quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

"Use a IRA , em seu favor " - Escreva uma carta de amor !- Por: Socorro Moreira


Meu bem,


Depois de 25 anos escrevendo memorandos, e em “oitavados”, especializei-me em listas de Supermercados:

- queijo branco

- pão integral, frutas, azeite e uma garrafa de vinho.

Casamento fora do papel, merece carta do amor pensado, escrito, perfumado, e manchado de batom.

(Amassei. Não gostei...)


Vou tentar novamente:


Meu amor,



A noite também chegou por aqui. Já me fez cumprir todos os rituais, antes de dormir... Só falta uma espiada na janela, e fechá-la seguramente, pra que ela não me rapte de ti.

Li alguns textos no blog, deletei e-mails, reencaminhei alguns, abri Windows sucessivos, restaurei artigos, que vi na lixeira. Na falta do fogo para queimá-los, salvei-os!

Procurei-te nos sites de músicas, e Diana Krall deu-me teu recado: Fly Me To The Moon. Depois foi o Chico, que pegou pesado, cantando "Vitrines”... E o Vinícius, que também postou um poema: "Conjugação da Ausente".

Pesquisei sonetos de J.G.de Araújo Jorge... Achei-os melosos demais, e fiz umas trocas... Edu Lôbo com Cacaso, na “Toada”, e com Torquato Neto , no "Pra dizer adeus”.

Chega de ensaios!

Finalizo os prefixos musicais com a música “Amado”, por Wanessa da Mata.

Enfim, agora estamos a sós. Eu e pensamento. Pensamento e papel, em conflito ardente. Sem fundo musical. Silêncio total, para ouvir o coração bater, como os tambores do Salgueiro.

Entro na frequência do teu esquecimento, e te acordo... É hora!

Vem cá... O mar veio para cá. Ele acende os mistérios da serra, quando chega a madrugada. Vamos catá-los um por um, desvendá-los. .. Estou farta de segredos invioláveis.

Lembra do começo, que nunca foi?

Lembra do encontro, que esperou sem chegar?

Lembra dos desvios, arrodeios, e esbarrões, nos atropelos dos sentimentos?

O amor chegou mil anos depois! Quase etéreo , atrevido na pureza, racionando carinho... Mas é tão intenso, e tão lindo , que alimenta, mesmo dormindo!

Fui clara?

Fui anônima, ou indiretamente fácil?

Direto é dizer nesse cantinho de papel, em letras tremulas e pequenas, quase indecifráveis: Adoro você!

Um abraço,

ZenIRA





P.. S. “O amor que nos separa é o amor que nos une”.




Toada
Cacaso
Composição: Edu Lobo / Cacaso



Fiz um verso tão bonito


Que carrego na lembrança


Nunca mais eu vi o mundo


Com meus olhos de criança


Quis prender a quem amava


A corrente se quebrou


A esperança que eu guardava


Era pouca e se acabou


Não conheço mar bravio


Que me faça retornar


Não conheço nenhum rio


Que não corra para o mar


Rio abaixo, rio acima


Meu destino dá no mar


Eu que não sou marinheiro


Eu que nem sei navegar








Me To The Moon
Diana Krall
Composição: Bart Howard



Fly Me To The Moon


Fly me to the moon


Let me play amoung the stars


Let me see what spring is like


On jupiter and mars


In other words, hold my hand


In other words, baby kiss me


Fill my heart with song and


Let me sing for ever more


You are all


I long forAll


I worship and adore


In other words, please be true


In other words, I love you


Fill my heart with song and


Let me sing for ever more


You are all I long for


All I worship and adore


In other words, please be true


In other words


In other wordsss,


I love you


Conjugação Da Ausente
Vinicius de Moraes


Foram precisos mais dez anos e oito quilos
Muitas cãs e um princípio de abdômen
(Sem falar na Segunda Grande Guerra,
na descoberta da penicilina e na desagregação do átomo)
Foram precisos dois filhos e sete casas
(Em lugares como São Paulo, Londres, Cascais, lpanema e Hollywood)
Foram precisos três livros de poesia e uma operação de apendicite
Algumas prevaricações e um exequatur
Fora preciso a aquisição de uma consciência política
E de incontáveis garrafas;
fora preciso um desastre de avião
Foram precisas separações, tantas separações
Uma separação...
Tua graça caminha pela casa
Moves-te blindada em abstrações, como um T. Trazes
A cabeça enterrada nos ombros qual escura
Rosa sem haste. És tão profundamente
Que irrelevas as coisas, mesmo do pensamento.
A cadeira é cadeira e o quadro é quadro
Porque te participam. Fora, o jardim
Modesto como tu, murcha em antúrios
A tua ausência. As folhas te outonam, a grama te
Quer. És vegetal, amiga...Amiga! direi baixo o teu nome
Não ao rádio ou ao espelho, mas à porta
Que te emoldura, fatigada, e ao
Corredor que pára
Para te andar, adunca, inutilmente
Rápida. Vazia a casa
Raios, no entanto, desse olhar sobejo
Oblíquos cristalizam tua ausência.
Vejo-te em cada prisma, refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
E te amo, te venero, te idolatro
Numa perplexidade de criança.

Um comentário:

socorro moreira disse...

Carlos Eduardo Esmeraldo disse...
Prezada Socorro
Quando você citou "25 anos fazendo memorando", pensei: esse cara sou eu? Mas não sou poeta e vi que fiquei mesmo nos memorandos. Gostei muito da sua cronica.

4:19 AM
A.Morais disse...
Diante de tanta beleza literaria, um como eu não tem o que dizer!
Parabens.

7:24 AM
Socorro Moreira disse...
Carlos e Morais,


Fomos burocráticos.Agora somos da prosa ... Com poesia e humor.
Vocês teem algo em comum : transformam o nosso dia , em alegria.


Não perco o riso , quando leio os "causos" de vocês ...


Abraços !
Magali de Figueiredo Esmeraldo disse...
Socorro,
Achei muito bem feita a sua carta de amor, e gostei do título que rima.
Parabéns

Abraços

Magali