Achava o máximo!

Na década de 60, já adolescente ,Carnaval continuou proibido...Fugia para a concentração dos blocos,nas calçadas.Suspirava de vontade de brincar , mas só podia cantar e dançar um frevo , se pudesse imaginá-l0 !

Em 70,80...participei dos meus primeiros bailes ,no Crato Ténis Clube.Meu pai, por anos seguidos,foi Diretor Artístico , e cabia-lhe a missão de decorar o clube .Pintava todas as paredes com imagens de colombinas , pierrôs , arlequins , ciganas,piratas... e o diabo a 4!

Ficava lindo!Era muito bom dançar com todos, e não ficar com nenhum!

Geralmente, debaixo de chuva,na quarta-feira de cinzas, acompanhávamos a orquestra até a Praça Siqueira Campos, dançando e cantando a marcha da quarta-feira ingrata, que chegara depressa demais!

Depois, ainda de fantasia, entrávamos na Igreja pra receber a " cinza". Nosso lado profano fora alimentado, até os pés ficarem cheios de calos, e a voz rouca, sem proferir som algum.

"Saudade/ é isso que a gente sente/saudade/é falta que faz a gente/alguém que partiu/alguém que morreu/alguém que o coração não esqueceu..."

Pois é...Carnaval comum, nos dias de hoje é ficar plantada na frente da televisão, e assistir o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Pipocas, sem risos...!


Da Infância aos dias de Hoje . (Apenas um sonho ?)




Nasci na Rua das Laranjeiras. Aos dois anos de idade, minha família mudou-se para a Rua da Pedra Lavrada, e lá ficamos por 5 longos, breves anos!
Rotina diária:O relógio da Matriz, badala de meia, em meia hora...Ainda madrugada, a casa acorda. Vovô Alfredo , com pouco mais de 60 anos, acende o fogo de lenha, e "passa" o primeiro café: quente e forte! Ferve o leite , e com arrozina faz o mingau das meninas. Dá uma espiadela em Donana , que já desperta, reza o rosário da Imaculada Conceição, enquanto clareia o dia... São cinco terços e uma série de ladainhas.Na sequência, passa o lenheiro, o padeiro, o leiteiro e o verdureiro.-Olha o pequi... a banana prata... o cheiro verde... a massa puba... e a cana caiana! Chegam as mulheres da Batateira que por uns tostôes ajudam na lida da casa...São todas comadres: Joaquina, Rosa e Joana.Uma lava os pinicos; outra assume o pilão, e a outra varre o chão - nêle dá uma aguada pois teto sem fôrro e piso de tijolos não dispensam vassoura de palha ,e água pra assentar a poeira. Vovô Alfredo é quem cuida da carne. Mata e trata a galinha; prepara o torresmo, a buchada, a linguiça, o sarapatel, o fígado, e até o chouriço...Ninguém sabe fazer do seu jeito, nem melhor! Donana é a senhora dos doces em tachos de bronze; dos biscoitos de goma em palha de banana; dos sequilhos, brevidades...
A casa, completamente musical. Seu Alfredo assovia "Delicado"; Moreireirinha canta "Renúncia" de Roberto Martins; Erice , com voz de soprano, no banho de cuia, interpreta "Babalu"; Donana canta - enquanto cata arroz na arupemba.."Perdão, Emília"; Valda , embalando as filhas, solfeja uma canção de ninar... " Boi, Boi, boi...Boi do Piauí..."; Didi canta Linda Batista, e espera o carteiro chegar; Dona Joaquina , no tanque e Joana engomanda as roupas de linho branco . Uma voz da vizinhança , canta em toda altura um sucesso de Cauby ... "Eu me lembro muito bem "; Francisco na sanfona de madrepérola, executa La Comparsita ou Petite fleur; na vitrola da sala,Chico Viola em " Cinco letras que choram"; no rádio de pilhas , a novela de rádio, a voz do Brasil, o jôgo de futebol e o programa de auditório; na amplificadora de rua: A lenda do Beijo e o Guarani!
Nas calçadas, brinquedos e folguedos ... cantigas de roda, patinetes, velocípedes, pula-corda, pião, bola de gude, xibiu , bruxas de pano,bonecas que andam, baladeiras, cabra-cega, cinturão-queimado, a brincadeira do anel, esconde-esconde...
Todos saltitantes...Ciranda,cirandinha...O meu chapéu tem três pontas ...,Noite fria, tão fria de junho...O Natal já vem, vem, vem vem...E assim o tempo passa, os velhos morrem, e a gente cresce!

Em 1955, a primeira escola: Externato 5 de julho .(Dona Anilda Arraes, como Diretora ,e Dona Quintina, a primeira professora).
Bom lembrar a festa de Agôsto da Associação de Comércio.Pedro Felício Cavalcante, do Banco Caxeiral era o Presidente. Minha tia Ivone fazia os pastéis... sequinhos, recheados com carne de porco e azeitona.Havia o baile tradicional, que por ser criança, eu nunca fui! Telma Saraiva era a fotógrafa oficial de todas as famílias.Décio Cartaxo, Ossian Araripe e Jose Horácio Pequeno fôram os Prefeitos da época ,pelo partido do velho Filemon Teles: a UDN! Era engraçada a época das eleições. O povo brigava na política. Família e amigos se estranhavam...Ou você era udenista ou pessedista.Na minha própria casa, os votos eram divididos e, a partir dessa divisão, convivi com muitos conflitos. Besteira, esta paixão política, que alterava os ânimos, provocava brigas, e até intrigas!

Em 1955, a primeira sessão de cinema.Matinê no Cine Moderno, pra assistir "Branca de Neve e os Sete Anões".Ingressos a dez tostôes."Eu vou, eu vou...pra casa agora eu vou!"

Um desenho animado de Walt Disney.

Em 1956 morre meu avôAlfredo de aneurisma.Foi um dia de juízo.Ele era amado demais.Com ele fôram-se as balas de mel com umburana, os tostões para comprar perulitos...Partia o mais habilidoso artesão da região.Na hora do entêrro, alguém levou a criançada para brincar no Parque municipal... Calada, catei carrapêtas, nos pés de eucaliptos...Naquele dia eu perdi a meninice !Minha casa perdeu a música, o cheiro de rapé, os latidos de Tupã, e os vestidos coloridos de Donana .No guarda-roupa de cedro, os seus ternos! Caqui era a sua cor favorita!Quem passou a consertar o relógio da Praça da Estação, a fazer bolas de bilhar para o Bar Ideal, a fazer com folhas de flandre mil objetos artísticos ou utilitários ... Não descobri ?!

Moreirinha ( meu pai) assumiu a chefia da família. Entrou em depressão. E a nossa vida por uns meses, mudou de situação.A velha vitrola ficou muda...Nenhum samba canção. Quando a música me fazia falta, eu cantarolava no quintal e chorava muitas vezes, com razão ou sem razão.Ô jardineira, por que estás tão triste/Mas o que foi que te aconteceu...A vida não tinha conseguido quebrar o meu rádio de pilhas!

Em 1958, dois anos depois, estávamos morando numa casa de sobrado, no bairro do Pimenta , quase que deserto, na época. Além da nossa , apenas umas três ou quatro casas. Mas tinha o Tênis Clube por perto. Manhãs de domingo , partilhávamos das matinais dançantes , na varanda do primeiro andar . De olhos fechados dancei bolero, tango, dancei mambo...Mambo Espanha!Meu mundo encantado de sonhos e poesias se descortinara...Era a síndrome de Cinderela... , e eu tinha apenas sete anos!

Na década de 1950, o mundo ainda temia as guerras.

Hoje é Sete de Setembro. Escuto o ruflar de tambores...O povo brinca de desfiles militares e nisso não vejo nenhuma graça. Prefiro acreditar que a terceira guerra mundial, acontece no coração da gente, no dia a dia , e a paz reina, concomitantemente!Em tempos passados, a gente já sabia quando a manhã terminava, quem ganhara o primeiro lugar no desfile: O Estadual ou o Diocesano? E a baliza? Quem era a garota mais bonita?

Não sei o que fazer das noites...Se Dihelson, Abidoral, Salatiel, Cleivan, e outros tocassem pra gente ouvir, a gente desligaria os botões da Globo!

Os antigos estão todos partindo...Muita terra improdutiva...mais ainda adoçada com o mel do caju!

Hoje é sábado, dia 07 de setembro de 2007 . A casa está semi-acordada.

Nada na cidade que possa interessar-me ... Adeus badalações !

"Los the os" toca na " Casa de Taipa"...Um som mix de todos os tempos.E o que mais agrada são as velhas músicas de Roberto Carlos e dos Beatles. Isso, considerando o gosto d0s que já passam dos 40 anos .Na multidão, aqui e acolá, um brilho de prata, salpica o cabelo da moçada.
No mais, a geração é Pop . Moçada que gosta de badalação , toma todas, e estica a noite, em busca de emoção.Nem sei se acha.O fato é que sorri de tudo, e chora por tudo , também.Parece que o riso e o chôro vivem em alternância no coração da gente, mas nem todos conseguem expressar , tão naturalmente...


Vivo recolhida . Queria um bar jazista, uma pista de dança, poemas em guardanapos, pessoas interessantes...( Não é que elas não existam...mas se escondem, se espalham, se deslocam ou dormem nas estrelas, em pontos do infinito) !

Na vitrola do Tempo


A cozinha é a sala de visita dos íntimos. O cheiro de café está sempre no ar... Um dos preferidos de todos . Só perde pro cheiro de chuva e empata com o do jasmim!
Todo mundo tem sempre algo para contar. De instante em instante , alguém toca a campainha ou o telefone chama . Todos estão sempre pendurados no celular, ou ligados na internet... Se duvidar , têm até namorado virtual!
Juscelino Kubitschek não é mais o Presidente da República. Inventou Brasília ,e o Rio deixou de ser a Capital da República . Copacabana é só dos nossos sonhos, e dos boêmios cariocas!Deixei de fazer roupas de bonecas, de ler estórias da Carochinha , de levar lancheira pra escola, de ganhar bombons do Pe.Frederico ,no Instituto São Vicente Férrer; de dançar a quadrilha gritada por Zenira Cardoso, de soltar balão, chuvinha e cebolinha na calçada, em noites de S.João ; de brincar de roda (só de combinação...) , de ler romances em voz alta pra minha avó Donana ; de assistir novelas de rádio, de participar de programas de auditório na Educadora ( subir aquela rampa ...era pura magia!); de dançar nas tertúlias da Pedro II ; de ouvir as serenatas de Peixoto e Zé Flávio ; de usar mini-saias, laquê no cabelo e passar baton com gosto de caramelo, café com leite ou hortelã ; de "aprender" latim com Vieirinha, Ciências com Ivone Pequeno, história com Alderico Damasceno, Química com Pe Davi, Geografia com José do Vale Feitosa, Desenho com Dr.José Nilo , Português com Dr. Zé Newton ...etc,etc,etc!
Apaixonava-me, platonicamente, todos os dias...pelos primos, colegas de classe, e vizinhos! Não perdia a Pça Siqueira Camps nos dias de domingo. Levei lanche pra assistir "Os Dez Mandamentos" , no Cine Moderno. Colecionei álbum de figurinhas dos artistas de cinema. Flertei, indefinidamente, com o garoto dos meus sonhos, sem a menor esperança de namoro...
Senti a alegria do primeiro clarão de Paulo Afonso, e a invasão dos eletro-domésticos, em nossas casas! Ai, ai... Foi o fim da "muriçoca"... genial ! Li revistas de amor em quadrinhos: Capricho, Ilusão e Destino ... Comprei discos da Jovem Guarda. Pedi música por telefone no programa de Rádio de Heron Aquino: (Sou feliz/no trem que parte para o interior/feliz.../porque comigo vai, o meu amor/ e o trem.../ só chega quando o dia amanhecer...") ...E chegava mesmo, em Fortaleza!A gente viajava pra ver o mar, fazer exame de vistas, comprar o óculos, comer cachorro-quente, e tomar "Grapette" ( quem bebe Grapette, repete !).
Criança, adolescente, mulher e mãe,numa única década...inocente e abruptamente!
Crato (1968) . Amei aos 16 anos um jovem marxista dialético.Corri na biblioteca da Faculdade de Filosofia pra locar "O CAPITAL" de C.Marx. Um livro filosófico, chato e complicado para minha cabeçinha de nuvens cor-de-rosa. Procurei saber o que era "mais valia"... E me encuquei deveras , sem entender.. . Por que a Igreja condenava a igualdade para todos ? As figuras mais lindas, sensíveis e humanas que eu conhecia estavam infectadas da suspeita de serem "comunistas"! Calava cada pensamento mas torcia pela liberdade dos expatriados, do povo com sede de justiça e de liberdade.Na minha escola esse assunto era condenado.Eu sabia, no fundo do meu coração, que homens como Miguel Arraes, Sílmia Sobreira, Dom Helder Câmara não poderiam ser estigmatizados...Eram meus ídolos! Protótipos de seres humanos nos quais eu me espelharia.Mas a gente morria de medo de dizer o que sentia...
Meu Diretor, José Newton Alves de Souza era um homem culto e sábio.Apostava no caminho do meio...Nem tanto o mar nem tanto a Terra...Dizia-nos que o capitalismo gerava o egoísmo; que o comunismo, esmagava o indivíduo...Mas nunca proferiu um veridicto. Admirava-o pelo não radicalismo! Claro que nos ajudou, mesmo sendo pressupostamente de direita... Na realidade era um democrata cristão, apolítico, mas filosófico! Um homem de caráter inabalável , completamente admirável ! Será que o Crato tem consciência do quanto deve a aquele Educador?
Tornei-me aos 16 anos, professora de Matemática, talvez pela pressa de equacionar a minha própria vida, de vivê-la insaciavelmente, até encontrar todas as essências!
Mas, volto a falar de Ítalo ( meu amigo marxista ) . Um homem de cabelos e bigodes negro-azulado , olhos de hortelã e voz embargada de ternura. Como não me apaixonar quando cantou no meu ouvido ,... "Love is a many splendored thing" ? Nos correspondemos, diariamente, por um período de um ano. Depois, ele foi preso, minhas cartas foram censuradas ...e nos afastamos! Ele encontrara a companheira certa...uma pré woodstockiana, que não tinha os tabus da época e os velhos preconceitos que enfeiavam a maioria das mulheres! Bem feito para mim, que não estava pronta! Ainda sonho com um beijo, que nunca passou do desejo...Arrepiava-me quando me chamava de "baixinha" e deixava um beijo no final das cartas..."do teu"! Ensinou-me a gostar de Paulo Moura, Nelson Cavaquinho, Cartola, Sidney Miller, músicas clássicas, latinas...e jazz!Presenteou-me com Adélia Prado, Cecília, Clarice e Florbella...Disse-me “que o seu destino era o Rio , e que o meu era Londres"! Sabia que existia em mim uma alminha aventureira dentro dos meus olhos de grandes sonhos !
Casei-me, surpreendentemente, no final do ano de 1969, com o primeiro que me pediu em casamento!Era bom caráter, sincero, amigo... Ainda bem que Deus o escolheu para ser o pai dos meus filhos!

Pandora


Um velho baú , foi aberto com facilidade . Nem foi preciso forçar a fechadura. Embora enferrujada, cedeu ao primeiro tato.Um cheiro esquisito , espalhou-se no ar.Os feixes de alfazema já tinham perdido a validade, e o baú estava completamente lotado de quinquilharias e/ou preciosidades...
Impulsivamente, todos mergulharam suas mãos, pensamentos, olhares, naquele achado.
Não podiam perder tempo ... o jeito era explorá-lo .
Os objetos eram todos identificáveis : um missal de madrepérola, terço de prata, pacote de cartas amarradas com fita de cetim azul, álbum de retratos, caderno de canções, livro de receitas, caixinha de música, um leque, brincos descasados ,um crucifixo de prata e uma medalhinha de Nossa Senhora das Graças.
Era a caixa de Pandora , com todas baratas e lagartas , em saltos olímpicos , ora despertadas !
Na parede , um relógio centenário tictaqueava insistente. Um cheiro delicioso de café, no ar se espalhara ... .Chega Brigite , gata preta, de olhos verdes ...Visão cinematográfica ! Ela , e a rosa cor da tarde ,esperando o luar de agôsto... No fundo , todos são loucos !
-Eu , minha gata e o meu cachorro !

Cigana ou Cartomante ?

Mórbida curiosidade
Restou-lhe a novidade , o encanto!
Pele mestiça , olhos arregalados,
Mostra o espanto , num brilho desconsertado !


Noite silenciosa, mas cheia de olhares...
Em muitas janelas...muitos olhares!
Mas, quem viu duas luas ?

Mesa redonda, coberta com renda
vela de sétimo dia; incenso de mirra;
água da fonte, num copo virgem...
Agora é só abrir as cartas!

O sol já estava frio;
a tarde, sempre morna;
a lua hoje é cheia;
o tempo as vezes corre!

Os homens perguntam muito pouco...
e dizem ainda menos!
Nem sempre desejam saber,
mas sempre apostam , devendo !
A dor é invisível...
A tristeza está nos olhos!

Parece invocar Santa Sarah...
Silenciosamente, embaralha as cartas ...
Não existe futuro, não existe ação.
Está total em seu não-fazer.
Deleita-se com seu próprio ser.

Nesse contínuo vaivém,
Vê augúrios favoráveis
Atrações e repulsões ,
que vivem sempre alternadas ...

Morcegos, sobrevoavam o espaço.
Com a luz de tantas velas , fugiram, intimidados ...
O baralho foi fechado !

Internética

Sua tela escureceu

Sua energia escapou de mim

A frustante sensação de desconexão

Abriu windows da saudade

Poema indefinido (Foto de J.Bantim)

Um pinho tocado por Midos
Uma graviola amarela
uma vela perfumada, acesa na floresta
milho verde, em palhas queimadas
um botão de flor não identificado
uma tela japonesa
um abajour, ligado na lua
um brinquedo de gueixa
um duende mergulhado num barril de chope
uma fantasia de carnaval...
uma camisola nupcial...
uma dor de amor inflamada
na fogueira da saudade!

Hidelgardo Benício - O Mestre do Saxofone




Escutar Carinhoso, Mambo Espanha, Blue Moon, Hello Dolly, Rosas Vermelhas Para Uma Dama Triste , Saxofone Por Que Choras ... executadas pelo Maestro é fazer um passeio no céu , e desejar ficando dançando por lá !

Não é que não existam músicos como antigamente...Mas meu fôlego já não é o mesmo daquele tempo.O Crato era uma cidade dançante! E o cheiro de saudade não se encontra no "Boticário"!

Oa Bailes tinham "Glamour" , quando Ele fazia a festa .
Morreu , porque quis deixar esta saudade na gente !

sábado, 26 de abril de 2008

Personagens da Infância _ Vovó Bibia



Maria Nunes Lima - Filha de Pai Zé Lima e Mãe Candinha , esposa de Chico Nunes , minha avó materna .
A linda mocinha , que mesmo com o rosto chagado de varíola , apaixonou meu avô Chiquinho. Enfrentou as estradas barrentas do Crato até o Piáuí , e internou-se por lá , pra criar a família , por muitos e muitos anos. Trabalhava no pilão , o dia todo. De tardinha , colhia flores , tomava banho de cheiro , passava seu pó de arroz , vestia suas roupas de renda , que ela mesma fazia. Era toda bonita ... Dos pés a cabeça - A Dona Mariinha !
Nos mimava com brochinhos, meias , chapéus , palas de camisola ou vestido , feitos por suas mãos de fada , calejadas no pilão .
Seu nariz , seu buço , sua testa , pingavam gotículas de amor , fruto de um trabalho perfeito !
Tinha cheiro de jasmim , misturado com flor de laranjeira ...
Minha mãe sonhava em herdar-lhe a paciência. E nisso , foi atendida por Deus ... De quebra , herdou também a "diabetes ". .. ( e por genética , eu também !)
"Mas tudo vale a pena , quando a alma não é pequena "! (Assim dizia Pessoa ).
Sua canção preferida : "Na Casa branca da Serra ". Confessava até , que dessa canção , era musa inspiradora !





sexta-feira, 25 de abril de 2008

Personagens da minha infância - Vovô Chiquinho- (Foto de Pachelly)

Francisco Nunes - meu avô materno , pai de maria Valdenôra Nunes Moreira , casado com Maria Lima .

Pernambucano , nascido em Itambé , numa passagem pelo Crato , apaixonou-se por Maria , e isso mudou sua vida . Esperou a cura da Varíola , e carregou-a para uma fazenda , nas brenhas do Piauí , em Santa Rita , Município de Picos . Trabalhou de sol a sol , batendo palhas de carnaúba , vendendo cêra , criando gado , fazendo queijo , pra educar sua prole. Mal completavam 6 anos , os filhos largavam o mato , e iam para a cidade , em busca de instrução. Foi assim com a minha mãe, e mais os seus seis irmãos. Dentre os varões , três eram mulheres . Todas de uma beleza indizível ... Pareciam saídas dos estúdios de Hollyood , ou dos Montes do Olimpo.
Era baixinho , de olhos azuis , feições delicadas , e andar miudinho. Falava baixo , mas tinha a maior moral ! Um pai e avô carinhoso, beijoqueiro , que botava no colo , sem negar um pedido , que fosse feito com jeitinho. Mascava hortelã e losna , cheirava rapé , tomava pílulas de vida do Dr. Rossi.
Depois dos filhos casados, e encaminhados , vendeu tudo , gastou tudo , e foi morar no Recife com a filha mais velha ( minha tia Aldenôra e o Ten. Luiz). Pra não ficar ocioso , tinha uma banquinha de jôgo de bicho , onde os conhecidos botavam a fé !
Quando morreu , tinha dinheiro amarrado na ponta do lenço , que lhe garantiu , enterro descente !
Era um desbravador na juventude.Um membro em potencial do Partido Verde. Um Vigia da natureza !
Fazia conosco ( netos ) os passeios mais inusitados , e inesquecíveis : visitas ao Zoológico , caminhadas por vias íngremes e sinuosas , translados de bote , etc .
Tinha muita sensibilidade e perspicácia. Um gênio doce e calado. Quem sabe era um grande obstinado ?
Presenteou minha mãe , certa vez , com um bandolim. Escondeu atrás de uma moita de capim , e deixou que ela procurasse até encontrar . Para surpresa da moça , que já aprendera a tocá-lo !
Faleceu num mês de maio , quando eu tinha 13 anos. Foi o pai adorado da filha Valda , que ele amorosamente, apelidava de Tetéia , e se duvidar eram gêmeos de alma !

Personagens da minha Infância - Vovô Alfredo - ( Foto de Pachelly )


ALFREDO MOREIRA MAIA - meu avô paterno. filho do Caboclo Moreira e esposo de Donana -
O mais terno avô do mundo !
Morreu de aneurisma , desgostado , quando teve que sacrificar seu cachorro "Tupã". Eu contava 6 anos.
Cuidou das minhas mamadeiras , adoçou minha boca com balinhas de umburana , carregava-me nos braços , quando eu adormecia , no colo de Donana. Aperriava aquele homem , o dia todo ... Vô , quero dois mil réis pra comprar pirulito. A sua caixinha de moedas , ficava sempre vazia .
Era dotado de uma inteligência privilegiada. Nada existia que , nas suas mãos não tivesse conserto , nem se transformasse em arte. Era um artesão de primeira. Consertava o relógio da Sé , da Pça da Estação , fazia bolas de bilhar para o "Bar Ideal " , joias ; fundia qualquer metal , e transformava numa peça útil ou ornamental.
Elegante e belo , como o "Belo Antonio " , vestia-se no cáqui ou no linho branco , chapéu combinando , relógio de algibeira , suspensórios e alfinetes na gravata.
Que sorte teve a minha avó , de ser amada por aquele homem !
Ficou na minha memória o seu assobio : Delicado ...Um chôro lindo - Sua canção preferida !

Personagens da minha infância - TIA ROSA -

Rosa Moreira ( irmã do meu avô paterno , Alfredo Moreira Maia)


Acanhada , aluada , orfã de pai e mãe , tinha o semblante de um anjo desmantelado , mas de luz intensa !
Chegava e saia calada . Ficava de cócoras num canto da cozinha , a espera de um prato de comida , de um cumprimento , de um mimo. Maltrapilha e rota , minha mãe , que a chamava de Roseira , dava-lhe um trato ; unhas , cabelo , e banho de cheiro . Ficafa tão linda , como uma rosa vermelha ! Tem gente que parece bicho do mato pelos maltratos ...
Tia Rosa era minha tia marginal , pela pobreza e simplicidade . Culpo-me por todas as vezes que deixei de lhe pedir a benção, ou senti vergonha daquela velhinha com aura de santa !




Personagens da minha infância - A Virgem das macaúbas

Corria , quando chegava. Corria , porque esperava ... Trocava qualquer mantimento , subtraído da despensa da casa , por um saquinho de macaúbas : pequenas , maduras e doces. Depois de roídas , elas viravam xibiu . Com dez coquinhos , a brincadeira estava completa . Com eles , jogava , interessantemente , nos batentes de casa , com a meninada da rua .
Vestia-se como a Virgem : Manto azul , branco véu ...
Parecia ,a minha Mãezinha do céu !

Personagens da minha Infância - TANDOR


Seu rosto era protegido por um chapéu. Tinha sons metálicos que anunciava, inconfundivelmente,
a sua chegada :"Mói, Mói, Mói ..."
Um artista fantasiado de esmoler . Um esmoler com talentos artísticos . Seu cachê era um pedaço de pão , uns tostões , um prato de comida ... A meninada alegre , lhe socorria , sorrindo !

quarta-feira, 23 de abril de 2008

PARA OS TEMPOS QUE SOCORRO MOREIRA PROCURA

Os tempos inelásticos são.
Para conter cada partícula que no tempo é conteúdo.
Não há amor fora do tempo
o amor não envelhece como senso de morte.
O amor se move como a flor que frutifica
continua no tempo mesmo
que contém cada partícula.
Na jornada pode haver mudança de ímpeto,
perda de vontades,novas trajetórias de desejos,
mas jamais fora do tempo
que inelástico é.
O tempo apenas contémo amor que se move
como fluxo de presença futura,
feito partícula que o tempo contém.
Postado por José do Vale Pinheiro Feitosa

Donana - "Súplica "


( Ana Amélia Ferreira de Menezes . Filha do Cel . Aristides Ferreira de Meneses , esposa de Alfredo Moreira Maia - Minha avó paterna . Dizia-se parente dos Monteiros, Bezerra, Lobo, Norões , Pinheiro, Gonçalves , Milfont , *Aires ...
Com todos os antigos do Crato , tinha alguma afinidade. Por ela sou parente de muitos , e com muito gôsto ! )

Quando abri os olhos, e o entendimento, ela estava na minha vida .
Pés e mãos miudinhos, testa alta, e o sorriso mais lindo do mundo !
Depois que enviuvou, vestia-se com sobriedade , comprimento no tornozelo , mangas compridas , preto mesclado de branco, meias de algodão , mantilha na cabeça , rosário no pescoço.
Tinha um temperamento romântico, nostálgico ... Chorou tantas dores , que perdeu os cílios, mas não perdeu o brilho do olhar. Cochilava no balanço da cadeira, rezando o terço, e vigiando a rotina da casa. Nada passava-lhe desapercebido. Era antenada , e tinha as "oiças" boas , como dizia minha mãe Valdenôra . Cantava pra espantar os males , quando a tristeza lhe pegava a alma ...Voz sonora , entoada , como a de um passarinho engaiolado. Dizia-nos que cantara , na mocidade , no teatros de revistas ( musicais) , com a autorização expressa do Cel. Aristides.Ganhava todos os papéis principais , e nos contava em detalhes sobre as fantasias , compatíveis com os personagens que interpretava . Foi a Noite , A Morte , A Primavera , A Florista , A Saudade , A lua , etc,etc. Era contra a escravatura. Nasceu no ano em que a lei Áurea foi promulgada.Falava do tronco e do trabalho escravizado com muita angústia , e compaixão .Presenciou os resquícios desse tempo de opressão . Eram escravas , as suas amigas de infância , e com elas dividia as bonecas de pano e as rapas do tacho. Tinha a barriga farta , e adorava cozinhar. Inventava sempre uma novidade , distribuia com todos , e escondia um pouquinho , para nunca faltar , e barganhar carinho !
Se a gente lhe fazia um desagrado , logo avisava : " Dessa iguaria , você não verá nem o azul" ... Mas nunca cumpria a ameaça. Com ela aprendi a fazer sequilhos , pão-de-ló com erva - doce , bolo de goma frito , ou no forno, enrolado em palha de banana. Arroz com quiabo , carne batida com jerimum , feijão com toucinho , sempre acompanhado de frutas : banana, caju ou manga - Era a sua refeição preferida.
Adorava os netos.Emprestava-lhes o colo com direito a cafuné, para o sono das primeiras horas. Alcovitou os nossos primeiros namoros, sentiu a dor dos rompimentos , nos chamava de "malvada" , quando a culpa era da gente.
"Vai pra baixa da égua ", dizia pra quem lhe pisava nos calos .... Mas logo explicava : Não é nome feio..."Baixa da Égua " é um lugar que fica , nas proximidades de Missão Velha . Será?
Fuxicava da gente , perante os nosso pretendentes : "Cuidado com essa menina . Ela tem chita , e é das miudinhas " ! Mas , no fundo , torcia , pra que ninguém ficasse pra tia !
Escapou da morte aos 40 anos, e foi salva por Dr. Gesteira , depois disso , ainda viveu com saúde e lucidez , por 53 anos , com apenas um rim. Ativa, participando de todas as festas , viajando pra cima e pra baixo , visitando parentes, com energia invejável !
Chorava a infância perdida , a vida na fazenda , nos engenhos de cana , nas casas de farinha , a perda de filhos, marido , e o desprestígio de ir ficando "velhinha". Mas era linda ! Linda , linda , linda .. como diria Bianca ( minha neta ) se ela fosse viva !
Era viciada em novelas de rádio, romances de amor ... Como tinha a visão quase comprometida , obrigava-me a ler em voz alta , uns tantos livros , que como tesouros , os guardava. Li e reli : "O Moço Loiro " , "O Herdeiro do Castelo " ," A Casa dod Rouxinóis" , " A Escrava Isaura " , A Moreninha " , "O Tronco do Ipê" - os seus prefeirdos ! Nunca vou esquecer "Mirtô", " O Conde Mário , e Aninha " ( Personagens do Moço Loiro e do Herdeiro do Castelo , respectivamente .Os homens acabavam convertidos pelos atributos de mulheres virtuosas. E o amor vencia ! Eram felizes para sempre ... Ninguém morria ! )
Classificava por estereótipos a raça humana, sem uma gota de preconceito ... Isso era interessante :
"Fulano é alvo, loiro dos olhos azuis , corado que o sangue que espirrar ; mulheres que não têm sangue negro são desbundadas ; moças de sangue europeu possuem cabelos finos, e encaracolados ; as índias têm cor de canela , pele lisinha , sem acne, cabelos lisos , sem dar uma volta ... Mas a beleza vem de dentro ... tá na alma !
E ela era qualquer coisa de índia , de mestiça , de portuguesa ... Casca de uma alma nobre !
Adorava presentes , e presentear : corte para fazer roupa nova , óleo para o cabelo , travessa , mantilha , velas , água de cheiro , leite de colônia , sabonete de juá , travesseiro de plumas de aves , mesclado com folhas de eucaliptos , urinol e candeeiro ao seu alcance , perto do santuário , coalhado de santos. Não fazia promessas com Pe. Cícero . Para ela , ele não era santo ... era primo !
Não comprava remédio em farmácia .Fazia suas proprías meizinhas : chá de flor de abacate, boldo , macela, casca de laranja , capim- santo , endro , erva-cidreira , e uma cibalena diária. Vida longa. Sem química , alimentação cem por cento natural ... Deu certo !

Não sabia bordar, fazer crochê , rezava num cochicho eterno. Teve um casamento feliz, um marido amoroso , 4 filhos criados ( um deles , adotivo ), genros e uma pancada de netos.

Faz-me falta aquela mulher ...muita falta ! Falta da sua raça , fortaleza , e da grandeza do seu coração ,, que cabia o mundo !
"Um sorriso de Maria " , para enfeitar sua noite de anjo !
* Aires não é um nome de família. A prole do Seu Aristides era conhecida como Aires : Maria Aires , Ana Aires (Donana) , Fantina Aires , Paulo Aires , Pedro Aires , Rubens Aires , Alfredo Aires , Júlio Aires , João Aires , etc.
Foi mãe de uma ruma de filhos , mas apenas ficaram adultos : José , Moreirinha , Auri , Ivone e Valdir ( sobrinho , filho do coração ).
Netos citar :
De Alfredo Moreira Filho (Moreirinha ) : Socorro Moreira Nunes, Verônica Moreira Bezerra , Zélia Moreira Xenofonte , Alfredo Moreira Neto , Teresa Nunes Moreira , e Catarina Moreira Sampaio .
De Ivone Moreira Aragão : Aderbal Moreira Aragão ( 3 filhos ) , Maryane Aragão Esmeraldo( 3 filhos ) , Teresa Moreira Siebra (3 filhos) , Antonio Moreira Aragão (4 filhos ) , Graçinha Aragão do Espírito Santo ( 3 filhos) , Ivone Aragão Lino (3 filhos ), e Fátima Aragão Sampaio (3 filhos ).
De Auri Moreira Montoril : Francisco Moreira Montoril (3 filhos) , Bartolomeu Moreira Montoril ( 3 filhos ) e Socorro Moreira Montoril ( 1 filho).
Os Bisnetos , nem dá pra contar - A lista ficaria incompleta !
Os mais próximos de mim , e da minha lembrança são :
Caio Marcelo Moreira Bonates , Victor Arturo Moreira Bonates , André Ricardo Moreira Bonates , Bruno Moreira bezerra , Sampson Moreira Bezerra , Giorgio Moreira Xenofonte , Samira Moreira Xenofonte , Dyan Moreira Xenofonte , Derek Moreira Xenofonte , Ana Carolina Moreira Dourado , Rodrigo Moreira Dourado , Rafael , Gabriel e Daniela (filhos do meu irmão Alfredo e Silvana); João Diego , João Marcelo e João Alfredo( filhos da minha irmã Catarina com João Sampaio Xavier ).
E os Tataranetos ?
Conheço apenas Juan e Camila ( netos de Zélia ) , Camila (neta de Verônica) e Bianca ( minha neta ) . Mas vem muita gente a caminho ...
"Aço frio de um punhal foi teu adeus pra mim ..."
É a voz de Donana ou a de Orlando Silva , cantando ?

domingo, 20 de abril de 2008

Cartas se Amor II


"O que nos separa é o amor que nos une".
Envelopes rasgados
Papel manchado de batom
Censura , rasura, uma aqui , outra ali ...
Uma explicação , uma declaração , uma jura ...
Tristeza , e saudade , nas entrelinhas
Contagem regressiva do tempo ...
Faltam apenas dois dezembros ...
Quem sabe , se Deus permitir !
Cartas guardadas , perfumadas ,
devolvidas ou queimadas , findam em nada !
Cartas de amor ...
Surpresa ,
suspense , letra tremida ,
um poema de J.G. de Araújo , enfim !
Cartas de amor ...
soltas no mundo
Nas mãos do carteiro , buscam o seu destino ...
escondida na bolsa , escondida no tempo ,
pensamento doce de um amor ausente !

sábado, 19 de abril de 2008

"la vie en rose "

Lembrar - viver!
Repetir - aprender!
Lembrar repetindo...é morrer !
Só quis amar...
Acendi luzes,e encontrei...
agulha no palheiro!

Manhã cor-de-rosa
Doce aurora !
Da janela,o mundo parece foto...
Inanimado !
Se não fossem os latidos dos cães,
só ouviria o som do teclado !
O rádio na madrugada,revive carnaval passado...
"Loirinha, loirinha...dos olhos claros de cristal...
"E na minha memória,um som na vitrola,
soluça "Anaí"...

Lembra nosso sonho?
Uma casa...de cabeça para baixo,
no plano do nosso mundo !

Faz de conta...
Que o gôsto dos meus olhos é te olhar;
A dor dos meus ouvidos
é o som dos teus gemidos...
E os ais...mentiras ?
São suspiros !

As ondas do mar vistas de cá,
parecem nuvens,flutuando no gelo.
É instantâneo ou lento...O descortino ?

Olho o mundo pela janela
Bocejo com a tarde,num falso desinteresse
Eu ...do mundo
A tarde ...da noite
E no pensamento,
junto fragmentos,que formatam o toldo !

Tempo coberto...
Como as meninas de colégio de freiras.
Tu fazendo promessas ao menestrel das praças,
ao som de flautas e gaitas,canções antigas, remotas...
" A minha renúncia...enche minh'alma e o coração de tédio...
Canto a fossa,enquanto o amor não volta,
ou descobre outro endereço...
Mas até lá...quantos janeiros ?

Tristeza Vazia

Noite de lua cheia
lua em capricórnio,
lua que tira o eremita da toca,
noite de lanterna apagada,
de rastro de lua,num caminho serpenteado de pontes solitárias,
noite de louca paciência...
Reponho-te fora de mim, e preencho teu vazio
com pedaços de lua , coqueiros iluminados,
que enfeitam meu Oásis sem ti...
Um pedaço de noite...
papel e lápis no desânimo de encarar a estrada
o medo do amanhecer...
Vez por outra,ocorre-me a lembrança
de um momento mágico,
como se tivesse sido o único da minha vida...
solto pensamento e lembranças...
sem esperar retorno...
você me ensinou a fórmula da alegria !
Em tuas mãos ,
a chave dos meus mistérios ...
Se eu não te conhecesse ,
minha tristeza seria vazia ...

No Cais da Paz


Se eu pudesse te pinçar nesta manhã
Roubar-te do trânsito...
Levar-te-ia ao pico mais alto da minha paz!

Acorda meu sol
Mostra minha face invisível
Presa no prazer do dia
Já não procuro sarnas...
Coçam-me as lembranças,
Numa trajetória finita...

Os nós
Desatam-se...
Quando o tempo passa
E a gente fica!

Banho de cheiro
Tarde lavanda
Ritual boticário
Espanta nosso engano!

O sol


O sol ...
Quando a sua luz pode explicar o infinito?
Diário...Sempre inrrepetível!
Noturno...Sempre escondido!
Nasce, brilha, possibilita vida!
Foge do olhar que se apaga...
Queima a planta do destino que se corta
Iluminam no céu, almas que viajam.
Põe-se no horizonte
Mar , nuvens
Verdeja a flora , que enfeita a casa.

"Quem cala , consente "!

Quem cala, consente ?
O compromisso com a verdade,as vezes nos cala...
a mentira piedosa,nem sempre agrada...
Se alguém nos descobre,ela assume,proporções inestimáveis...
O contrato da verdade,sem cláusulas de omissões,
nos torna livres de tudo que nos inquieta
Machucar alguém, porém...
dói mais do que qualquer verdade!
"quem cala consente..."o não é um grito ...
mesmo sussurrado,tem valor de sim !

Renascimentos

Com disposiçãode efetuar , as sempre adiadas mudanças:
- comer apenas arroz integral;
parar de fumar;
cortar enlatados;
vigiar compulsão de comer;
caminhar, na beira do mar;
fazer expurgos no guarda-roupa;
queimar papéis;
mudar o sofá de lugar;
criar espaço aconchegante ...
tipo uma sala íntima,pra meditar e dançar;
sublimar paixões impossíveis;
ser mais gentil comigo ;
experimentar,uma nova receita,culinária, e de vida...
conquanto sinta mais prazer,
a nível de todos os sentidos;
telefonar pra algum amigo,que deixei no ostracismo;
t ingir os cabelos, de uma cor diferente;
bordar,um jeans;
testar um coquetel refrescante;
mudar o cheiro da casa;
fazer um poema ,de costas pra lua,
e de frente pro sol ..
daqueles que uma frase basta...
Renasci !

Aleluia !


Consegui fazer tapioca sem bagunçar a cozinha;
encontrei figo maduro,no quintal da vizinha;
alcancei nos galhos dos jasmins,algumas florzinhas;
fiquei sem fumar por muitas horas;
não comi chocolates,em nenhuma hora;
estou sem sofrer,sem pensar negativo,
revitalizei o que estava adormecido;
equacionei meus problemas,e me sinto serena;
Não duvido do amor,nem brigo contra sentimentos,
mas deixo-os quietinhos ,onde bem deseja o momento;
sei o valor de cada amigo,sei tudo que faltava em mim...
Deus passou a ser locatário ...tomou conta de mim...
Aleluia !

"Mim ... e umas noites "

Mim... E umas noites
Até a poesia do teu silêncio, me preenche!
O mar...Beber ou atravessar?
O céu... da Terra aproximar?
E o encontro, na linha do horizonte...
Em que Janeiro será?
Você me oferece um prato de si e uma noite...
Eu te devolvo, num prato vazio...
Cheio de mim e umas noites!

Maria Mãe



MARIA MÃE (Para Maria Valdenôra)
Maria me gerou na cumplicidade do mistério divino.
Maria esposa de artista , que o céu já convocou.
Maria avó , mãe, santa, flor!
Maria da família,da cidade,dos amigos,
dos santos,dos cristos,de um único Senhor!
Maria dos caminhos de chuva
Maria ardente de sol
Maria inflamada de amor!
Maria das dores,das saudades,
da sabedoria,da paciência,da suprema fé,
Maria de todas as cores!

Inonimada




Eu quero é uma grosa,muito mais de muitas grosas...
Eu quero que esse amor não pare de crescer,
que tome conta inteira de mim,corpo, alma...
Eu entrego o ouro pro meu bandido com muito gosto.
As vezes fujo do meu caminho amoroso
que gosta de tocar, cheirar, apertar...lamber, gemer,
e permanecer...
que só sabe falar palavras doces
escorridas em mel,e calo na palavra
o que meu coração grita até enrouquecer:
Amo você!

Fantasia



Pára esse carro num lugar seguro e bonito;
esquece tua estrada,e me abraça nesse atalho,
Fica em silêncio,deixa que eu conduza o caminho do carinho...
Quero mais intimidade até pra dizer o que não quero;
o que não devo,o que não posso,o que me dá tesão!
Por isso preciso de tempo ...
até esgotar o inesgotável
Até você descobrir ,que me matou de prazer,
E eu te levei comigo pro céu desse caminho!

Conchinhas



Hoje eu quis tua cabeça em meu colo

pesando no meu sexo;

hoje eu quis minhas mãos, na tua cabeça

adormecendo a tua inquietação;

hoje eu quis meu sopro em teu ouvido

como um vento marinho

em conchinhas...

Hoje eu quis teus olhos cerrados

relaxadamente feliz;

quis teu riso de gozo

explosão, coração!

Vigília


Noite silenciosa
Fazendo silêncio
Pra que eu não desperte do sonho.
Estou cansada de ver a vida
Da janela de um trem
Estou sempre de malas prontas ,fechadas
Na bitola do trem...

Silêncio Solitário -Socorro Moreira - Foto de Dihelson Mendonça


Com saudades do passado...

Não te vejo no presente...onde estás?

já andei demais...quero achar ,

parada, sem procurar no mapa,os teus sinais...

águas , ares , coração !

Agora vou atrás do sono.

O sonho chegou primeiro...

Eu, você, janeiro, um dia do ano...porvir!

Liberdade começa, quando consentimos nossos olhos,

a tudo perceber...

" Mil vezes a sina de uma gaiola pra que o céu/pudesse olhar..."

Mas furaram os olhos do assum preto...

Esta canção nordestina é muito triste...

Ela coloca a liberdade no olhar!

Ser livre é poder olhar pra todos os lados

-Quem ama nunca vigia o olhar !

Silêncio solitário

Da solitária cela um céu sem avião

barulhos solitários

pássaro,torneira,rádio,e uma ponte imaginável...até o Crato.

o instantâneo,suprime cores ,imagens...

sinto silêncio no teu carro

teu olhar se atenta numa estrada

onde barulhos normais escondem teu sorriso.

paciente,recolho o absorto,

e solto da tua gaiola meu pássaro escondido.

É tudo muito estranho,nesta nova dimensão.

Mas ainda estamos vivos!

Não se explique..volte sem voltas

não volte...vamos adiante!

vivo solidão,e respeito silêncios

cada vez mais estreito é o caminho que nos liga

e tem tua rubrica ...é sempre bem vinda !

o que me apraz na vida é a força poética

onde teu lápis e meu papel

versam !

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Cinema antigo


Quem lembra o tempo em que, praticamente, o único divertimento eram as sessões de cinema?Todo mundo era cinéfilo, sem nenhuma consciência! A gente assistia a matinê, a vesperal, a sessão das 4h, e ainda cochilava, na sessão das 20 h. Antonioni era censurado para crianças...hei,hei... era só para quem tinha 18 anos, e olhe lá! Existia uma censura da Diocese, pregada no mural do Café Itaytera, que barrava a nossa entrada. As meninas do meu tempo só conheciam B.Bardot, Virna, Ava, Monroe, na revista "Cinelândia", que nossos pais assinavam.Eu lia todas! Sabia aos 4 anos, o nome de todos os maridos da Liz Taylor...Achava estranho,achava bárbaro! Ela não cumpria o castigo de ser infeliz , a vida inteira!
Depois, quando cresci, senti uma pena...! O sonho do amor para sempre, também foi por nós absorvido, nos livros de M.Delly.Estava gerado o conflito! Não sei como o povo da minha geração escolheu...tomara que tenham sido felizes!
Mas, enquanto não assistíamos Antonioni, víamos tanta coisa bonita, na telinha...:O mágico de Oz, Melodia Imortal, Música e Lágrima, Sissi, Zorro, Tarzan, Sapatinho de cristal,O pequeno Polegar,A Noviça Rebelde,Quando Setembro Vier, Aldilá, As aventuras do Gordo e o Magro,Chaplin,Marcelino Pão e vinho,Marisol( mil vezes Marisol!) os filmes épicos, os bíblicos, e os musicais...ah, os musicais! Inesquecíveis! As vezes vou em "Manoel" , lá no Jota, catar o que passou na minha infância, e não assisti por pouca idade. E foi assim, que a gente reencontrou Antonioni, Bergman,Bertolucci,Visconti,Scola,De Sica,Glauber Rocha,Fellini,Hichcock,Woody Allen,Pasolini,Truffaut,Godard,Vadim,Coppola,etc,etc . Claro que não preciso falar em Cecil B.de Mille, nem Walt Disney!
Se a gente tiver paciência, todos os segredos e mistérios, nos são revelados...menos o da vida e da morte!Nem precisa ser famoso...basta ter sido o fruto sadio de uma árvore; ter encontrado a própria essência, ter sido feliz!
Eu ando ultimamente, mas do que em toda vida, insaciável! É que já passei da meia idade, e a terceira, me acena, na curva do caminho.Como aposto na paisagem depois da curva...corro,corro,corro, e peço socorro, no mato sem cachorro!

Ponte dos Suspiros


Tudo nos separa
Mas uma ponte invisível
sempre unirá a tua e a minha saudade!

Cheguei no umbral do destino
porta estreita,sem caminho
encaro a viagem,sem os veús,que me atrapalham!
Sigo...sem perder de vistas o rumo do infinito!
Tenho encontro com Osiris
numa tarde de abril!

Estamos sempre mergulhados na essência
que recheiao que a vida fatia!

Você vive protegido... Que tecido é esse?
Quero um fio para entrar na tua teia!

Chuva


Um dia é o céu que chora, porque tomou do mar as suas águas;

Outro dia é o cisco do meu olho,que a lágrima expurga!

O gôsto nem sempre é doce, mas orvalha a cara.

Chuva é benção...

Quando não chega,eu molho a grama do jardim,

e forro a cama de esperança!

É a mais linda imagem, que a natureza declina

branda como a lágrima,quando expele a dor,

e dela o coração se descola!

E essa "incompreensão" humana,de amar,sem entender...

é mistério benfazejo...

Aflora o cio

desvia o tédio

frutifica a poesia!

"Aquele que virou Anjo "




Conheci Normando ,em campanha política estudantil. Naquele tempo, eles visitavam as salas de todos os Colégios, para exposição de idéias, e apresentação dos candidatos , que formariam a chapa.Sua figura se destacava, pelo jeito "cavernoso" , irônico e irreverente.Era um idealista! E, embora não estivesse disputando o cargo de Presidente da UEC, sobressaia-se, na sua postura de líder.Não sei por que cargas d'água ou, culpa do seu carisma, conquistou o nosso voto, fácil, fácil...Isso foi em meados dos anos 60.* Pesquisem essa gestão!Tenho a impressão que o cargo que ele ocupou foi de primeiro secretário.Mas não tenho certeza...Só sei que fui eleitora de Normando, naquele tempo, depois de muito tempo,agora e sempre!
Depois, ainda nos anos 60, reencontrei Normando, nas escadas do Colégio Estadual, namorando com uma garota chamada "Vera", nos intervalos das aulas. Olhava os dois , pelo canto dos olhos...Formavam um belo par! Ainda escuto a risada em uníssono, denunciando leveza e alegria!Ele não era exatamente o meu tipo...(risos).Mas incomodava-me bastante, ao ponto de achá-lo, cá com meus botões, o rapaz mais charmoso dos meus tempos! Não tive chance.Existia Vera, existia Lúcia...E eu estava noutras órbitas...Nunca um olhar sequer, nós trocamos!Era o fim dos anos 60.Todo mundo daquela geração se dispersou: pra casar, estudar fora...E o mundo girou!
15 anos depois, 1984, depois de muitas andanças, trabalhava no Banco do Brasil de Mauriti, quando ouvi sobre Normando! Uma pergunta geral, da moçada que frequentava o Parque Municipal.-Você já conhece Normando, Socorro? Pô, precisa conhecê-lo!Ele trabalha no Cesec Juazeiro do Norte, e está ilustrando o jornal informativo do Cesec.O cara desenha bem pra caramba, além de ser, super boa gente!E as notícias sobre a genialidade de Normando, corria nos ventos!"Normanto separou-se da mulher"; "Normando parece "Pardal", vive inventando coisas"; "Normando vive testando e descobrindo novas técnicas de pintura";" Normando é politizado, anárquico, e de um profundo senso de liberdade, justiça, e humanismo"."Normando é o máximo!"
Uma noite, no Parque , avistei Normando brincando com duas crianças( um casal de filhos).Imediatamente associei sua imagem ao moço que eu conhecera um dia... Mantive distância , e fiquei a observá-lo.Nem se deu conta de mim.Estava absorto em cuidados, e inventava folguedos para distrair as suas crias.Fiquei encantada com a "performance" daquele pai.Putz,que cara!Todas as vezes que voltei ao Parque, naquelas épocas ( 84 a 87),encontrava Normando com a galera de sempre: Rafael, Geraldo,Pachelly, Terto, etc,etc.Como prima de Geraldo , eu me introjetei naquele mundo eucaliptizado...Mas nunca Normando me foi acessivo.Era monossilábico,nas respostas, quando eu o interpelava...Enfim,não alimentava papo, embora fosse elegante e gentil!Mais uma vez, a despeito do tempo, pensava cá com meus botões:Meu Deus, que homem é esse? Confesso que, uma esfriadinha na barriga, eu sempre sentia, quando a gente se topava.Não conseguia interessá-lo...ele tinha o poder de me embobecer.Com um leve sorriso de zombaria, parecia adivinhar, o quanto me ameaçava!
Em 1986, o destino me pregou uma peça. Trabalhávamos em Agências diferentes, mas fomos convocados pra fazer o mesmo curso, em Recife.Ficamos no hotel, em que todos ficavam:Hotel São Domingos, pertinho da Av.Guararapes, aonde ficava o Centro de treinamento(DESED).Primeiro dia, nos esbarramos, no café da manhã.O cara, nem "thum" pra mim! Um bom dia desligado...e ponto!Final do dia, quase noitinha, vi que se distanciava com mais dois colegas...Apressei o passo, e emparelhei com o a turma.Iam todos para o Pátio de São Pedro, dançar ciranda, tomar caipirinha de pitanga! Literalmente, convidei-me...e fui!
Nos acomodamos, num dos botecos da área.Era uma mesa enorme com uns vinte colegas, e eu! Chegou um violão, no ombro de alguém.Foi convidado, e tirou as primeiras notas: "Notícia"( uma música antiga de Nelson Cavaquinho).O povo silenciou, conversou...Mas, só eu e o Normando, conhecíamos a canção, e todas as sequentes. Ficamos os dois a cantar, initerruptamente, até as altas da madrugada.Não perdíamos uma dica do "bom cantador".Repertório impecável,boêmio, poético...e aí,as afinidades explodiram, fatalmente!.Bebi todas, e não me embriaguei...nem me embobeci!Ele não era "Judas" pra negar-me! Tornamo-nos camaradas! Já voltamos pro hotel, amigos de infância!
Protegeu-me, como se protege uma irmã.Já no Hotel, cada qual pro seu canto! Sem um beijo...Apenas um sorriso de quem já não negaria ,uma bola de sorvete!Obedecemos os horários de treinamento, e fizemos programas noturnos, diários:cinema, barzinhos, jogos, etc,etc. Estranhava o cara não me paquerar...Eu estava "gata", na plenitude dos meus 35 anos.Acho que depois de quase duas semanas, resolveu contar sua história.Estava divorciado, mas comprometido com o seu amor de adolêscência.Depois de vinte anos, Ulisses voltara para Penélope.Que podia fazer, a não ser me ternurizar com aquela história?Transcendi, instantaneamente ,todo meu tesão!E me coloquei, na linha de amiga,porque já era tarde pra não amar aquela figura..."Tarde demais para esquecer"!
Convivemos na sequência, amorosamente, por (6) meses...Um dia, fui embora pro Mato Grosso do Sul;noutro dia, ele zarpou para Brasília.Mas antes dessas despedidas, permiti que herdasse a minha amizade pelo João Nicodemos.Grandes amigos ficaram.Amigos de emocionar, até Deus!Não consigo falar dessa trilogia: Socorro, Normando e Nicodemos, sem chorar...sem me engasgar de saudades!Por breves 11 anos, nos víamos, nas (4) festas do ano.Sempre, sempre,o amor do mesmo jeito.Idependente das nossas realidades solitárias, fomos fiéis a tudo que no amor, se aumenta!Respeitei a escolha amorosa de Normando, e ele conviveu com todas as minhas escolhas ( erradas ou não)!O sentimento que nos uniu, nunca se quebrou;nunca discutimos, nunca nos aborrecemos, nunca nos entediamos, nunca nos desligamos...Até que a morte nos separou!Tudo foi ficando mais forte, com o passar dos tempos... Mas perto vai ficando, de um amor eterno!

Tio Valdir


Tio Valdir do Pai Mané , filho adotivo de Alfredo e Donana (meus avós paternos ).
Ele tinha uma doçura sem par.Ensinou-me Augusto do Anjos, cantou-me em detalhes :"Eu e outras poesias ". Assustou-me com a frase de Augusto,no leito de morte : "Ó Deus , se é que existes , tirai a minha alma , se é que a tenho ".
" A mão que afaga é a mesma que apedreja".Confie, desconfiando, fuja de quem trapaceia , mas não escarre , na boca que te beija. Assim falava meu tio ...A troca é pura delicadeza , e gera sinergia !
Tivaldir ganhava tão pouco, mas assegurava-me uma mesada semanal. Com aquele rico dinheirinho , tinha ingressos no Carrocel , pipocas no cinema , guloseimas , nas bancas de bombons. Tenho uma pena danada , hoje , daque bolso rasgado , generoso .
Ele tinha respostas, na ponta da lígua , para todas as minhas curiosidades ... Pingava sabedoria , na minha cabeça chata !
Um dia , zarpou para São Paulo , por recurso de vida , e nunca mais nos viu .
Em 1981 , conheci Sampa por três dias .Com endereço na mão , e dinheiro contado, peguei um taxi até o ABC paulista. Cheguei naquela casa de operário com o coração aos saltos . Seus olhos azuis platinaram ... choramos, e nos abraçamos , emocionados ! Foi o reencontro da despedida .Morremos de alegria !
Ainda é vivo o mago da minha infância ? Filmes antigos , vida mambembe , palhaços ( os tristes , que detonam alegria ), me fazem lembrar com soluços , a mítica figura do Tio.
Quem sabe não herdei desse cara , a vontade de poetar, instantes prosaicos da vida ?

terça-feira, 15 de abril de 2008

Viola calada

Na boca da noite tem vinho
no vento da madrugada, poesia
nas cordas do violão ... Paixão !

Um violão calado
é um violão perdido
no tempo da canção

Foi muita lua
Mas o sol sempre impôe
o claro da razão !

Luz e Sombra

O chôro esgota a tristeza ...

Brota na lembrança
das águas passadas !

O outro
colhe a poesia na boca ;
Os outros , a colhem ,
na tecla da nossa alma.
Ela nasce tímida , desamparada ...
Por simbiose , encontra fertilidade !

O tom de voz é inesquecível ...
Doce , rouco ou irritado ...

E o riso ?
É a nódoa da saudade ...
Cantinela que se gasta
pelas vezes já tocada !

Tempo


Depois da paixão ...
Egoísmo
Dor
Cinismo
Esquecimento ...
E só depois , o perdão !
Amar é entender o desamor ,
e ser feliz novamente !
Entre todas as fases , haja tempo !

Cigana do Cais



As vezes acho , que sou reencarnação de algum Bôbo da Côrte ...
Claro , que prefiro a performance de uma dançarina,
Cigana do Cais,
emprestando o corpo para o ôlho do pirata mudo .
Uma boêmia bem resolvida,
sente-se em Petrópolis
Deseja a vida em Patópolis ...
Ser menina !
Meu corpo resolveu madrugar
Revolver lembranças e lençóis
Latidos e iuvos , escuto
Tenho que criar cachorros ...
Por que não cedo , por que me esquivo ?
Preciso verbalizar o quê , se apenas sinto ?
Putz , pensou Maria :
Coloquei sal no café
Quebrei o prato
Tremi pra passar batom
Mas as cantoneiras dos olhos ,
banham - me de luz !
O entendimento pleno de si ,e do outro ...
É instântaneo !
Passa , mas deixa um rastro
A gente pode retroceder como João e Maria ...
Sem bagagem , com fome de aventura ,
e a leveza dos meninos .
É possível amar sozinha ...
Sob todos os sentidos !

S.O.S poesia

Abril , primaveril
Chove na cabeleira do milho
Canjica doce , espiga o meu juízo
Lambuzo os dedos , no tacho do meu vício !

Um amor resolvido
Faz o presente
ter aniversário pra comemorar !


É um SOS ...
Só, quando só nos sentimos,
e o a sós, ideal de companhia,
fica cheio de nós.
Nós : eu, você , e afins
Sempre raros ...
Ainda sonham nos nós , que estragam punhos !

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Vermelho


A gente sente para escrever.
Esta é uma forma de viver .
Meu vocábulo é assustado pelas madrugadas ...
Saem como brinquedos dos livros de contos de fada , M.Delly ...
ou das amarguras e mágoas da alma.
Choro tanto , quando assisto "Melodia Imortal ",
e o noturno de Chopin , se emprenha em meus ouvidos ...
Toca na alma , lava meus olhos , instala a calma.
Minha adolescência tão prolongada ,
saiu de cena ... Mas morre de saudades de mim !

domingo, 13 de abril de 2008

Estação do Silêncio

Plataforma escura , silenciosa angústia
Meu coração já se apinhou de gente chegando, e partindo
Já chorou, se descabelou ...
Já dormiu em pé , já sonhou dormindo

"Café com pão
bolacha não
café com pão ... "

- Olha a tapioca , olha a mariola ...
(Tudo tão depressa , tudo já sumindo ... )

-Corre menina, senão você perde o trem !
-Desce menino , o trem não tem paciência com ninguém !

Naquele sacolejar ...
Vi a roça , vi a rosa , puxei prosa
Vi a lua crescer , e a madrugada passar .

Queimei o braço no sol
Queimei o olhar , noutro olhar !


Viagens curtas e amorosas.
Outras desencarrilhadas ,
impacientes , nauseantes ...

E o apito , ainda soa em meu ouvido ?!
Encontros marcados
Trem atrasado ,
que um dia deixou de chegar

Pessoas também ,
quebram-se nos trilhos da vida
Fragmentam-se,
viram pó de estrelas ...
Perdem o trem !

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Maçã sem papel

Comi a maça , perdi o paraíso,

e teimo em não gozar o prêmio de liberdade ....

Por falta de presente, e medo do futuro ,

deixo as sandálias , no batente do passado .

Ando devagar, a pressa é desnecessária ...

A memória tem visão ora turva , ora clarificada ...

Nem que chova , nem que turve ,

as imagens são vivas , e ensolaradas!

Embora seja histórico , parece conto de fadas ...

Mudei a cara da vida ,

mudaram a cara do Crato ...

As pessoas se esconderam no destino ...

debaixo de terra , dentro de casa , dormindo

em serenatas , desapaixonadas !

Uns poucos, sobrevivem ...

Relatam passagens , ilustram com figuras que merecem estátuas .

Se eu fosse escultora , faria o busto de " Pedro Cabeção " ... seu riso de troça ,

seu ofício , lustrando um cromo alemão.

Se eu fosse pintora , reproduziria em cartolina :

"O Gordo e o Magro ", "A Vingança do Zorro " , " As Aventuras de Tarzan" ...

Compraria papel de seda , de todas as cores , na bodega de Seu Abidoral ; passa-raivas , lá em Seu Sá , uns briquedos de menina , na lojinha do Zé vilar ...

Compraria guloseimas em Bantim , Joaquim Patrício , João Gualberto ,Cícero Beija-Flor ... , e umas fitas de seda , em Moacir , pra enfeitar os cabelos ... Uns metros de fustão , nas casas Abraão , um par de sapatos em Anísio , um bibelô na Babilônia , uma meada de lã na Cearense .... e o CONTO DE REIS , acabou !

Saudades do carro de Pedro Maia , De Moreirinha( o mágico do nanquim) , dos Educandários que fecharam , e dos sermões de Pe. Frederico .

Falei em poucos , quando são tantos !

E ainda pergunto : Que fim levou Gilberto Milfont ?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Cheiro de saudade

Estou num tempo de lembrar
de não conseguir viver
de dormir pra acordar
de tentar não esquecer.

Pés frios, cabeça quente
olhar manchado
mãos cheias de calo ...
mudei o caminhado,
e retomei o caminho ...
Faltam paradas , descidas impacientes ...
e o cochilo , no ônibus do destino.

Fôram-se flores ...
Ficou o perfume !

Poema em ocre (Foto de Pachelly Jamacaru )


A cor me transporta para a forma ...
Forma uma realidade nova
uma nova pessoa
que brinca de lembrar
e pinta o sete , nos sonhos de inverno
Acho que depois da chuva
toda alegria se inunda ...
as trsitezas viram pó ...
e o eco , no deserto
avisa , que estamos sós !

A casa do rouxinol amarelo


Nunca fui assim ...
Como as protagonistas dos romances de Delly !
Mas sonhei com flamboyant, rouxinóis nos quintal
Estradas aéreas , natureza exuberante, nas margens do Rio Negro ...
Cruzei o Apa , comprei bebida no Paraguai
Fiz amigos que se esfumaçaram
Perdi amores mal começados ...
Guardei tantas histórias de vida
que pra vida ter sentido
tenho é que relatá-las ...
Preciso de um laboratório ,tempo e paz ...
Não posso deixar escapar meus sonhos reais !