quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A Rua das Laranjeiras - Anos 60 - para Hamilton Lima Barros


(Informações pautadas na memória de uma menina, que apenas nasceu naquela rua , e passeou suas alpercatas , nas calçadas. Imprecisão histórica ... O resumo de uma verdade ilimitada !)

Antes da Pedra Lavrada , eu nasci nas Laranjeiras , hoje José Carvalho .
No mesmo pedaço, aonde moravam Zé Cirilo , Salvina ,os Libórios , os Parentes , os Cardosos , e aonde ficava o Círculo Operário ( que virou Escola, Cinema , salão de eventos , acolhendo discursões de base política /social).
A rua começava com a Padaria de Seu Cirilo. Lá a gente escolhia o pão sovado ou aguado.Comíamos com nata batida do mais puro leite de vaca. Encostada à padaria viviam os seus familiares : Zenira , Zenilda , Zildenir , Francisco José( que foi meu colega no Instituto S.Vicente Férrer). Naquele Instituto , Zenira deu uma das suas grandes contribuições educacionais. Tinha uma energia linda ,vibrante,artística ! Gritava as nossas quadrilhas de S.João de uma forma inconfundível. Mudou tão pouco ,ao longo dos anos ...
- É a mesma Zenira !
Numa das casas seguintes, Gilvanda, primeira esposa do Compadre Zé Cirilo ( como o chamava meus pais) ,criava a sua prole. Tia Fantina ( irmã da minha avó Donana) e Gilvanda reinavam na organização da casa. Zé Sérvio, Grijalva , Eugenia , João Antonio e Jorge já haviam nascido . Gilvanda confeitava os nossos bolos de aniversário. Sua casa tinha gosto de festa : limão glacê ! Zé Cirilo entendia tudo de eletrônica , e trabalhava na Rádio Educadora ,desde a sua fundação.
Mais na frente , a casa de Mário Oliveira ( o dono do Cine Cassino) casado com Mildred ,filha de Tia Fausta. Casa glamurosa. Mildred trazia das telas de Hollyood o astral do cinema. Tia Fausta era apaixonada por perfumers franceses , e tinha uma bela coleção , em miniaturas . Foi lá que Miriam Magda completou seus 15 anos. Uma festa de arromba , que eu não tive o prazer de comparecer , pela pouca idade ( menos de 15 anos). Mas eu assisti do meu jeito...!
Na mesma calçada , os Libórios . Salete , a musa maior : atriz e bailarina !
Parede com parede , o salão de beleza de Dona Estela Parente. Frequentei aquele espaço , pela primeira vez , quando contava 4 anos.Cismei de cortar os meus dóceis cachos ,irrefletidamente ... e ficou horrível ! Minha mãe pegou-me pelo braço , e conduziu-me até lá. Frisaram meu cabelo para consertar o estrago. Sai de cara redonda , cabelos curtíssimos , apipocados e com cheiro de queimado. Perdi naquele dia ,qualquer possibilidade de beleza romana , até os nossos dias. Na extensão do salão , a residência dos Bragas. Que menina da época não namorou com um deles ? Ésio, Helder, Élcio , Hélio ...Nem eu , escapei à regra !
Em frente morava Marta de Salvina.
Salvina , a mãe de metade das crianças , que vinham ao mundo, no Crato. Fôra enfermeira do Dr. gesteira, e muito com ele aprendera !
Atravessando a rua , tinha ( e ainda hoje existe) a ouriversaria do Seu Teophisto Abah. Grande artesão ,amigo do meu avô Alfredo Moreira Maia ( primo de Emília Moreira - avó da minha amiga Magali) e do Sr. Júlio Saraiva. Dizem as boas línguas , que não existiam homens tão integros e habilidosos , quanto aqueles três. Era um trio famoso !
Na sequência , os fundos do Moderno, propriedade de Seu Macário ,por onde escorria meio mundo de pessoas, depois das sessões de cinema . A casa de Tia Pigusta ( modista famosa) , os Brizenos , os Duartes , Seu Euclides Lima Barros e Dona Nenê. Ali , Hamilton se achava !
No mesmo cinturão , a casa de Dedé França , Zeba , Dona Zélia ( mãe de Nilo Sérgio ), e a Sub-Estação , que gerava energia elétrica para toda a cidade ( antes da luz de Paulo Afonso).
No quarteirão seguinte , depois do Beco de Pe. Lauro , a sanfona genial de Hildelito Parente e um monte de irmãos : mais novos , mais velhos e da minha idade !
Uma pequena concentração dos Honor e Brito ...
O casarão de Seu Pergentino ( Pai de Dr. Eldon Cariri , Dona Eunir ( mãe da Bela Piinha).
Do outro lado da calçada , a casa de Salgado , que nos assustava com seus vôos acrobáticos... Um dia a morte o assutou... Mas,pra que lembrar coisas tristes ?
E a minha doce Mãe Candinha ?
Quem nunca provou da chupeta de umburana e mel de abelha , que naquela casa vendia ? Pois aquelas mulheres eram minha bisavó e minhas tias : Amália e Rosália. Lá tinha um papagaio que falava e repetia , tudo que dizíamos.
"Tem café , minha Rosa "? Era o verdinho, imitando a voz de Vicente Cordeiro , meu tio por afinidade... Cego na velhice , mas compensado por um ouvido privilegiado. Tocava acordeon , gaita , realejo... e disso , eu também gostava !
Depois , a rua assumia outro nome...
Com preguiça não chego nesta carreira , na casa de Edméia Arraes...

-É outra circunferência , como diria meu amigo Blandino !

6 comentários:

socorro moreira disse...

Carlos Esmeraldo disse ...

Prezada Socorro Moreira
Você me fez voltar aos anos de 1954, menino de recado, por ser o mais novo e único menino na casa, indo comprar pão na padaria do seu Cirilo, pai de um grande amigo, o Zilberto. Parece até que estou vendo todo aquele pessoal: O ceguinho seu avô tocando a sanfona, a calçada do seu Zé Honor e a admiração pelo menino Hildelito. Certa vez vi o Luiz Gonzaga tocando com Hildelito. Morava na rua mais de cima, a Teófilo Siqueira. Pois é, você e Magali ainda são primas. Lembro que o dr. Anibal sempre dizia que era primo da Mary Ane, sua prima e minha cunhada. Obrigado pelas emoções que vocêe despertou em mim. Um abraço.

6:41 PM


Socorro Moreira disse...
Carlos e Magali ,
os antigos do Crato ,quando não são parentes são afins !
Temos muitos fios em comum ... porisso , a teia !


Fico muito feliz com esse encontro.


Grande abraço nesse casal, que o amor juntou !

socorro moreira disse...

José Nilton de Figueirêdo disse...
Esta evocação da Socorro cala fundo no coração dos quanto viveram e conviveram no Crato de antanho. Memória viva, memória da família, memória coletiva sem filtros e preconceitos. Uma menina que se povoôu em meio a gentes queridas num ambiente de paz, amor, solidariedade, num mundo ritualizado pela reciprocidade.
A generosa Socorro Moreira me fez, agora, ir até a estante buscar o livro do eminente Dr. Emídio Lemos que fala dessas coisas humanas e belas que ela reteu na lembrança e que agora compartilha com a gente.
Parabéns, poeta !

9:01 PM


Dihelson Mendonça disse...
Mas que memória fantástica, hein Socorro? Ah! se eu tivesse uma memória dessas...

Ah!

Bjus!

P.S - Engraçado como vc trabalha como uma verdadeira formiguinha, colecionando tudo o que o pessoal escreve sobre você para seu Blog. Acho isso realmente incrível! trabalho de formiga trabalhadora.

Bjus de novo

Dihelson Mendonça

Claude Bloc disse...

Agradeço emocionada pelas coisas boas que através de você estou vivendo... Maravilha de texto, menina!

Dihelson Mendonça disse...

Claude,

Escrevi uma mensagem para você lá no Blog do Crato nessa mesma postagem da Socorro, menina!

Bjus!

Dihelson Mendonça

socorro moreira disse...

Claude Bloc disse...
Socorro, fui hoje atacada de um saudosismo intenso. De um lado o texto de Hamilton, do outro o teu fechando o ciclo. Emoções à parte, lágrimas enxugadas, me sinto no meio daquilo que sempre desejei: estar entre os de Crato e senti-los a cada vírgula, a cada reticência. Não precisa reiterar sobre como é preciosa e prestigiosa a sua memória. Alegro-me de tê-la (re)encontrado, pois é através de você que estou tendo a oportunidade de rever essas alegrias todas pelas quais estou vivendo... Obrigada minha amiga!

jose hamilton disse...

Considero este evento a mais tocante de todas as homenagens. Seu Euclides e Dona Neném da A Cratense... Rua José Carvalho, 118... Somente chamando mestre Azul, para formar a garbosa Banda de Música, com Vicente Terto na Tuba, para entoarmos juntos o hino do Crato, num êstase coletivo de saudade e amor vivido. Socorro, pela primeira vez na vida, faltam palavras a este emocionado e veterano orador oficial da UEC.
José Hamilton de Lima Barros