quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Use a IRA , em seu favor " - Escreva uma carta de amor !- Por: Socorro Moreira


Meu bem,


Depois de 25 anos escrevendo memorandos, e em “oitavados”, especializei-me em listas de Supermercados:

- queijo branco

- pão integral, frutas, azeite e uma garrafa de vinho.

Casamento fora do papel, merece carta do amor pensado, escrito, perfumado, e manchado de batom.

(Amassei. Não gostei...)


Vou tentar novamente:


Meu amor,



A noite também chegou por aqui. Já me fez cumprir todos os rituais, antes de dormir... Só falta uma espiada na janela, e fechá-la seguramente, pra que ela não me rapte de ti.

Li alguns textos no blog, deletei e-mails, reencaminhei alguns, abri Windows sucessivos, restaurei artigos, que vi na lixeira. Na falta do fogo para queimá-los, salvei-os!

Procurei-te nos sites de músicas, e Diana Krall deu-me teu recado: Fly Me To The Moon. Depois foi o Chico, que pegou pesado, cantando "Vitrines”... E o Vinícius, que também postou um poema: "Conjugação da Ausente".

Pesquisei sonetos de J.G.de Araújo Jorge... Achei-os melosos demais, e fiz umas trocas... Edu Lôbo com Cacaso, na “Toada”, e com Torquato Neto , no "Pra dizer adeus”.

Chega de ensaios!

Finalizo os prefixos musicais com a música “Amado”, por Wanessa da Mata.

Enfim, agora estamos a sós. Eu e pensamento. Pensamento e papel, em conflito ardente. Sem fundo musical. Silêncio total, para ouvir o coração bater, como os tambores do Salgueiro.

Entro na frequência do teu esquecimento, e te acordo... É hora!

Vem cá... O mar veio para cá. Ele acende os mistérios da serra, quando chega a madrugada. Vamos catá-los um por um, desvendá-los. .. Estou farta de segredos invioláveis.

Lembra do começo, que nunca foi?

Lembra do encontro, que esperou sem chegar?

Lembra dos desvios, arrodeios, e esbarrões, nos atropelos dos sentimentos?

O amor chegou mil anos depois! Quase etéreo , atrevido na pureza, racionando carinho... Mas é tão intenso, e tão lindo , que alimenta, mesmo dormindo!

Fui clara?

Fui anônima, ou indiretamente fácil?

Direto é dizer nesse cantinho de papel, em letras tremulas e pequenas, quase indecifráveis: Adoro você!

Um abraço,

ZenIRA





P.. S. “O amor que nos separa é o amor que nos une”.




Toada
Cacaso
Composição: Edu Lobo / Cacaso



Fiz um verso tão bonito


Que carrego na lembrança


Nunca mais eu vi o mundo


Com meus olhos de criança


Quis prender a quem amava


A corrente se quebrou


A esperança que eu guardava


Era pouca e se acabou


Não conheço mar bravio


Que me faça retornar


Não conheço nenhum rio


Que não corra para o mar


Rio abaixo, rio acima


Meu destino dá no mar


Eu que não sou marinheiro


Eu que nem sei navegar








Me To The Moon
Diana Krall
Composição: Bart Howard



Fly Me To The Moon


Fly me to the moon


Let me play amoung the stars


Let me see what spring is like


On jupiter and mars


In other words, hold my hand


In other words, baby kiss me


Fill my heart with song and


Let me sing for ever more


You are all


I long forAll


I worship and adore


In other words, please be true


In other words, I love you


Fill my heart with song and


Let me sing for ever more


You are all I long for


All I worship and adore


In other words, please be true


In other words


In other wordsss,


I love you


Conjugação Da Ausente
Vinicius de Moraes


Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra,
na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas;
fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Quarta-feira de cinzas. Um sopro forte , e tudo fica limpo ! - Por : Socorro Moreira





Bateram na porta. Alguém pedindo o jejum... Como em todos os tempos, alguém precisa de um mínimo, sempre!
Quando eu era criança maxixe, feijão verde, milho, quiabo, pequi, macaxeira, jerimum, macaúba, banana, manga, seriguela, cajá, umbu, etc.. Não se vendia , se ofertava!
E a gente retribuía com um pedaço de bacalhau, uma caneca de arroz ou coisas desse tipo (que se comprava nas mercearias).
Hoje acordei com os pecados do mundo - Todos meus !
Em tempos passados , as minhas fantasias amanheciam molhadas. Minhas roupas estão no varal. O que mudou foi a fonte das águas !
Desci pra fazer o almoço e senti vontade de comer apenas frutas. Faço o jejum das palavras, embalo o meu silêncio, e nele me aquieto. O perdão já fez a sua parte. Tudo certo!
E a vida continua no caminho de um fim incerto. Viver de acordo com uma cartilha, só se for a Bíblia!
É bom ficar em casa por uns tempos. As trocas assim mesmo acontecem, e os conflitos também!Hora de recolhimento é sagrada. Poupar energias pra gastá-las com mais versos, na cumplicidade das horas, e na companhia dos afins.
Estou ansiosa pelo resultado do desfile das Escolas cariocas. Tenho uma grande simpatia pela Mangueira, Salgueiro, Portela... Vi na madrugada, os desfiles.
Fico com a paz e alegria do Universo!



Socorro Moreira

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Cega, no invisível - Por Socorro Moreira



"Quem pensa muito não casa ". Quem pensa muito vive cansado. Quem vive o dia, no caminho do sol, tem a esperteza dos mascotes.

Dias chuvosos , nos convidam a permanecer na cama. O apetite é voraz, olhamos menos para o espelho, nos desapaixonamos .

Hoje estou assim ... Desativada da minha energia natural. Caminho pesadamente , entre o térreo e o primeiro andar... Parece que tenho tamancos nos pés. O céu tem cheiro de lavanda ; minha roupa tem cheiro de lama , e perfume do passado.

Escrever , ainda é uma boa saída. Até porque , oferece passagem de ida e de volta , num vai e vem sem limites.
Visito um recanto , que apenas imagino. Busco o concreto imaginável , já que estou diante da cegueira , no invisível ...
Subo no elevador. É o apartamento de um pintor. Respiro terebentina e tintas frescas . Imagino afrescos , e telas espalhadas pelos cantos. O dono está ausente. Viajou com um baú de desenganos , esculpindo pedras no caminho. Rasgando a matéria , como se ela fosse molambo. Deixando nela , o produto do seu pranto. ..
Faço a vistoria , tateando a intuição. Um sofá confortável , mas cheio de marcas; sala íntima com cheiro de " vetiver ";um relógio de pulso atrasado ; canetas e papéis , numa escrivaninha de cedro... Escritos em negrito.Uns esquecidos , e outros amassados.
Falei com seu short , largado na cadeira do quarto. Ele olhou para mim meio intimidado,(Desconfiou que eu não era uma ladra comum... De nada dali , me apossara , a não ser com o olhar , e o resto dos sentidos) e disse-me : ele sempre me deixa assim , quando se cansa de mim.
Meu dono viajou . Ele sempre volta com um sorriso enfadado , e um brilho novo no olhar.
Sai do cenário. Não olhei em volta , nem fui até a janela , descobrir em qual cidade estive. Desprezei a personalidade física de um lugar... De um lugar , provavelmente conhecido.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O amor em todos os tempos - Por: Socorro Moreira



(Atesto para todos os fins, que não sou agnóstica como pensei , durante tantos anos ...
Creio no amor humano e no amor divino, com caráter de infinitude e imortalidade .)
Creio no amor , em todos os seus estágios. Até no amor promíscuo, (professo a minha fé) , sujeito evolutivo , cuja qualidade , transforma-se ao longo das eras , no amor deveras... Universal !

Em 1967 , eu tinha 16 anos , e cursava o segundo ano científico , no Colégio Estadual Wilson Gonçalves. Vieirinha era o nosso professor de Português. Nas aulas de sábado, abria espaço para os "Grêmios Literários ". O despontar do poder de comunicação , através das artes.

Naquela primeira semana, ainda novata, fui escalada por ele, para falar sobre o amor.

Apavorei-me ! Passei a semana toda queimando as pestanas sobre o assunto. Não conseguia achar a forma , nem a expressão correta. Como falar de uma coisa que estava na minha filogenia , mas me era inexplicável , e estranho ?

Abri enciclopédias , e achei textos, com personagens míticos.

Arrisquei ! Colei , no trabalho , a história de Cupido e Psiquê. A explicação sobre o amor Eros , Filos e Ágape...
- Foi inglório... Hoje eu sei ! Nem dez , nem zero ...
Eu precisava viver !
Felizes aqueles que perceberam o amor , nos seus primeiros anos ,com projeções no túnel do tempo.
Eu entrei no túnel da vida, atrevida (mente ), procurando o amor , no escuro do meu tempo.
No fim do túnel ... "Eureka" ! O amor me acompanhara pela vida afora, esteve dentro de mim , naquele tempo , e sempre ! A viagem até achá-lo , apenas desenvolveu a minha capacidade de amar a mim mesma. Por isso acho que o zero mandamento é o amor próprio ! Amar a si mesmo é a forma mais complexa de vivenciar o verbo amar.

Dar, compartilhar !

Merecer, receber !

Amor alegria ...

Amor (com) paixão !

Ontem assisti o filme " O amor nos tempos do cólera "- adaptação do romance de Gabriel Garcia Marquez.

A crítica foi impiedosa :

"Gabriel escreveu com as entranhas, e o filme é apenas um mingauzinho da história ".

O certo é que reli o livro , e vou rever o filme. Os dois me impressionaram muito !

Em 1987, mudei-me do Cariri para Bela-Vista (MS). Recebi pelos Correios , Gabriel G.Marquez, como presente. Na recomedação do remetente - "Foi o melhor romance que eu já li."
Devorei página por página , gulosamente, até o fim.
Vinte e dois anos se passaram. O filme rasgou a cortina do entendimento. Aquele presente , encerrava um recado , que a cegueira das emoções havia bloqueado.
Amor que espera não se divide , mas vive dividido , sem deixar de ser virgem, até o reencontro. Amor inteiro é aquele que buscamos a vida inteira. Os românticos apostam na sua eternidade ; os práticos e apaixonados , sentem como Vinícius , e dizem :" que seja infinito , enquanto dure !
E os amores platônicos ?
E os amores carnais ?
E os amores " ilegais " ?
- Melhor nem tê-los. Mas, como detê-los ?
Matá-los, não vivê-los... é crime inafiançável !
Creio no amor que um dia achei, e de mim se desencontrou pela vida ou pela morte;
Creio no amor dos pares encontrados. Privilegiados , pelos encontros em vida.Tiveram sorte e sabedoria nas escolhas. Amores em construção e transformações. Amores que só acabam , quando a morte os separam !
O amor noutro plano, continua amando . Nos visita quando dele nos lembramos. Chega em forma de borboleta, passarinho , vento, chuva, flor...
O amor que não nos abandona ," mesmo em face do maior encanto" , que resiste ao cotidiano , merece o pódio , ainda nesse plano.
Sejam felizes os que teem a sorte de vivê-lo;
Sejam felizes os que ainda esperam um encontro;
Sejam felizes os que amam , incondicionalmete ;
Sejam felizes os sozinhos... Os que amam à distância , sem cobranças , sem a posse , mas que transpiram amor , por todos os poros.
Sejam felizes todos , no ponto do amor em se encontram !
- Entre todos os sentimentos luminosos , o amor é um so(l) !

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

"Águas passadas, movem os meus moinhos" - Por : Socorro Moreira


Eu tinha um amigo que adorava mulheres das pernas tortas. E dizia isso com toda razão.
- Imagine o enrosco dessas pernas no meu corpo.Encaixe perfeito !
- E as minhas panturrilhas humildemente , se encolhiam.
Estávamos no Amazonas. Os meninos tomavam cerveja em latinhas, salpicadas de sal e limão. Claro que eu ia de "Baré", e o tira gosto era Tucunaré. Tempo infernal e celestial. Chuvas diárias nas tardes.Banhos nas calçadas , no meio do mundo... Um mambembe coletivo, atiçado e resfriado.
Terra aonde a lepra se espalhava.
- Cuidado menino, com beijo de língua ; com mordiscadas na orelha ...(Cuidado para não engolir coisas alheias ).
E o tempo quebrava o relógio. A estrada era selva , e o rio navegável. Exuberância , nos passeios de lancha (50 hp). De uma margem para outra, nem se tivesse olhar de lince, ou pescoço de girafa... Só se via água e céu ... Um mar nublado, sem ondas, sem turmalina... Mas tinha a beleza das garças.
Nas noites , imperava o carimbó. Um violão mineiro...
Num grupo de dez, eu era apenas só !
Cansados das caças, fretamos um avião para gastar dinheiro no "Selton" de Porto - Velho. Os meninos esticaram o voo até Letícia , na Colômbia , atrás de Old Parr e "Saco Roxo".
Eu fiquei num salão de beleza, pintando os cabelos de vermelho.
Naquela noite , nos banqueteamos , depois de três meses, com filés ao molho madeira.
Digestiva foi a Discoteca . Sons de Tina Turner - Dancing Days.Uns remeleixos soltos, e ao mesmo tempo presos , nas meias de lamê.
Benditas diárias, que nos davam chuva, rio , peixe, castanhas e algumas mordomias.
Ontem assisti ao filme "Ensaio sobre a Cegueira ", baseado no livro de Saramago .
Evoquei todas as águas,
nas quais já me molhei.
Bendisse a vida.
Umedeci a pele,
folha seca da cegueira.
Agora posso fechar os olhos ...
Viver o que deixei passar.
Posso na vida ,
também adiantar o olhar.
Buscar-me, buscar-te...
Entregar alma em mãos ...
Confiar !

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Templário - Por Socorro Moreira


"Como um templário deslumbrado, a cruz a santificar a cervilheira altiva, levei o meu balção de cavaleiro aos prélios do mistério, e de lá voltei desolado, porque não se colhem estrelas como se fossem rosas." (Alphonsus de Guimaraens, Obra Completa, pp. 430-431.)


Chegou de um tempo incontemplável

Ficou gelado pra chegar depois

Chegou na hora, em que o vazio aguarda

Chegou agora, como aurora nova.


Usei meus verbos, minhas reticências ...

Todas as aspas, e escondi acrósticos

Não sei se fica , nem sei o que dita

Meu coração não leu sua resposta


Mas eu aposto num querer eclético

Se me fez falta , falta eu também cobro

Nem toda noite , a lua espreita a serra

Nem todo dia , o sol invade a sorte


Seja bem vindo , nos mistérios claros

Seja bem vindo , nos meus versos soltos

Nos meus repentes , faltam as suas loas ...

Nos seus repentes , faltam os meus açoites.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pseudo Poeta - Por Socorro Moreira


Tenho vontade de ser poeta , mas tenho dificuldade em sê-lo. Desisto de postá-lo ?
"O carteiro e o poeta" que se entendam ...!
Tentei aprender a fazer corretamente uma poesia. A técnica corta a minha emoção, desestabiliza o meu barato. É caro e claro ficar com a ignorância dos versos livres. Liberdade tem o preço que eu pago ! Por toda consciência, arvoro-me em escrever prosas simples, poemas tortos...
Que eles cheguem configurados, conforme o meu desejo, pipocando emoção por todos os lados.
Atavicamente , imprimos às palavras ritmo e sonoridade.Quando consigo dançar um escrito, mesmo prosaico, descubro que ele existe , e consegue afinar cordas e tamborins do meu eu acanhado. Penso tanto no que vejo e experimento, que ele sai correndo pra casa do vizinho, pras praças, prados e bares. Minha emoção é fofoqueira... Não fica dentro do meu próprio peito.
Pensamento livre e anárquico. Sou assim ! Não gosto de maquiar os meus "monstrengos" literários.Eles encaram o mundo sempre que nascem. Assustam, horrorizam, e são também encantados como tudo e como todos - os versos que nos habitam ! Soltam-se, perdem-se, retornam, conquistam !
Cada pensamento que brota e escapole , permite o vazio para um instante seguinte... Seja madrugada, ou o cair da tarde.
Essa semana li Martha Medeiros :"Doidas e santas". Saboreei suas crônicas como se fossem o resgate de festas perdidas . Descobri que eu não perdi uma valsa , um amor, um riso , um pranto ... e aprendi a consertar a vida.
Sou doida. Se eu fosse santa ( como diria M.Medeiros) , seria louca varrida !

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Memorial - Virtual x Real


Fui criada presa na gaiola. Bem alimentada , bem cuidada , e com direito a mimos de avô, colo de , palmadas de mãe, cantorias de primos , bênção dos tios. Do meu pai herdei o prazer de amar todas as artes !
Minha mãe não permitia que eu andasse nas casas dos vizinhos , a não ser para participar das festas de aniversário ou fazer um trabalho escolar. Por ela, eu jamais teria usado um vestido de alça, uma calça comprida, um biquini, um decote cavado, pulado um Carnaval, casado mais de uma vez, pintado as unhas e a boca de vermelho , fumado, feito as sobrancelhas, dançado , pintado o cabelo ...Por ela , eu não perderia missa aos domingos , faria as primeiras sextas-feiras do mês, e rezaria o terço em família...
Fui infratora de todas as normas. Cometi todos esses pequenos pecados, depois que cresci.
Entretanto , mãe é mãe. Só pensa em proteger suas crias. O jeito é soltar , esperar a volta...Com colo e leite morno . Que Deus proteja todos os filhos e permita o paraíso a todas as mães.
Com o tempo aprendi a aquietar-me no meu canto. Gosto da minha casa , do seu silêncio , e da minha companhia.
Tenho até um blog ( completou primeiro aniversário , no dia 22 de janeiro passado -presente do meu amigo Dihelson), aonde posto os meus rabiscos. Quando eles resolvem brincar noutras áreas, até permito ... E, como quem está na chuva tem que se molhar, exponho-me às críticas , construtivas ou não !
Mas, boa romaria faz, quem em sua casa está em paz. Não podemos poluir os ares , além dos nossos limites. Respeito é a palavra chave !
Delicio-me nos passeios virtuais. Adoro encontrar a poesia do Domingos e do Sávio, beber os textos da Claude, Zé do Vale, Zé Flávio , A. Morais, e outros mais. Pelo Cariricult, pelo Blog do Crato, meus passos se elevam, e conseguem voar... Como aquela canção de Salatiel e Pachelly.
Vejo fotografias ilustrativas, artísticas ... Um zoom, que amplia o meu sonhar.
No virtual não percebo diferenças de idade. Aqui , o que deveras conta são as afinidades da alma. Fora da sintonia, ninguém acha graça de nada. Dentro da sintonia , as emoções se misturam , se unificam, na paixão universal.
Afora os blogs , faço percursos nos sites de música ( embora a Rádio Chapada me preencha, e muito !); entro em salas de bate-papo , escrevo e recebo recadinhos no Orkut. Acho que sou uma borboleta vadia, carente de novos assuntos, assustada com o desconhecido, mas ousando ratificar sua imagem real.
O virtual é um laboratório , aonde a nossa essência estagia, e depura-se, através de boas trocas , interagindo energias !
Nada contra. Nem contra o conflito. O caminho é livre. Não precisamos marcá-lo com miolos de
pão , como João e Maria.
Marcamos a nossa presença , na leveza das intenções, expressas num pensamento terno.
Sou mesmo borboleta, margarida ou cigana ?
Quando chove no virtual , eu pinto na tela, um arcoiris !

"Mimim" e Adélia Prado - Por Socorro Moreira - Para os meus amigos de V.Alegre.


Adélia Prado me foi apresentada por José Ítalo de Andrade Proto, em 1981.
Recebi pelos Correios , o presente de um livro de poesias com a dedicatória :
"Adélia não é a tua cara ?
-Insaciável , em termos de vida !"
Li, avidamente.Afinal , Ítalo fôra e continuara sendo o meu maior referencial afetivo de sabedoria, sensibilidade e inteligência.
Descobri na Adélia, a simplicidade que existia em mim ... Pensar poeticamente, enquanto lavava a louça do café, varria a casa, cuidava do jardim, testava uma receita nova, me enfeitava para esperar um namorado.
Em 1987, Ítalo foi convocado pelos céus, e partiu.As pessoas que o amavam tiveram que conviver com a dor da separação, hoje transformada , na mais doce das saudades.
Ítalo amigo , cidadão, camarada, filho , irmão ... "O Mimim" dos afetos mais próximos !
Com esta ponte sutil , permaneci ligada à suavidade do Ítalo , e sabedoria poética da Adélia.
Conheci o Ítalo, em Várzea Alegre, no ano de 1967. Época de férias. Juventude lúdica : dançante e cantante. Mas ele era diferente ... Preocupava-se com as causas sociais. Instigava a nossa consciência crítica. Queria por idealismo , um mundo mais justo, mais fraterno, mais livre.
Nos correspondemos por meses seguidos... Até que nos ligamos a outros destinos , sem jamais perder o fio da meada : boas lembranças !
Uma década depois, em 1977, nos reencontramos em Fortaleza. Ele me olhou e disse :
Socorrinha, você, Odalice e Dayse não ficam velhas ,nem feias...Continuam lindas !
Já adultos, e com responsabilidades , curtimos uma grande amizade. Cantamos Nelson Cavaquinho, Chico, Vinícius ...Voltamos a dançar, e a fazer poesia com o nosso olhar. E, por mais dez anos, nos correspondemos.
Cartinha vai, cartinha vem...Eu de vários recantos...Ítalo , no Rio de Janeiro. Dizia-me sempre : Você devia morar em Londres !
Até que um dia , as cartas tornaram-se telepáticas.
Visitou-me algumas vezes , e ainda me visita, trazido pelo perfume de uma flor ou o som de uma canção de amor. Arrastado pelo vento, ou voando como um passarinho...Pousa nas minhas janelas diurnas e noturnas, e faz com a alma , um afago, um carinho.
"Love is a many splendored thing"...
-A voz de veludo e o verde esmeralda do olhar, que nunca esqueci !






Dia
(Adélia Prado)
As galinhas com susto abrem o bico
e param daquele jeito imóvel
- ia dizer imoral
- as barbelas e as cristas envermelhadas,
só as artérias palpitando no pescoço.
Uma mulher espantada com sexo:
mas gostando muito.





Cotidiano



Madruguei.
Ainda sonolenta , com a manhã despertei.
Liguei a TV.
Aula de Matemática : Progressão Aritmética. Fórmula tão amplamente usada. Exemplo prático ?
-Calcular , a partir de quilômetros percorridos, o valor da corrida de taxi.
E o tempo?
Nunca esquecer , que ele onera a conta !
Mudei de canal. Sai à procura de um clássico do cinema. Saudades de Gary Grant !
Geralmente , fujo das palestras religiosas, dos testemunhos que vendem a fé.
De cara, uma mulher de rosto e voz apaziguantes. Falas envolventes, sobre a necessidade humana da beleza. Comecei a concordar com cada palavra, cada expressão ... Um susto feliz !
E fui concordando com o "ordinário" do cotidiano. Com o momento "épico", as vezes silencioso, nas pequenas coisas...
Concordando que a felicidade está na construção dos afetos , na educação da sensibilidade.
Arte. Arte não é luxo. Ela é natural, generosa, pródiga !
Ela é identificada no que transcende. Quem tira do branco a palavra , e a transforma num recado, consegue criar !
Se do concreto, algo se fez vibrante , posso chamar de poesia , a minha emoção.
Ouvi , respirando feliz, aquela simpática senhora ...Linda , dos cabelos de algodão. Foi falando , falando , e se identificando. Era Adélia Prado .
Enfim , nos conhecíamos !
Amamos os mesmos livros, na infância. Convivemos com os mesmos autores , e guardamos os mesmos personagens.
A Emília de Monteiro Lobato ; a Lílian de M.Delly ; a Sofia e seus desastres; a Poliana e o jogo do feliz ...
Hoje reencontrei o prazer de chorar diante da arte. Diante de qualquer palavra, que traduza simplicidade : " o arroz com feijão e molho de batatas" da Adélia Prado !

Clareou !
Posso respirar um dia diferente.
Ser feliz no amor que sinto por mim e pelos outros.
A gente sempre espera da vida uma boa hora...
E a boa nova é que a minha hora chegou !
Estou atenta para vivê-la em cada minuto,
uma lembrança , uma experiência , e um esquecimento.
Abrir e fechar janelas ,dependo do sol ou da chuva .
Não tenho medo de morrer do cotidiano.
Muito pelo contrário...
-Ele me alimenta !

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Lolita




Casa

lar sem mel

bulas, caixas de papel

Anjos de costas pro céu

Ruas

passantes

leite, pão

pontas de estrelas

pontos distantes ...

Tinta, pinta

Boca e seu mistério.
* A participação da Claude tornou o texto especial :
Casa
lar sem mel
-amor sem guarida
bulas, caixas de papel
-cinzas de cigarro
-coisas da vida
Anjos de costas pro céu
-almas ao léu
Ruas
passantes
-sombra e dilemas
leite, pão
-linhas de um poema
pontas de estrelas
-arcanjos,
grandes voos
pontos distantes ...
-amores inconstantes
Tinta, pinta
- noite retinta
Boca e seu mistério.
Mestra , fizestes a diferença !

Postado por Claude Bloc no blog Socorro Moreira em 7 de Fevereiro de 2009 10:17 Responder Encaminhar
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Nua


Guerra fria
O amor acaba ,
o conflito fita
Rugas
fora das fotos
que foram nuas
Olhar fugitivo
perdido e esquecido ,
na primeira mágoa
Vinho envelhecido ...
Me aguarde !


Claude Bloc deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Nua":

Guerra fria
-alma em agonia
O amor acaba ,
o conflito fita
Rugas
-marcas,
-sinais do tempo
fora das fotos
que foram nuas
Olhar fugitivo
-amor esquivo
perdido e esquecido ,
na primeira mágoa
- no primeiro instante
Vinho envelhecido
Me aguarde!



Claude, amei os arremates !

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Triângulo natural


O mar banhou-me com seu olhar
Nuances de azul e verde
Espumas num delírio contido
Areia batida, salgada de mar
Sereno tempo
Nublada vida
Ares desobstruídos
Vôos inalcansáveis
Compromissos cancelados,
antes de um veredicto.
Meus pés pousam em terras desconhecidas ,
mas não se atrevem a trilhar novo caminho
Fixo-me na linha do horizonte,
e na terra eu finco a vida.
Pensamento foge da morte
Brinca no mar ...
Busca o céu que habitas.