segunda-feira, 30 de junho de 2008

Noite de São Pedro


O velho Santo das chaves .
Mora numa Basílica ,
e quem tem boca chega lá !
Pescava , e andava sobre as ondas ,
sem molhar os pés ...
Voou além das nuvens , sendo rocha ...
x
Fico pensando num prometido céu ...
Um céu que nunca vou ganhar ...
Se a Terra é tõa bonita ,
considerando os seus oásis ,
como seria o Paraíso ?
x
A gente vive um ciclo vicioso ...
O diretor do meu filme de vida ,
deixou-me produtora
da minha própria sorte ...
Muitos sons
trilha sonora de arrepiar a pele ,
e as minhas crostas mais íntimas
Meu coração é separado
dos meus instintos selvagens
Volta e meia bate forte ...
Volta e meia , adormece ...
Sou louca , sou profana ...
Mas nunca tranquei o pranto
no canto dos meus delírios
x
Aonde estão meus amores
de curta e tão viva aurora ?
Aonde estão meus projetos ,
que o tempo não devolve ?
x
Aonde estou no caminho ?
Sinto cheiro de rosas
gorgeio de passarinhos
barulho de pedras ,
soluço das águas ...
x
Aonde estou que não vejo ...
Nem cavalo , nem coelho ...
Apenas um gato mia,
e me arranha no seu verde !
x
Preta noite
branco sonho
Um vôo sobre o limbo
um aterrissar constante ...
x
Vamos tomar um café ?
Preciso de companhia !

Casos e Caso


Namorei pela primeira vez aos 13 anos.O garoto era o retrato dos meus complexos : baixo , feio e metido a besta . Fumava "Capri" , e isso lhe emprestava um certo charme .

Depois de um ano de namoro , me beijou na boca. E , antes que a sua mão me tocasse com propriedade , cortei qualquer possibilidade de pecado !

Aos 16 anos namorei um marxista . Sensual , como todo leninista .Cantava-me " love is a many splendored sing" , tão suavemente , que eu fechava os olhos para não ouvi-lo com todos os sentidos ! E falava pra mim : "Casamento é prostituição oficial. Você topa não assinar papel , correr da polícia ..." Assustada respondi-lhe : Deus me livre !

Casei-me com um jovem professor de Física.Tivemos três filhos, quase por obra e graça do Espírito Santo. Seis anos depois , libertei-me da prisão .

Cigana descalça , desejosa de vida e amor .

O primeiro candidato foi um colega bancário. Recém divorciado , vascilou entre mim e uma loira ...Venceu a loira , que não tinha "passado " . O segundo era um líder sindical. Parecia não ter preconceitos ... Mas era solteiro , e sonhava casar com donzela , vestida de noiva .

Fui a essência liberal de todos , e ao mesmo tempo , tinha uma estrutura muito boa pra ser a farra , a aventura ! Não existiam homens para mim !

Aos quase trinta anos , conheci um mineiro , que investiu com força ! O cara era teimoso feito uma mula , e pelo cansaço me ganhou ! Violentei-me por cinco longos anos ...

Livre , e nesse estado de graças , aconteceu um zezão .Libertário e justo , como as calças de Agusto .

Encantava-me com seus rasgos de ironia , e me dizia ; "Não veja em mim um marido ... Casamento é tédio ! "

Durante 12 anos , fizemos poesia , como um casal "sartreano" . Acabaríamos juntos na velhice , se ele não tivesse partido para outra dimensão , antes do inverno ...

Escapei de todas as perdas , com novos achados ! Fui ficando pronta para ser enfim , a minha melhor companhia ! Quando as pessoas estão na mesma frequência , se comunicam .... Tenho encontrado de vez em quando , aqui ou alhures , alguns afins !

Enquanto a vida não completa seu círculo , também vou tentando me completar ... Uma tentativa impossível... pelo menos se contar com apenas os anos dessa vida !

Cheiro de Infância


Carência e medo
Tempestade , trovão ...
Almas penadas ...
Aparição !
Pavor de espelhos ...
Aconchego ...
Colchão e amoníaco
cabelos embrenhados
Balões , bonecas de pano ,
bilas , birros , bambolês ...
Chão de mosaicos ...
Sujos da infância !

Gravidade


Você embucha meu coração de poesia
nas contrações e expulsões de todo dia
Perdem-se os elásticos que o prendiam ...
Agora ele é lato , frouxo ...
Comporta a vida,
e os terrenos da eternidade !

sábado, 28 de junho de 2008

Casa Abandonada x Vida restaurada !


Beira de estrada. Horta , pomar e jardim , consumidos pelo mato.Sumiu aquela mistura de verde e encarnado, salpicado de rosa. Ocre tom...verde-fechado e amarrotado !
Quero gritar pelos de casa , pedir-lhes um copo d'água ... Um silêncio fúnebre , quebrado pelo vento, num mato sem cachorros , responde.
Passo e enxergo o abandono , igualado com uma magia estranha. Tudo caindo aos pedaços : a casa, esperanças ...e um sol desnecessário ! Paro e adentro em pensamento , destarte o cansaço da estrada .
Na sala um banco de cimento; um chapéu de palha rasgado ;uma carta queimada , e uma placa descascada , onde se pode ler : "Lar , Doce Lar..." . O corredor é estreito , escuro e úmido ; telhas quebradas , espalham-se no chão de mosaicos; quartos amplos, móveis corroídos pelo cupim; colchão destruído pelas traças. No outro quarto , um brinquedo de borracha , mistura-se aos farrapos. Na cozinha um fogão de lenha, uma chaleira amassada, esquecida do último café que esquentou ! Uma caneca de Ágata , um pote de barro, uns caixotes de madeira, cobertos de mofo e poeira . No teto , um império de aranhas. Ministérios, templos , castelos, pontes e jardins suspensos por teias ... tênues linhas , que se invisibilizam . Tudo negro ... sem vida e sem cor ! Banheiros primitivos ; uma cacimba , e a mata virgem , com não sei quantos hectares , sem caminhos.
Como construir nesse casebre um doce amanhã ?
No primeiro dia seriam recortados os caminhos. Limpa do terreno , transformado em avarandado com cestos de samambaias.; chão e paredes vassourados , sem sequer um pé de lixo , nem uma única folha , trazida pelo vento . Novas telhas , novo cal , água no piso ; janelas e portas ...enfim desferradas ! De lá sairá um caminhão de poeira , e outro de fantasmas !
Dia seguinte , portas e janelas pintadas; fechaduras novas , , vitrais com motivos florais , jardineiras com sementes de gerânio e beijo americano . No quarto uma cama de ferro , uma cortina de renda , e uma colcha de retalhos; um baú de guardados , com saches de patchuli. No banheiro uma violeta , um armário com sais e sabão de alecrim ! Sala com sofás de cipó , almofadas de chita , uma cadeira de palhinha , uma mesinha de canto , aonde teu óculos , teu livro e teu licor , descansam !
Um velho piano , espera uma serenata , em noite de lua ...Uma lareira crepitante , espera uma noite de Julho !
Na cozinha , a alquimia de todas as ervas; potinhos de geleia e farinha ... e um monte de lenha , pra não faltar fumaça , na chaminé . Copos de alumínio areiados , espelhando teu rosto. Cheirinho de feijão temperado com uma folha de louro ... e um velho papagaio , a te remedar ... " não quero outra vida... nessa paz ...eu morro "!
Flora revitalizada , cachoeira jorrando água pros banhos matutinos e vesperais . Amigos chegando , cerveja gelando , pipocas e castanhas estalando ... lua pairando , e iluminando a poesia !
Quem neste sonho pára , toma café com Dona Maria , e ainda ganha outro agrado : pedaço de sonho , pintado num arco-íris !

Amor Estelar


"São João disse ,
São Pedro confirmou ..."
E Jorge foi amado !

x




As almas são como estrelas
piscando no infinito
quando os brilhos se cruzam
as pontas se unem
e nasce um amor !

x




Foi assim ,
eu bem me lembro ...
E tudo que no céu se faz ,
no infinito firma-se !




quinta-feira, 26 de junho de 2008

Um amor virtual


Começou não sei como ...
Com a prosa inocente
Tremelicada no teclado
Insinuante , picante ...
Brejeira ...
Uns dedos , salpicados na prosa ...
Assim começa uma paixão virtual !
Lá fora o céu é negro
salpicado de cristais de luz
São diamantes num rochedo ...
Intocáveis por meus dedos !
Se eu pudesse alcançar ...
em tuas mãos ,
deixaria brilhar !
Virtual feiticeiro
Onde escondes tua magia ?
Por que me encantas com teus cantos ?
De onde vens , que forma tens ?
Alienígena a me levar ...
me transformas em energia ...
me dominas ...
Por mais efêmero que seja ...
neste universo , e na vida !

terça-feira, 24 de junho de 2008

Aos pés do Mar




Estou aos pés do mar
Ele canta e dança ,
em movimentos ondulantes ...

O céu de um azul clarinho ...
O mar da cor de opala,
adornado de espumas prateadas ...

Respeito esta força
que traga e larga
Respeito o mundo
dos seixos e algas ...

No fundo de mim ,
algo se agita ...
Canta e cala .

Antes de completar o pensamento
Antes de entender o sentimento ,
eu navego e me afoito ,
nas minhas próprias águas

Pesco o teu olhar
perdido num horizonte
que não vislumbro ...
Pesco , e solto ...
E fico a catar conchinhas !

segunda-feira, 23 de junho de 2008

De Batismo ...


Meu nome é Maria do Socorro . Coisa de mãe carismática , que pra ter bom parto , fazia promessas com os Santos da sua devoção. E mesmo sem ser privada da dor , já valia , o fato da mãe e da criança , escaparem com vida. Na hora do batismo , homenageavam os santos que lhes protegiam ! E são tantos os Cíceros , Antonios , Raimundos e Marias ... a nascer e a morrer , nesse mundo , todo dia !Nome é estigma, que se carrega pelo resto da vida. Quando pequena , implicava com o meu ...Queria ser Fátima , Graça , Mônica , e até Verônica , e pra meu desgosto me chamavam de Socorrinha. Morei em lugares do sul , aonde ninguém entendia meu nome... Help? Help ! Mas a gente deveria ter um nome , em cada dia , já que morremos um pouco todos os dias ! Hoje amanheci procurando um dia no passado... Descobri que ele estava amarelo e empoeirado ...Não servia ! Fico aqui no presente , enrolada em papel crepon , fazendo um balão de mim mesma , para brincar S.João !

Noite de São João


A fogueira está queimando ...
Extraindo das brasas alegres folguedos ...
Textualizando a vida , no calor vermelho
Por que não casamos , sob as bençãos de São João ?
Amadrinhar meninos e meninas ...
Soltar chuvinhas , como estrelinhas ...
Imaginar balões de luz
no coração do mundo ,
sem as cinzas da destruição !
Quebro o queixo ,
solto beijos ,
enfio a faca , na bananeira ....
Faço simpatias por todos os amores ,
encantados ou não ...
Que venham hoje ,
Que cheguem logo ...
Hoje é São João !

Aquela Mulher





Lá vem aquela mulher ,
que tem gotas de mar nos dedos
E ares de serra nos cabelos...

Se arrasta com seu carrinho
Trouxe frutas , trouxe rosas ...
Mangas !
Arregaçadas ... braços fortes
Mãos encaliçadas de afetos

Mineira dos sonhos ...
Compra no invisível
Sonhos ...
irisados no arco-íris !

domingo, 22 de junho de 2008

IMAGINAÇÃO


Me leva pra junto dele
Me enrosca nele
Faz com que ele me beije
Me deseje
Me ganhe com seu abraço
Que esse nó seja forte
Que nem o aço corte !
Me deixe construir esse amor
Pedra a pedra ...
Me traz como presente
esse fogo incandescente
Para arder em minha alma...
Eternamente !
Imaginação ...
Faz isso por mim ... ?
Constrói e reconstrói ,
a todo instante ,
esse amor ,
em mim !

Acaso


Rocha aberta
passagem sob a montanha
Caminhos no horizonte
Sementes ...
Uma a uma...
Jogadas nas beiras
Desse mundo !
Sementes de encontros...
flores no face a face
Sementes de carinho ...
flores de afinidades
Sementes de silêncio
flores de aceitação
Sementes nas mãos do acaso ...
Poemas nascerão !

Amor disponível


Sou como o barco do teu mar ...
por mais que navegue
há muito pra navegar !
Como a nuvem
que escorre no céu ...
quanto mais voa
mais céu tem pra voar
Como a montanha ,
que rasga a terra ,
querendo estrela tocar
Como o toque
que se torna desejo ...
Como o beijo que não sacia
Que fazer ?
compor rimas,
desse amor disponível,
em pautas de eternidade ?
Em cada dia um encontro,
em cada instante , alegria
em cada alegria , você !
Em cada noite um encontro
Em cada encontro lembranças
em cada lembrança , você !

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Lunática


Eu não quero nem saber a cor dos olhos ...
Se são de amar !
Se é paraíso ou limbo ,
tanto faz ...
Que venham cá !
O Rio tem um peito verde ...
A cruz é o bico !
Hoje tenho a lua ,
decorada em mim !

Serenata




A voz do violão acabou me despertando.
Eu estava sonhando , e o violão também !
Crato dos santos boêmios...
Uma leva de violões calados ,
presente, nas luas de outros tempos.

Troco minhas noites ,
pelas madrugadas .
Zelo no silêncio , o sono dos meninos . ..
Fome de umas coisas ,
outras, saciadas ...
Eu as vezes penso ,
noutras , eu me sinto !
Nunca te recebo , para meu alívio...
Casa bagunçada, sentimento aflito
Coloquei teus versos , em paredes minhas ...
Te pedi licença ,
que foi consentida !

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Namorando o Amor

Quem invetou o dia dos namorados era devoto de Sto Antonio ?

O dia dos namorados é noite de lua cheia , mesmo em fase minguante.
Dos encontros por acaso , de uma velha amizade , surpreendida por um beijo !

Dia de receber mensagens, ganhar CDs de Zizi Possi , João Gilberto ...
Olhar a cidade de uma roda gigante, acompanhada de carinhos e medos.
Escrever cartinhas e versos de amor,
mandar recadinhos por tabela, insinuar com o olhar ou o andar,
que a tâmara está madura ... comer a maça do amor !




Um par de namorados caminham
ou dançam de mãos dadas .
Suspiram , ouvindo a mesma canção
Inventam apelidos , no diminutivo ...
Sentem ciúmes, arengam ,
e se despedem com vontade de morrer !
Os passionais matam ou morrem ...
Os tímidos , declaram paixão ,
sem temer a rejeição !
Quem nunca namorou
não completou 6 anos, ou é autista ...




Namora-se da cintura pra cima
Namora-se de corpo e alma
Namora-se irresponsavelmente...
Enamora-se de muita gente !
Alguns têem até diário
Agenda para armazenar momentos...
Um filme , perfume , o primeiro beijo ,
o segundo amasso , e a dor da saudade !





Namorar com quem moramos
é simplesmente um barato !
Não precisar dizer adeus , na porta de casa,
quando chega a madrugada ...
Acordar no calor dos lençóis
Receber os primeiros raios de sol ...
Escutar a chuva no telhado,
enrodilhados , numa pele de Sansão !





Tenho meio século de encatamentos
Existem prendas , que ainda me pertencem
Existem amores extintos , noutro incêndio ...
Só lembro que o coração salta do peito
As pernam ficam bambas, e nem sabem dançar samba ...
O olhar se ilumina ,
a boca fica seca ...
as orelhas pegam fogo,
e um friozinho na barriga,
sintomaticamente ,
avisa que estamos vivos !
Vida de Alice ,
ou das sereias , nas águas de Netuno ...
Ou ainda , entre a Terra e o Olimpo ...
Sob o signo de Eros ... Afrodite que se dane !





É como uma febre , sem a moleza do corpo
É febre tesão de encontrar no outro ...
Algum tesouro , que não seja ouro ...
apenas a adrenalina da paixão !
Feliz dia dos namorados a todos do Planeta .
Qualquer ilusão à toa , nos apraz !
Só pra lembrar João Donato , e sair desse texto ,
conjugando com Abel Silva , Verbos do Amor ,
e cantando com Piaff um Hino ao Amor !






segunda-feira, 9 de junho de 2008

Depois do café , um cigarro apagado !- Texto de Gustavo Henrique


Reclamava muito minha mãe logo após ter deixado de fumar. Reclamava de tudo: da comida, que estava, em sua opinião, sem sabor; das bebidas, que deixaram de apresentar o tão sabável líquido; da tevê, que, em sua opinião, deixara de apresentar boas atrações (essa, por sinal, foi a única luz que lhe trouxe o abandono do tabagismo); e de tantas outras coisas que não a incomodavam enquanto fumante. Será tudo isso o preço da ausência de tabaco? Esse tão acromático alimento dos "viciados" torna-os verdadeiros seguidores da fumaça sagrada: uma catarse, exaustão das angústias, que atua como a bebida dos malogrados no amor. Boa analogia ao amor fugaz, o rompimento entre amantes é semelhante àquele entre o "viciado" e o cigarro: as conseqüências que presto eclodem são fulminantes aos que romperam o enlace transiente, mas, após o desatar do torpor, para muitos, ou da profunda melancolia, para outros tantos, o dia volta a apresentar brilho intenso, a comida assume o seu sabor original, as bebidas tornam-se tão saborosas quanto dantes. Quanto ao abandono, promovido por minha mãe, do tabagismo, a única marca boa que permaneceu da fase abusada, logo após o fim da relação com o cigarro viperino, foi a aversão dela à atual grade de programação da tevê aberta. Amores e cigarros: aqueles, às vezes, resultam de boas conquistas, mas estes são aquisições vãs, enlace que deve ser fulgaz, senão prolongá-lo é deveras alargar a angústia no peito.

Poetisa, fica um abraço deste jovem desazado nas letras, que teme os males das doenças escolhidas pelos próprios homens e que, deslizante, tem visitado este teu blogue e, claro, acompanhado tuas poesias.
9 de Junho de 2008 03:06

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Aura , Aurora - A Hora da Paz



É como o amor em paz ...
Só tem meios,pontes,
e descanso , no futuro do presente
Corrida contra o vento,
a paz dos intervalos ...
Um soluço ,
entre o espaço e o tempo
A paz de um ábum de retratos ,
onde tudo é passado
O ponto de intersecção
entre o silêncio e o sono
O desejo consumido ...
A paz infantil depois do banho
A paz senil , na sua completude
O jaz , na eternidade

segunda-feira, 2 de junho de 2008

C'est Ma Vie - Jose do Vale P.Feitosa



Segue um riacho tributário das grandes paixões de amor que inundaram o professor Bernardo Melgaço e não menos a Socorro Moreira que transpõe todo o Crato em sua devoção. Aliás, tudo faz sentido: afinal não se tem saudade de um seixo apenas, é de toda a pedreira que se fala, do lajedo, seus mandacarus e a pluma do xiquexique.

E eu?
Da fala beiradeira, tosca na origem,
coruscante expressão.
Mesmo que no filme fosse o artista,
que ainda mais falante,
jamais disse: C´est ma vie.

Do alto em que o baile ecoava-se,
através da caixa acústica
do céu estrelado do Crato.
Muito além da França, sendo franco,
até do horizonte,
lá meu sonho nasce: C´est ma vie.

Embaixo do telhado, no salão de luzes esmaecidas,
toda a repercussão dos sons universais,cantante,
sussurrante, ao teu ouvido poder dizer,
pois não sou francês: C´est ma vie.

O ritmo ligeiro de uma cavalaria napoleônica,
todos os terrenos rodopiando.
Eu cantava,sem que na tua pupila brilhasse
a dúvida desta ousadia imprecisa: C´est ma vie.

De um sopro morno ao teu ouvido,
meu coração se esfumaçava,
Hugo tocando Adamo.
Luzes pontuais
como fora pirilampos na noite escura,
acendiam em teu ouvido: C´est ma vie.

Por entre os outros casais esquecidos,
como numa noite,
entre as árvores de uma floresta,
o salão rodando, teu perfume bailando
grades de uma prisão aberta ao infinito:
C´est ma vie.

Rápido!Qual um pensamento ligeiro,
ainda menos que a letra “a” ou o numeral 1.
De Chanson en Chanson, estava tua orelha
cada vez mais ao sabor dos meus lábios.
Minhas narinas lançavam o fogo dos dragões
sobre teu corpo ao meu peito,
cor em brasa,e para aplacar tamanha ebulição,
suspirava: C´est ma vie. C´est pas l´enfer.

E girava o mundoà nossa volta,
como uma ola descomunal
de paixões transcontinentais.
Dali jamais sairia, mas te levaria a uma ilha deserta,
C´est ma vie. C´est pas l ´paradis.

Notre histoire a commencé .
Lá fora o universo era universal,
a cana canavial, o jovem era amoral.
Mas que importa é o visgo da tua cintura
em meus braços e eu até dizer: C´est ma vie.

Mas como queria ter dito, mesmo,
ainda hoje, dizer. C´est ma vie.
Como disse Alain Delon,
ao lado de Dalida em paroles, paroles:
C'est étrange,je n'sais pás ce qui m'arrive ce soir,
je te regarde comme pour la première fois.
E antes que a orquestra parasse, ainda dizer:

Mon Amour.