segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Rua Dr, João Pessoa - Anos 60- Por Socorro Moreira




De volta ao passado ...
Rua acima, rua abaixo ...
Estou pisando nos ladrilhos da Dr. João Pessoa. Da Casa de Dona Benigna até a Praça Siqueira Campos... justo de onde , a troca de olhares entre os brotos, nasciam grandes amores.
A casa permanece do mesmo jeito.: jardim encantando um santuário. A casa das cinco mulheres : Dona benigna, Dona Anilda, Dona Alda e Dona Almina. ...e uma ruma de meninos ( os filhos de Dona Almina), isso sem contar com toda a turma dos primos. Boas energias, boas prosas , bons cuidados. Muro com muro , morava Dona laís. Mais uma das Arraes... Era bela. Cabelos negros, pele clara, olhos cor de esmeralda. Mãe de Everardo Norões ( notável escritor), "Donaciano" e Fernando .
Depois , a casa da Dra. Josefina. Um casarão sombrio...Meus olhos lá nunca penetravam ...Parecia-me que as luzes estavam sempre apagadas .Mas era uma personalidade que me intrigava. Uma médica, nos anos 60 era coisa rara.
Lado oposto , moravam , numa casa minúscula, eu e a minha família. Dormíamos uns em cima dos outros... aperto em todos os sentidos. Dias de chuva , a casa ficava inundada. Boiavam , os nossos utensílios... Eles sabiam nadar , gozar o prazer de um banho de chuva. Meu pai adormecido , nos seus sonhos de boemio , conseguia nos lembrar: Cuidado com o meu sapato de cromo alemão... Enquanto isso as mulheres adultas ficavam puxando e enxugando as águas.
Parede com parede , Dona Irismar e Seu Antonio; Seu Luiz (enfermeiro) e Dona Albertina ; Dona Zeneuda ( prima de Dr Aníbal e Letícia Figueiredo).Tinha quatro filhas : Antonieta ( a mais bela), Elisabete, Ermira e Elisa... Vida de viúva...Modesta, parcimoniosa, mas feliz !Na esquina , a pensão Hermes. Janelas e portas abertas. Mesas bem forradas, ervas azeitadas ...Viajantes, forasteiros... e o cheirinho dos temperos.
Praça Juarez Távora , Escola Técnica de Comércio , sob a direção do professor Pedro Felício Cavalcanti. Movimento constante. Quem não podia estudar no Colégio Diocesano ou no Santa Teresa, formava-se lá... E naquela Instituição , muita gente se instruiu , e conquistou seu lugar. Berço natural da Faculdade de Economia do Crato.
Até chegar na Praça Siqueira Campos, a gente tinha que pisar na calçada de Dr. Meudo, casa de Dr. Aníbal, Seu Eunício Dantas , Armazém Recife , Alfaiataria de " Rivadave ", consultório de Dr. Derval Peixoto, sobrado de Joaquim Patrício ou seria de Antonio Luiz ? Armarinho dos Vilar, Casas São José ( ainda permanente...ainda vende chapéus); Livraria de Seu Ramiro Maia. Ronald no atendimento. Meu olhar a cobiçar livros, notadamente ,os Romances; Tipografia Cariri de Seu Raimundo Maia e Dona Conceição: Casa Vênus, Casa Abraão, Casa Alencar, Livraria Católica de José do Vale e Vieirinha... ( aposto que viviam por lá , Do Vale e Zé Flávio , que ainda eram meninos) ; Ernani Silva , "Sal Míneo ", Anísio Calçados...e O Grande Hotel.
Lado oposto , a partir da Pça S.Vicente, lembro da relojoaria Nonato, Casa do Pintor, Ótica aonde Sofia ( irmã de Maildes Siqueira ) trabalhava; Tércio Vidraçaria ( ainda no mesmo lugar, e do mesmo jeito... ! A Babilônia de Wilson , sobrinho de Cícero Coló, Casas Pernambucanas, Banco Caixeiral... Seu Pedro , Augusto Gonçalves( meu padrinho de batismo), Ésio Braga...Na memória, ainda trabalham por lá; A Cratense de Seu Euclides Lima Barros e Dona Neném ; Juvêncio Mariano, Loja Azteca, que calçava a nossa elegância ; Thomaz Osterne de Alencar... e a praça !
A praça, a Frigidaire, Bantim e o Cassino... Essa rua era o nosso Shopping, nosso passeio público, nossa vitrine, nossas luzes de néon, nosso caminho !



* Não confiem plenamente , na memória de uma menina. A intenção é atiçar lembranças , e torná-las mais completas. Acrescentem. Cada nome citado , merece um conto !


5 comentários:

Armando Rafael disse...

Cara Socorro:
Como você escreveu:” Não confiem plenamente , na memória de uma menina. A intenção é atiçar lembranças , e torná-las mais completas. Acrescentem. Cada nome citado , merece um conto !”, permita-me algumas observações:

- O segundo nome do filho de Laís Arraes/Plínio Norões é DONACIANO, jornalista aposentado de “O Globo”, residente no Rio de Janeiro;
- Dona Elisa ( creio que era prima e não irmã de Dr Aníbal e Letícia Figueiredo e J. de Figueiredo Filho) tinha uma filha chamada ERMIRA, que casou com Zé Vicente, craque de futebol de salão e depois funcionário do Banco do Brasil;
– Não é "Salminho ", é Sal Míneo, para lembrar o famoso astro de Hollywood...
– A “ótica onde Sofia trabalhava” devia ser a Ótica Caselli...
– Wilson, dono de “A Babilônia”, era sobrinho de Cícero Colo. Wilson era irmão de Tonton e de outro “Coló”, assassinado em 1970, salvo engano, também do Banco do Brasil...Lembro-me que alguém me disse que antes de Coló falecer, em meio ao atendimento médico, ela dizia: “Esta vida é uma mentira...”
– A Cratense de Seu Euclídio Lima Barros e Dona Neném ficava no lado oposto, depois da Casa Vênus de Luiz Américo e antes da Casa Alencar;

Armando Rafael disse...

ERREI,
realmente A CRATENSE, no início dos anos 60 ficava vizinho a Sapataria São Francisco do Sr. Costa. Só depois é que passou para o lado oposto. MEA CULPA, MEA MAXIMA CULPA...

socorro moreira disse...

Valeu, Rafael ! Valeu mesmo. Vou colar seu comentário à postagem
inicial. Concordo com todas as suas correções.
Seu Cícero era tio de Wilson, Edmilson, Tonton, Coló, Cléa, Isa (
casada com Antonio Caçula), Saturnino ... Dona Sofia era a mãe. E o
pai, seria dono da primeira casa "A Ferragista" , que ficava na Rua
Santos Dumont ? Lá vendiam-se parafusos...
O nome do filho de Dona Laís foi colocado entre aspas, tendo em vistas
a minha dúvida (esclarecida por ti).
Dona Elisa era mesmo prima de Dr. Aníbal.
Existiu uma loja de seu Euclides , em dois ou três pontos do
Comércio. A Cearense, A Cratense... Duas na Dr. João Pessoa e uma na
Bárbara de Alencar , perto do armarinho de seu Sá.

Corretíssimo o nome "Sal Míneo". Ele era ator e cantor. Como criança
, só memorizei o som da palavra.


Adorei passear com você por esta rua que sustentou meus passos "pra
lá e pra cá...."( como diz um poema de Roberto Jamacaru).



Abraços

socorro moreira disse...

A.Morais disse...
Eita tempo bom. Quanta saudade. Parabens pela memoria prodigiosa.


Socorro Moreira disse...
A.Morais,
Saudades da nossa Várzea Alegre.
CREVA, tertúlia na casa de Odalice e Seu Luiz Próto... Festa de São Raimundo, Carnaval, volteadas na praça, tijolo de leite, pão-de-ló com erva doce, cuscuz de arroz, tapioca com amendoim , piquenique e forró nos sítios...

Haja renúncia , pra ser feliz ,depois de umas férias , naquela terra !
Viva o algodão !

1:38 PM
Claude Bloc disse...
Socorro,

Esta viagem no tempo fala além da memória... além das lembranças.
Fala de você, de suas vivências, de suas emoções, de uma menina ligada na vida, de uma mulher movida pelo amor, pela sensibilidade...
Cativante!

Veja o que já disse Drummond:

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão

Ficarão deveras, mas não necessariamente findas, pois que lembradas e lindamente vívidas no nosso coração!

Abraço,

Claude

3:35 PM
magali disse...
Oi Socorro,
Parabéns pela excelente memória.
Lendo seu texto senti muita saudades de meus avós, de meu pai, dos amigos. Lembrei também das nossas brincadeiras, você, minhas primas, principalmente, Elisa e Ermira, que eram as mais novas. Pulávamos corda, brincávamos de macaca (amarelinha).O nome da mãe de
Antonieta, Elisabeth, Ermira e Elisa, era Zeneuda, não Elisa. Zeneuda era prima legítima de papai.A minha avó mãe de papai se chamava Emília e era irmã de Elisa, mãe de Zeneuda. Esta trabalhava na Famácia Central. Acho até que sou sua parenta pelo lado da minha avó paterna. Abraços.

3:40 PM
Socorro Moreira disse...
Claude,


Você arrasa...
quando escreve , quando conta, quando canta, e quando fala.
Voz do coração
terna e baixa
cativa, atiça ,embala !

4:40 PM
elmano rodrigues pinheiro disse...
Socorro.
Eita Várzea Alegre que toca o coração.
Nas minhas passagens , ficava a admirar a beleza completa de Odalice e Dayse, dois diamantes bem lapidados, que essa cidade guardava com carinho.
São essas lembranças que guardamos de pessoas tão especiais, entre outras, que fazem da vida um bom arquivo de belas histórias.

6:44 PM
jair rolim disse...
Socorro
Um forte abraço
Acho que no quarteirao antes de chegar na casa de Ernani Silva tinha a casa de Dr. Elisio Gomes de Matos Figueiredo e lá ficava seu consultorio. Pena que voce nao tenha chegado na Casa dos Leões que ficava bem defronte a Praça Siqueira Campos. Ela foi, infelizmente, vendida pelo meu pai e posteriormente demolida. Apagando assim um ícone da cidade do Crato.
Jair Pinheiro Rolim

9:42 PM
Socorro Moreira disse...
Elmano,
E tu conhecestes as meninas ?
Eram lindas!
Sempre esqueço o quanto Farias Brito fica perto de Várzea Alegre.
As vezes a gente viajava pela serra de São Pedro. Estrada esburacada... Ficava ainda mais longe, viajar pra V.Alegre.
Mas valia a pena chegar ...
Quando retornei anos depois, passava na frente da tua casa, em Farias Brito. Olhava de soslaio , procurando a foto pintura do teu pai...
Crato x V.Alegre... muita história pra contar !



Um abraço , amigo querido !

10:26 PM
Claude Bloc disse...
Socorro,

Um Pretexto? ou um Pré-texto?

Você arrasa...
-Você abrasa
quando escreve , quando conta, quando canta e quando fala.
-Quando o silêncio já não cala...
Voz do coração
-Voz da emoção
terna e baixa
-quase silente, transparente
cativa, atiça ,embala !
-quando canta e quando fala...

Abraço,

Claude

10:43 PM
Socorro Moreira disse...
Eita Claude...Tu és fera demais. Fera felina...Nunca ferina...Doce amiga...Talento em cada risco. Adoro copiAR-TE!

10:48 PM
Claude Bloc disse...
Socorro,

A (P)ARTE

Aparte a parte, em partes
E terás ARTE

Abraço,

Claude

11:48 PM
Carlos Eduardo Esmeraldo disse...
Socorro
Com o prazer de participar das lembranças por você tão oportunamente suscitadas, tenho a impressão que a Casa do Pintor, foi dos anos 70 ou 80. Mas não posso afirmar com certeza, pois a partir de 1964 sai do Crato, retornando somente nas férias. Lanço-lhe minha dúvida. O Tércio Morais, um dos melhores relojoeiros do Crato e a quem confiava o meu “LANCO”, tinha sua oficina na Casa Tamoio de Expedito Bezerra, o pai do Dr. Brito. Logo depois da loja "A Cratense" lembro do consultório do Dr. Décio, onde ele retirou um caroço de milho do meu ouvido. A semente entendeu de germinar quase rebentando e deixando surdo um menino de 5 anos. Nos altos da loja de motores de Thomaz Osterne ficava o consultório do meu tio Fábio. Morria de medo de ir lá, pois depois era injeção na certa. Logo abaixo do consultório do Dr. Teles e do Dr. Eberth tinha a Sapataria Modelo do seu Antonio Mariano. Parabéns pelas lembranças! Voltei no tempo. Mas só para lhe lembrar, a Rua Dom Quintino continua sendo a minha rua.

5:46 AM
A.Morais disse...
Socorro e Elmano.

Uma da Varzea-Alegre. Terminada a festa no Creva antigo atras da prefeitura, Nilo Sergio, Kleber Diniz e Ze Gatinha se dirigem ao Bar do Ze de Zuza, que já estava de portas baixas, 04h da manha. Os fregueses pedem para entrar pois desejavam beber mais uma gelada e jogar sinuca. A despesas da sinuca era paga por tempo que um relogio velho na parede marcava. Começou a bebedeira e o jogo. Ze de Zuza deu o cochilo e Ze Gatinha foi no relogio a voltou o ponteiro uns 20 minutos. Outro cochilo e quando o Ze Gatinha voltava o ponteiro foi fragado por Ze de Zuza que Perguntou: Meninos se eu der outro cochilo desses quanto é que eu vou ter que pagar a voces no final?

6:09 AM
Socorro Moreira disse...
Magali," Zeneuda "... pronta pra corrigir !
Você está no cenário da Dr.João pessoa... Sem dúvidas !


Um abraço de saudades.



Carlos, carlos...
Qualquer dia, vamos contar um "causo" !
Aliás a proposta , quando falamos das nossas ruas é compilar informações adicionais. As suas são ótimas. Senti necessidade de reeditar tudo !


Abraços.

6:43 AM
Socorro Moreira disse...
Morais,


Pode parar com esse jogo de giz...
Por conta dessas marcas, tenho o coração sinucado !

Adoro o humor do povo de V.Alegre. Humor inteligente. Leveza , no tempo !


Abraços.

6:46 AM
Socorro Moreira disse...
Carlos,
Esqueci de perguntar-te...
De quem é a Miguel Limaverde ?
Cadê Rejane , Alfredo, Tarcisinho...???

6:48 AM
Carlos Eduardo Esmeraldo disse...
Socorro
Infelizmente a Rua Miguel Lima Verde não existe mais. O que havia de belo foi criminosamente demolido.

7:13 AM
Socorro Moreira disse...
Carlos,

A Casa do Pintor foi fundado em 1964.Inicialmente vendia peças para bicicletas.Sociedade do meu Tio Luiz Gomes de Oliveira e meu pai.

Posso te pedir um favor ?
Vamos reeditar esse texto ? Incluir as informações do Armando, as tuas e as de Magali...
Você tem carta branca.
Poderíamos também nominar os filhos de Dona Almina : Zé Almino, Joaquim, Maria Edite, Maria Amélia, Antonio César, e tem ainda outra menina ...
Acho que tenho preguiça de fazer pesquisa. Sou avoada...Vou lembrando e escrevendo...Não sou escritora nata.(Risos).

socorro moreira disse...

irma disse...
Não sabia Socorro,que o nosso querido Augusto Gonçalves era seu PAdrinho...
Uma figura, um homem de bem. Não fazia falta nas rodas da casa de D.Ivone e de Joãozinho.
PArabéns pelos artigos e pela ideia de reviver ruas,pessoas e nossa cidade,Crato querido.

Socorro Moreira disse...
Irma querida,


Ele era meu parente e padrinho de batismo. Seu avô e Augusto Gonçalves eram muito amigos da minha mãe.
Ele escolhia com tanto carinho , os meus presentes de aniversário...E mamãe fazia sempre os bolos e doces, que ele mais gostava. Sempre alinhado, elegante, impecável , na sua solteirice. Uma alma nobre, sem dúvidas !


Grande abraço.