sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pequenos adeuses - Por Socorro Moreira


Todos os dias eu digo adeus às pequenas coisas.: temperos vencidos, vestido perdido, meias furadas, recibos de contas antigas, bilhetes de amor, poemas inacabados, brincos e colares quebrados , camisola manchada de tinta... Um dia , tudo foi novo . Foi escolhido na prateleira da loja, foi pago, foi tirado da caixa. Acompanhou um tempo da minha vida , até que, cumprido o seu destino , foi expurgado dos meus guardados. É assim , tudo enfim !
Só não passa, nem estraga o amor que não foi consumido. E o que não passa nunca traz felicidade. Apenas umas alegrias vividas pela metade. É tão fugaz o instante que decide não ser real. Ele morre antes de viver... Ele morre por não viver.
Coloquei ordem nos meus CDs...Quase obsoletos. Impossível escutá-los mais uma vez...São tantos ! E o tempo não deixa. O tempo impõe TV, novela da Globo, telefonema dos amigos, dormir, sonhar....A música está quase perdendo o seu lugar. Já não consegue inspirar uma saudade. Estou evitando trazer de volta, lembranças que já se despediram. O novo é imperfeito. Falta o entusiasmo de concretizá-lo. E ele fica assim , na minha cara ...Ironicamente, mostrando rugas, e o olhar sem sonhar.
Hoje espanei o pó dos livros relidos, dos versos escritos, das roupas de festa com cheiro de perfume (que ainda restam nos frascos guardados). Faço doações de peças que já não se encaixam em mim... Solto-as no chão
O tempo, literalmente, levou o que eu tinha e o que eu não tinha.
Nada é nosso. A vida é dona de todos os nossos bens . Quisera que a alma fosse imortal...
- Pelo menos ela seria minha !



4 comentários:

Domingos Barroso disse...

A cada adeus,
minha querida Socorro,
tu eternizas na tua alma
o que já é infinita e sem mancha -
a poesia nos teus olhos.

Um carinhoso abraço.

socorro moreira disse...

Essa eternidade eu encomendei pra viver as boas amizades !

Um beijo, Domingos.

Edilma disse...

Minha amiga

Ao ler estes ultimos textos, é como descobrir a minha propria alma.Os cabelos não teem mais a cor natural, o semplante se esconde na maqueagem e os olhos precisam de contornos para simular um viço novo. O tempo passou e não me dei conta, pensei em ser jovem novamente, alimentando dentro do meu proprio ego a ousadia de sonhar. Que fiquem os objetos para tras, pois depois de tudo ja não servem mais. Fazem parte de uma historia contada e inventada num anseio de amar...
Me identifico com você... beijo !

socorro moreira disse...

Você é uma mulher belíssima...E belíssima foi em todas as idades. As nuances da tua alma revelam para sempre essa beleza.

Um abraço , minha amiga .