segunda-feira, 27 de abril de 2009

Reflexos( Eu e Nós) - 7.05.09 - Por Socorro Moreira


Noite de estio
Noite de maio
Perfumada noite
Longa, curta noite

Príncipe de barbas prateadas
Sorriso e olhar antigo
Vida passada à limpo,
no instante das horas.

Espelho dos meus sonhos
Um sonho escorregou em mim ...
Entrou dentro dos meus olhos...
Justo , o mais distante!

Pedras de cristal
Água de côco umectando
a lombra do encontro
Sem tim tim
Sem tinta nanquim
Um laptop conectado
à nossa história.

Ardor, torpor
Frio, madrugada
Clara manhã ...
Calada , emocionada
A vista alcança a Chapada
E o céu ...
Começa a pingar em mim !

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Retrato da Chuva - Por Socorro Moreira




Uma chuva na solidão lava e turva...


A solidão é também aparente ...


Mete-se na vida da gente


Dentro de mim ela encontra o espaço ,


que a chuva encontra na vala...


Chuva também se esgota ...


Devasta, carrega , corre .


Agora chove ...


Uma luz solitária ilumina a rua molhada.


Fico pensando na mulher de sandálias brancas...


A essas alturas já trocou sua blusa,


já tomou café com tapioca...


Já dorme o sono dos justos.


A chuva transforma a cor da natureza...


Aquieta e inquieta ...


Meus olhos gostam do prado verde ,


que ela deixa...


Mas essa umidade que ela traz ,


carece de panos secos ou cobertor de orelhas.


Chuva é canção... Adormece as palavras.
P.S. Inspirada num poema de José do Vale Pinheiro Feitosa, que por sua vez, inspirou-se numa foto de Dihelson Mendonça..

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Intervalos- Por Socorro Moreira

Noites de ócio
Longas , insones ...
Internet, TV, telefone
De pensamentos fixos,
pesadas no vício ...
Tardes de torpor
Sonolentas , vazias
Manhãs atropeladas ...
Curtas manhãs !
-Tempos roubados de mim !
.
Rio dos alentos
Sampa dos desencontros
Crato comigo...
unido, indescritível
Estradas sem pontes
Rio sem margens
profundas viagens
Pálpebras pesadas
pernas cruzadas,
diante da claridade...
Fechando ciclos !
.
Minha mãe voltou
Abracei o colo que foi meu
Mas ainda tem aconchego
no sorriso terno
Ainda tem luz
nos olhos sábios !
Na esquina da rua
vi o vazio do meu pai,
encostado no muro
Presença invisível ?
Pensei ouvir seu assobio
Tanto tempo passou...
O tempo anda,
e vultos invisíveis
se alastram como buracos,
marcando a história.
.
Túnel do tempo
Entrar e sair
Abraçar, despedir-me
Fazer isso na memória ...
Seguir o rastro do perfume
Aspirar a poeira das horas !

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Nuances - Por Socorro Moreira





O sol despontou, um tanto zarolho. Parece um pirata, cheio de asas. As ruas escondem suas sombras, e clareiam os movimentos de quem passa.Atravessei a praça, adiantando e retardando compromissos diários. Enfrentei filas. Comprei frutas nas calçadas. Olhei vitrines... Experimentei vestidos floridos. Aspirei meu próprio cheiro, no vento dos meus cachos. Ideias enroladas ... Dispenso os babados. Amigos encontro ao acaso. Sorriem perguntas formais. Sem casos. Problemas escondidos, no banco de trás. Arrasto tempo e sandálias . Compro um brinco , na lojinha da esquina ... Balançam meu juízo , mas emprestam-me charme. Café com bolo não posso ... Mas traço ! E saio requebrando , na minha saia estampada. Pés descobertos , evitam as águas paradas. Vestígios das chuvas , alocados nos buracos ... Eu passo ! Pulo feito gata ...Quando fui gata ? Era uma tonta mulherzinha trepidando saltos no asfalto. Hoje as sandálias me carregam, me levam pra onde os olhos não podem , nem querem.Tarde de malemolência. Sessão de cinema que adormece. Amores na tela , me acordam ... São quatro horas. Olho o espelho e vejo uma cara, traquinamente feliz ...Mentira de Abril. É quase cínico ou triste , o olhar que pisca , nuances de mim.

Casa de Sapé, versos no papel- Por Socorro Moreira- Foto (PACHELLY JAMACARU)


Minha poesia é pretenciosa
Inventa um Natal em Abril
Pede emprestado , o olhar de Pachelly ...
Mistura-se na argila da estrada
Pisa em folhas brancas da saudade
Na argamassa das palavras
contrói barracos de papel...
Desarrumada nos cipós e calhas
pede inclusão na paisagem ...
No escuro que o luar invade
Esconde a timidez
Ilumina de falas, a casa.
Falta querosene na lamparina da sala
O fogão de lenha queima,
gravetos catados,
na beira da alma
.
Meu quintal tem um balanço,
onde brinco com meus sonhos
Minha rede sempre armada,
tem no vento um aliado...
Quando ele chega,
abro a janela da vida ,
e canto uma moda antiga ...
Pra que as estrelas se encantem,
e me apanhem com seu brilho.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Inércia - Por Socorro Moreira


A cantiga da chuva começa a ficar monótona.
Saudades dos meus óculos de sol.
O retiro que se indefine, encharca-se de uma preguiça nostálgica. As distâncias vão instalando valas ... Os abismos aprofundam-se. Nossas próprias águas avoluma-se , e nos asfixiam.
Olho para o céu ... Esse tempo nublado me deixa careta, e desapaixonada.
Meu amor platônico auto-deletou-se !
Meu amor virtual dorme antes e depois de mim.
Meus afetos reais ocupam-se dos seus dramas pessoais ...Não tocam... Se entocam !
A casa de janelas abertas ferrolha a sua porta. A vida consome-se lenta e corrosivamente. O tempo arranca meu velho papel de parede, num vendaval insubmisso. Pesam-me os pensamentos, e essa virada do tempo.
Caras desmotivadas e assaltadas por todas as angústias do mundo, impostam-me máscaras. Alegria sem eco...Tristeza sonora, como um disco arranhado ...Pinga em gotas...Conta-gotas ...Lágrimas da Terra.
Sinto que o os mensageiros de todas as novas estão a caminho. As mudanças aleatórias virão ! Esse aperto no peito explodirá um jeito verde de enxergar a vida ...
São poucas horas de um novo 13 de Abril .
Casa silenciosa , abandonada pelas baratas, pessoas e paixão. Meus tamancos zuadam pela escada interna .Passeiam nos recantos selados e desmemoriados. Lá fora a cidade corre. Meus templos são as calçadas ... Empoçadas , espelham um céu e um momento gris.
Vou e volto para os algodões verde - água dos meus lençóis desarrumados pelo tormento dos sonhos. Pernas cruzadas, olhar embaçado ...
Quando a minha energia voltar vou inverter a posição das telas do meu quarto, polir as lembranças...Inocentá-las de todas as dores... Retirar essa energia senil .
É confortável o silêncio do corpo. O meu silêncio só abre a boca, quando encara a vida , e sente-se feliz !

terça-feira, 7 de abril de 2009

E agora ? - Por Socorro Moreira


Sinto a tristeza do mundo ...Espalhada nas diversas fantasias. Ela é única !
Nosso riso quebra a gravidade do assunto.Tudo em ordem, apesar do caos, provocado pelas chuvas .
Normalmente preciso do tempo , algum dinheiro, umas horas de pensamento , e um mãos à obra com entusiasmo e energia.
Estou sempre reaprontando a vida.Expurgando coisas, substituindo-as.
Dia de sol ... A chuva já inudou nossa terra... Já umedeceu nossos tapetes voadores ... Agora é evitar o mofo.
Ando com vontades de viajar ... De Várzea Alegre à Portugal. Uma parada no Rio ou São Paulo ...Quem sabe um espetáculo , no teatro Rival ?
Descer em Congonhas", esticar até Guarulhos ... Ou pegar o avião Recife X Lisboa , por um fado , e um pastel de nata.
Um dia será ...Um dia próximo, pra costurar meu amor rasgado.
Fase de realocação dos meus mandatos.
Enxugo meu coração, enxugo a casa ... E com todas as águas puxadas à rodo , hidrato meus sonhos.
Meus amores estão de férias , de licença-prêmio , aposentados ...
Solta , corro à toa ...Ninguém me chama !
Bom dia natureza chapante ! Bom dia pé de serra , que o meu olhar eleva e canta !
Chegou abril... O Mês mais perfumado do ano!
E antes de fechar esta página , faço um último reclame :
- Até setembro , meu dono !

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Numa fresta da floresta - Por:Socorro Moreira


Somos locomotivas. Varamos o Planeta com ou sem vagões. Desencarquilhados na vida, adentramos mata virgem, seguros por nossas mãos.
Aqui não escuto as “midis”, cuidadosamente escolhidas. Escuto o trinar dos pássaros, e o farfalhar do vento nas folhas secas. Pequenos insetos, já não me ameaçam... Até emocionam-me !
Nas clareiras, peço à máquina que emperre... Pulemos!
Imagino o desvendar de mistérios.
Sem falas...
Você de safári, olhar juvenil, percorrendo as minhas alças.
Blusa velhinha adquirida numa remarcação, ano passado. Um tanto tímida, ou absurdamente intimidada, passo as mãos nos cabelos, no rosto, nos seios.
Aspiro e sinto o cheiro dos eucaliptos. Cheiro do ar desinfetado, puro, despoluído. O melhor cheiro do mundo vem mesmo de uma fêmea única: a natureza!
Gravetos... Nem preciso catá-los, nem conta-los... Faz parte do cenário. Tão secos...!
Risco e incendeio. Vejo a peleja do fogo no arder e apagar , intermitente.
Senta, e aperta os meus olhos nos teus...!?
Mãos trocam de liberdade com os olhos. Elas no seu exercício pleno, aquietam e incitam.
Escuto o som das águas próximas. Respiro-as, inalo-as, como um ato de renascimento.
Você encara-me de um jeito bobo... É a pureza de todo espanto, quando mira o novo.
Saem palavras, sem papel, sem telas, e sem pincel.
Foi assim... É assim que nos lembrávamos-nos!
E esse rosto de rapaz afogueado?
E essa cara de menina enclausurada?
Aqui estamos... Enfiam, numa fresta da floresta!
Pingo de lua molha a nossa entrega. Teus braços me cercam. Colo-me à alma que meu corpo espera.
E nesse transe amoroso, sinto a música da tua vida, tocando em mim!