segunda-feira, 9 de junho de 2008

Depois do café , um cigarro apagado !- Texto de Gustavo Henrique


Reclamava muito minha mãe logo após ter deixado de fumar. Reclamava de tudo: da comida, que estava, em sua opinião, sem sabor; das bebidas, que deixaram de apresentar o tão sabável líquido; da tevê, que, em sua opinião, deixara de apresentar boas atrações (essa, por sinal, foi a única luz que lhe trouxe o abandono do tabagismo); e de tantas outras coisas que não a incomodavam enquanto fumante. Será tudo isso o preço da ausência de tabaco? Esse tão acromático alimento dos "viciados" torna-os verdadeiros seguidores da fumaça sagrada: uma catarse, exaustão das angústias, que atua como a bebida dos malogrados no amor. Boa analogia ao amor fugaz, o rompimento entre amantes é semelhante àquele entre o "viciado" e o cigarro: as conseqüências que presto eclodem são fulminantes aos que romperam o enlace transiente, mas, após o desatar do torpor, para muitos, ou da profunda melancolia, para outros tantos, o dia volta a apresentar brilho intenso, a comida assume o seu sabor original, as bebidas tornam-se tão saborosas quanto dantes. Quanto ao abandono, promovido por minha mãe, do tabagismo, a única marca boa que permaneceu da fase abusada, logo após o fim da relação com o cigarro viperino, foi a aversão dela à atual grade de programação da tevê aberta. Amores e cigarros: aqueles, às vezes, resultam de boas conquistas, mas estes são aquisições vãs, enlace que deve ser fulgaz, senão prolongá-lo é deveras alargar a angústia no peito.

Poetisa, fica um abraço deste jovem desazado nas letras, que teme os males das doenças escolhidas pelos próprios homens e que, deslizante, tem visitado este teu blogue e, claro, acompanhado tuas poesias.
9 de Junho de 2008 03:06

Um comentário:

socorro moreira disse...

Como não reverenciar este aviso , esta força para os que pitam ?
Obrigada , menino !


Abraços