quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tio Valdir


Tio Valdir do Pai Mané , filho adotivo de Alfredo e Donana (meus avós paternos ).
Ele tinha uma doçura sem par.Ensinou-me Augusto do Anjos, cantou-me em detalhes :"Eu e outras poesias ". Assustou-me com a frase de Augusto,no leito de morte : "Ó Deus , se é que existes , tirai a minha alma , se é que a tenho ".
" A mão que afaga é a mesma que apedreja".Confie, desconfiando, fuja de quem trapaceia , mas não escarre , na boca que te beija. Assim falava meu tio ...A troca é pura delicadeza , e gera sinergia !
Tivaldir ganhava tão pouco, mas assegurava-me uma mesada semanal. Com aquele rico dinheirinho , tinha ingressos no Carrocel , pipocas no cinema , guloseimas , nas bancas de bombons. Tenho uma pena danada , hoje , daque bolso rasgado , generoso .
Ele tinha respostas, na ponta da lígua , para todas as minhas curiosidades ... Pingava sabedoria , na minha cabeça chata !
Um dia , zarpou para São Paulo , por recurso de vida , e nunca mais nos viu .
Em 1981 , conheci Sampa por três dias .Com endereço na mão , e dinheiro contado, peguei um taxi até o ABC paulista. Cheguei naquela casa de operário com o coração aos saltos . Seus olhos azuis platinaram ... choramos, e nos abraçamos , emocionados ! Foi o reencontro da despedida .Morremos de alegria !
Ainda é vivo o mago da minha infância ? Filmes antigos , vida mambembe , palhaços ( os tristes , que detonam alegria ), me fazem lembrar com soluços , a mítica figura do Tio.
Quem sabe não herdei desse cara , a vontade de poetar, instantes prosaicos da vida ?

Nenhum comentário: