segunda-feira, 13 de abril de 2009

Inércia - Por Socorro Moreira


A cantiga da chuva começa a ficar monótona.
Saudades dos meus óculos de sol.
O retiro que se indefine, encharca-se de uma preguiça nostálgica. As distâncias vão instalando valas ... Os abismos aprofundam-se. Nossas próprias águas avoluma-se , e nos asfixiam.
Olho para o céu ... Esse tempo nublado me deixa careta, e desapaixonada.
Meu amor platônico auto-deletou-se !
Meu amor virtual dorme antes e depois de mim.
Meus afetos reais ocupam-se dos seus dramas pessoais ...Não tocam... Se entocam !
A casa de janelas abertas ferrolha a sua porta. A vida consome-se lenta e corrosivamente. O tempo arranca meu velho papel de parede, num vendaval insubmisso. Pesam-me os pensamentos, e essa virada do tempo.
Caras desmotivadas e assaltadas por todas as angústias do mundo, impostam-me máscaras. Alegria sem eco...Tristeza sonora, como um disco arranhado ...Pinga em gotas...Conta-gotas ...Lágrimas da Terra.
Sinto que o os mensageiros de todas as novas estão a caminho. As mudanças aleatórias virão ! Esse aperto no peito explodirá um jeito verde de enxergar a vida ...
São poucas horas de um novo 13 de Abril .
Casa silenciosa , abandonada pelas baratas, pessoas e paixão. Meus tamancos zuadam pela escada interna .Passeiam nos recantos selados e desmemoriados. Lá fora a cidade corre. Meus templos são as calçadas ... Empoçadas , espelham um céu e um momento gris.
Vou e volto para os algodões verde - água dos meus lençóis desarrumados pelo tormento dos sonhos. Pernas cruzadas, olhar embaçado ...
Quando a minha energia voltar vou inverter a posição das telas do meu quarto, polir as lembranças...Inocentá-las de todas as dores... Retirar essa energia senil .
É confortável o silêncio do corpo. O meu silêncio só abre a boca, quando encara a vida , e sente-se feliz !

5 comentários:

Claude Bloc disse...

Socorro,

Procure reler mil vezes esse teu texto. Lindo, lindíssimo! Linguagem literária, perfeita. Imagens sugeridas idem....
Mas deves reler o que vai além das linhas. O teu interior tumultuado. A inércia que deve ser um grito de alerta. Um caminho pautado de silêncios que mais falam do que tua própria alma.
Fica atenta. Pedes socorro, Socorro !
Eis minha mão, amiga!
E meu abraço!

Claude

socorro moreira disse...

E a chuva continua mais forte ainda..."

Existem invernos tenebrosos... Passam , e cedem lugar à Primavera !



Beijo minha amiga !

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Pulando de uma porta a outra.
Seria a inércia inerte em si,
ou o prestes a movimentar-se?

A inércia nunca se bastou,
sempre par do movimento,
não era sua negação,
era o exato condicionante,
para que se rompesse com tal.

E todos dizem: a lei da inércia,
aquilo que existe para ser empurrado.
Mas é isso a que recorre,
a Socorro?

Um olhar de recolha,
dizendo que a chuva se encontra,
predomina, ocupa,
mas ocupa como a inércia,
um empurrão para a primavera.

Socorro: não me oferte tantos cliques no computador,
tenha dó deste sessentão,
um blog por vez.
Vai um por vez.
Que seja duplo,
ade um por vez.

socorro moreira disse...

Do Vale ,

Não existe fila para o sessentão ...
A passagem é livre
A paisagem clara
Quer chova, quer faça sol
Essa idade é estiada !


Quase morri de susto ...
Acharam-me aqui, enclausurada ...
Senti o empurrão...
Uma tormenta , um furacão ...
Mas sobrevivi à tempestade !


Abraços , e obrigada pela visita.

Se esperar um pouquinho, armo uma rede pra ti , e te preparo um baião de dois com pequi.

socorro moreira disse...

Respiro fundo ...
Suspiro feliz...
Palavras entrecortadas...
Por um triz, quase morri !


Agora o riso é rasgado
Depois da chuva ...
Uma cafézinho , um cigarro...
E essa visita ilustre ...
Prendo no espaço...
Prendo, e enlaço !