sábado, 11 de julho de 2009

Flores de Laranjeira - Por : Claude Bloc



Pareces nem me reconhecer quando entro. “Cheguei”, e é tudo quanto consegues dizer porque a emoção te prende a voz. Prendes-me também num abraço interminável… Permaneço impassível. Não consigo pensar, mover-me, retribuir teu gesto desolado e amarrotado de saudade. Sempre quis te encontrar, simples assim. Sempre quis. Te busquei na memória tantas vezes e outras tantas colhi teu sorriso (quando perdia as esperanças) nos escritos do meu diário.
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Lá tu sempre estavas. Belo e amigável como nas horas em que te vinculei como fogo indelével às minhas lembranças. Enfim, chegaste. E ali permanecemos, juntos, envoltos no aroma de flor de laranjeira que, do quintal, invadia a casa. Os pardais nos tocaiavam sem entender a novidade.
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O chão, então, pareceu cobrir-se de um tapete perfumado de flor de laranjeira. Passeei sobre ele. Os ramos das laranjeiras estavam agitados, agitados os sentimentos que me perpassavam. Lembro-me de tudo. De minhas vãs tentativas de te encontrar. Repeti tantas vezes o teu nome, entrelacei-o ao meu tentando sentir tua presença. Mas o tempo e a vida nos afastaram. E tu não conseguiste separar as coisas no seu devido tempo. Não soubeste acolher minhas palavras de desamparo, nem te esquivar dessa vida que levas encerrado nos espaços vazios de tua alma.
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E no entanto cá estou, na penumbra à tua sombra. Desce sobre mim uma chuva de pétalas. Flor de laranjeira. As árvores oferecem os frutos carnudos aos nossos olhos…alguns nos ramos mais altos. Não consigo alcançá-los. Então pousas na minha página em branco. E novamente deixas escrito mais um verso. Tu e eu somos um só, a poesia, o poema.
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Por Claude Bloc

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